REDAÇÃO
CAPÍTULO VIII
DESCREVER, NARRAR, DISSERTAR
ALDRY SUZUKI AMO VOCÊS !!
1. Modalidades
redacionais
Tudo o que se escreve é redação. Elaboramos bilhetes,
cartas, telegramas, respostas de questões discursivas, contos, crônicas,
romances, empregando as modalidades redacionais ou tipo de composição:
descrição, narração ou dissertação. Geralmente as modalidades redacionais
aparecem combinadas entre si. Seja qual for o tipo de composição, a criação de
um texto envolve conteúdo (nível de ideias, mensagem, assunto), estrutura
(organização das ideias, distribuição adequada em introdução, desenvolvimento e
conclusão), linguagem (expressividade, seleção de vocabulário) e gramatica
(norma da língua).
2. Narrar
– descrever – dissertar
A narração é marcada pela temporalidade; a
descrição, pela espacialidade; a dissertação, pela racionalidade.
O redator que narra trabalha com fatos; o que
descreve, com características; o que disserta, com juízos.
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O narrador conta fatos que ocorrem no tempo, recordando,
imaginando ou vendo... O escrevedor caracteriza entes localizados no espaço.
Para isso, basta sentir, perceber e, principalmente, ver. O dissertador expõe
juízos estruturados racionalmente.
A trama narrativa apreende a ocorrência na sua dinâmica
temporal. O processo descritivo suspende o tempo e capta o ente na sua
espacialidade atemporal. A estrutura dissertativa articula ideias, relaciona
juízos, monta raciocínios e engendra teses.
O texto narrativo é caracterizado pelos verbos nocionais
(ações, fenômenos e movimentos); o descritivo, pelos verbos relacionais
(estados, qualidades e condições) ou pela ausência de verbos; o dissertativo,
indiferentemente, pelos verbos nocionais e/ou relacionais.
Narra-se o que tem história, o que é factual, o que
acontece no tempo; o narrador só conta o que viu acontecer, o que lhe contaram
como tendo acontecido ou aquilo que ele próprio criou para acontecer.
Descreve-se o que tem sensorialidade e, principalmente,
perceptibilidade; afinal, o descrever o que se vê ou imagina-se ver, o que se
ouve ou imagina-se ouvir, o que se pega ou imagina pegar, o que se prova gustativamente
ou imagina-se provar, o que se cheira ou imagina-se cheirar. Em outras
palavras, descreve-se o que tem linhas, forma, volume, cor, tamanho, espessura,
consistência, cheiro, gosto, etc. Sentimentos e sensações também podem ser caracterizados
pela descrição ( exemplos: paixão
abrasadora, raiva surda).
Disserta-se sobre o que pode ser discutido: o dissertador
trabalha com ideias, para montar juízos e raciocínios.
3. Descrever
A descrição procura apresentar, com palavras, a imagem de
seres animados ou inanimados – em seus traços mais peculiares e marcantes -,
captados através dos cinco sentidos. A caracterização desses entes obedece a
uma delimitação espacial.
O quarto respirava todo um ar triste de desmazelo e
boemia. Fazia má impressão estar ali: o vomito de Amâncio secava-se no chão,
azedando o ambiente; a louça, que servia ao último jantar, ainda coberta pela
gordura coalhada, aparecia dentro de uma lata abominável, cheia de contusões
e roída de ferrugem. Uma banquinha, encostada a parede, dizia com seu frio
aspecto desarranjando que vela, cujas ultimas gotas de estearina se
derramavam melancolicamente pelas bordas de um frasco vazio de xarope Larose,
que lhe fizera as vezes de castiçal.
(Aluísio
Azevedo)
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4. Narrar
A narração
constitui uma sequência temporal de ações desencadeadas por personagens
envoltas numa trama que culmina num clímax e que, geralmente, esclarecesse no
desfecho.
Ouvimos passos no corredor: era D. Fortunata. Capitu
compôsse depressa, tão depressa que, quando a mãe à ponta, ela abanava a
cabeça e ria. Nenhuma contração de acanhamento, um riso espontâneo e claro.
Que ela explicou por estas palavras alegres:
-
Mamãe, olhe como este senhor
cabeleireiro me penteou; pediu-me para acabar o penteado, e fez isto. Veja
que tranças!
- Que tem? Acudiu
a mãe, transbordando de benevolência. Está muito vem. Ninguém dirá que é de
pessoa que não sabe pentear.
- O quê,
mamãe? Isto? Redarguiu Capitu, desfazendo as tranças. Ora, mamãe!
E com um enfadamento gracioso e voluntario que às
vezes tinha, pegou do pente e alisou
os cabelos para renovar o penteado. D.
Fortunata chamou-lhe tonta, e disse0lhe que não fizesse caso, não era nada,
maluquices da fila. Olhava com ternura para min e para ela, depois, parece0me
que desconfiou. Vendo-me calado, enfiando, cosido à parede, achou talvez que
houvera entre nos algo mais que penteado, e sorriu por dissimulação...
(Machado
de Assis)
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5. Dissertar
A dissertação consiste na exposição logica de ideias
discutidas com criticidade por meio de argumentos bem fundamentados.
Homens e livros
Monteiro Lobato dizia que um pais se faz com homens
e livros. O Brasil tem homes e livros. O problema é o preço. A vida humana
está valendo muito pouco, já as cifras cobradas por livros exorbitam.
A notícia de que uma mãe vendeu o seu filho á
enfermeira por R$ 200,00 em duas prestações, mostra como anda baixa a cotação
da vida humana neste país. Se esse é o valor que uma mãe atribui a seu
próprio filho, o que dizer quando não existem vínculos de parentesco. De uma
fútil briga de transito aos interesses da indústria do tráfico, no Brasil,
hoje, mata-se por nada.
A falta de instrução, impedindo a maioria dos brasileiros
de conhecer o conceito de cidadania, está entre as causas das brutais taxas
de violência registradas no país.
Os livros são, como é obvio, a principal fonte de
instrução já inventada pelo homem. E, para aprender com os livros, são
necessárias apenas duas condições: saber lê-los e poder adquiri-los. Pelo
menos 23% dos Brasileiros já encontram um obstáculo intransponível na
primeira condição. Um número incalculável, mas certamente bastante alto,
esbarra na segunda.
Aqui, um exemplar de uma obra de cerca de cem páginas
sai por cerca de R$ 15,00, ou seja, 15% do salario mínimo. Nos EUA, uma obra
com quase mil páginas custa US$ 7,95, menos da metade da brasileira e com 900
páginas a mais.
O principal fator para explicar o alto preço das
edições nacionais são as pequenas tiragens. Num pais onde pouco de lê, de
nada adianta fazer grandes tiragens. Perde-se, assim, a possibilidade de
reduzir o custo do produto por meio dos ganhos de produção de escala.
Numa aparente contradição à famosa lei da oferta e
da procura, o livro no brasil é caro porque o brasileiro não lê. Vencer esse
suposto paradoxo, alfabetizado a população e incentivando-a a ler cada vez
mais, poderia resultar num salutar processo de queda do preço do livro e
valorização da vida.
U pois se faz com homens e livros. Mas é preciso que
os homens valham mais, muito mais, do que os livros.
(Folha de S.Paulo)
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Observações finais:
Na narração
encontramos traços descritivos que caracterizam cenários, personagens ou outros
elementos da história. Por exemplo:
Caminharam pela
estrada poeirenta até chegar a Jardinópolis, onde a família os recebeu.
A descrição
pode iniciar-se dos apetrechos necessários para pescar. Chegando lá, o céu
estava nublado, o vento forte, as palmeiras agitadas e o mar espumante. Por
exemplo:
Indo à praia, Luís
muniu-se dos apetrechos necessários para pescar. Chegando lá, o
céu estava nublado, o vento forte, as
palmeiras agitadas e o mar espumante.
A dissertação
pode apresentar tese ou breves trechos argumentativos de natureza descritiva ou
narrativa, desde que sejam exemplificativos para o assunto abordado. Por
exemplo:
No século XIX, os
mineiros norte-americanos passaram a usar calças de brim suja cor azul-índigo
desbotava no atrito com as rochas. Estava
lançada a calça jeans que, nos anos 60, haveria de tornar-se signo da rebeldia
e da contracultura.
Resumindo:
A descrição caracteriza seres num determinado espaço
->fotografia.
A narração sequencia ações num determinado tempo
->história.
A dissertação expõe, questiona e avalia juízos ->discussão.
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Observe a
seguir o quadro-resumo das modalidades de redação:
REDAÇÃO:QUADRO-RESUMO
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MODALIDADES
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DESCRIÇÃO
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NARRAÇÃO
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DISSERTAÇÃO
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CARACTERISTICAS
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
CONCLUSÃO
RECURSOS
REQUISITOS
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Situa seres e objetos no espaço (fotografia).
O observador focaliza o ser ou abjeto, distingue seus
aspectos gerais e os interpreta.
Capta os elementos numa ordem coerente com a
disposição em que eles se encontram no espaço, caracterizando-os objetiva e
subjetivamente, física e psicologicamente.
Não há um procedimento especifico para conclusão.
Considera-se concluído o texto quando se completa a caracterização.
Uso dos cinco sentidos: audição, gustação, olfato,
tato e visão, que, concluído o texto quando se completa a caracterização.
Sensibilidade para combinar e transmitir sensações
físicas (cores, formas, sons, gostos, odores) e psicológicas (impressões
subjetivas, comportamentos). Pode ser redigida num único parágrafo.
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Situa seres e objetos no tempo (história).
Apresenta as personagens, localizando-as no tempo e
no espaço.
Através das ações das personagens, constroem-se a
trama e o suspense, que culminam no clímax.
Existem várias maneiras de concluir-se uma narração.
Esclarecer a trama é apenas uma delas.
Verbos de ação, geralmente no tempo passado; narrador
personagem, observador ou onisciente; discursos direto, indireto e indireto livre.
Imaginação para compor uma historia que entretenha o
leitor, provocando expectativa e tensão. Pode ser romântica, dramática ou
humorística.
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Discute um assunto, apresenta pontos de vista e
juízos de valor.
Apresenta a síntese do ponto de vista a ser discutido
(tese).
Amplia e explica o parágrafo introdutório. Expõe
argumentos que evidenciam posição critica, analítica, reflexiva,
interpretativa, opinativa sobre o assunto.
Retoma sinteticamente as reflexões criticas ou aponta
as perspectivas de solução para o que foi discutido.
Linguagem referencial, objetiva; evidencias,
exemplos, justificativa, vocabulário adequado e diversificado.
Capacidade de organizar ideias (coesão), conteúdo
para discussão (cultura geral), linguagem clara, objetiva, vocabulário
adequado e diversificado.
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CRÔNICA
Da descrição, a crônica tem a sensibilidade
impressionista; da narração, imaginação (para
humor ou a tensão); da dissertação, o teor critico. A crônica pode ser
narrativa, narrativo-descritiva, humorística, lírica, reflexiva, ou combinar
essas variantes com as singularidades do assinto. Desenvoltura e intimidade
na linguagem aproximam o texto do leitor. É um gênero breve (curta extensão),
que não tem estrutura definida. Toda possibilidade de criação é permitida
nesse tipo de redação, que corresponde a um flagrante do cotidiano, em seus
aspectos pitorescos e inusitados, a uma abordagem humorística, a uma reflexão
existencial, a uma passagem lírica ou a um comentário de interesse social.
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Bom estudo meus amores, com carinho de sua eterna Prof Dr Master Reikiana Aldry Suzuki bjs
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