REDAÇÃO
CAPÍTULO IX –
DESCRIÇÃO –
ALDRY
SUZUKI AMO VOCÊS !!
O
homem não é um espectador através de uma janela, mais penetra na rua. A vista
e o ouvido atento transformam mínimas comoções em grandes vivencias. De todas
as partes fluem vozes e o mundo inteiro ressoa. Como um explorador que se
aventura por territórios desconhecidos, fazemos nossas descobertas no
cotidiano.
(V.Kandinsky)
|
1.
Introdução
A descrição é um texto, literário ou não, em que se
caracterizam seres, coisas e paisagens.
A pormenorização que individualiza o ser descrito é
obtida pelo uso de adjetivos, de figuras de linguagem e de verbos de estado ou
condição.
Raramente encontramos um texto exclusivamente descritivo.
Quase sempre a descrição vem mesclada a outras
modalidades, caracterizando uma personagem, detalhando um cenário, um ambiente
ou paisagem, dentro de um romance, conto, crônica ou novela.
A descrição pura aparece geralmente como parte de um
relatório técnico, como no caso da descrição de peças de maquinas, órgãos do
corpo humano, funcionamento de determinados aparelhos (descrição de processo ou
funcional).
Dessa maneira, na prática, seja literária, seja técnico-científica,
a descrição é sempre um fragmento, e um parágrafo dentro de uma narração, é
parte de um relatório, de uma pesquisa, de dissertações em geral.
Mas o estudante precisa aprender a descrever; a pratica
escolar assim o exige.
Geralmente pede-se
um texto menor que a narração ou a dissertação.
Um texto descritivo com aproximadamente 15 linhas costuma
conter todos os aspectos caracterizadores que permitam ao leitor visualizar o
ser ou abjeto descrito.
Para tanto, o observador deve explorar as sensações gustativas, olfativas, auditivas, visuais,
táteis e as impressões subjetivas.
2.
O que se descreve
Podemos descrever o que vemos (aquilo que está próximo), o que imaginamos (aquilo que
conhecemos mas não está próximo no momento da descrição) ou o que nossa
imaginação cria, qualquer entidade inventada: um
ser extraterreno, uma mulher que você nunca viu, uma habitação futurista, um
aparelho inovados etc.
3.
Como se descreve
De
acordo com os objetivos de quem escreve, a descrição pode privilegiar
diferentes aspectos:
·
Pormenorização –
corresponde a uma persistência na caracterização de detalhes;
·
Dinamização
–
e a captação dos movimentos de objetos e seres;
·
Impressão
–
são os filtros da subjetividade, da atividade psicológica, interpretando os
elementos observados.
4.
A organização da descrição
No
processo de composição de uma redação descritiva, o emissor seleciona os
elementos e organizados, para levar o receptor a formar ou conhecer a imagem do
objeto descrito, isto é, a concebe-lo sensorial ou perceptualmente .
A
descrição é fundamentalmente espacial. Podem aparecer índices temporais, porem
sua função é meramente circunstancial: servem
apenas para precisar o registro descritivo.
Observe
como Vinícius de morais descreve a casa materna, priorizando o espaço, mais
situando-a num tempo subjetivo que só existe nas impressões interiorizadas da
lembrança do observador:
A
casa materna
Há,
desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grandes do portão
tem uma velha ferrugem e o tricô se oculta num lugar que só a mão filial,
fiel a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste.
É
sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos filiais se
pousam sobre a mesa farta do almoço, repetindo uma antiga imagem. Há um
tradicional silencio em suas salas e um dorido repouso em suas poltronas. O
assoalho encerado, sobre as mesmas manchas e o mesmo taco solto da cachorrinha
preta, guarda as mesmas manchas e o mesmo taco solto de outras primaveras. As
coisas vivem como em prece, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos
maternas quando eram moças e lisas. Rostos irmãos se olham dos
porta-retratos, a se amarem e compreenderem mudamente. O piano fechado, com
uma longa tira de flanela sobre as teclas, repete ainda passadas valsas, de
quando as mãos maternas careciam sonhar.
A casa
materna é o espelho de outras, em pequenas coisas que o olhar filial admirava
ao tempo que tudo era belo: o
licoreiro magro, a bandeja triste, o absurdo bibelô. E tem um corredor à
escuta de cujo cheios de sombras. Na estante, junto à escada, há um tesouro
da juventude com o dorso puído de tato e
de tempo. Foi ali que o olhar filial primeiro viu a forma suprema de
beleza: o verso.
Na escada há o degrau que estala e anuncia
aos ouvidos maternos a presença dos passos filiais. Pois a casa materna se
divide em dois mundos: o térreo, onde se processa a vida presente, e o de
cima, onde vive a memória. Embaixo há sempre coisas fabulosas na geladeira e
no armário da copa: roquefort amassado, ovos frescos, mangas-espadas, untuosas
compotas, bolos de chocolate, biscoito de araruta – pois não há lugar mais
propício do que a casa materna para uma boa ceia noturna. E porque é uma casa
velha, há sempre uma barata que aparece e é morta com uma repugnância que vem
de longe. Em cima ficaram guardados antigos, livros que lembram a infância, o
pequeno oratório em frente ao qual ninguém, a não ser a figura materna, sabe
por que queima, às vezes, uma vela votiva. E a cama onde a figura paterna
repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia.
A
imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme
encostado junto a vitrola. Seu corpo como que se marca ainda na velha
poltrona da sala e como se pode ouvir ainda o brando ronco de sua sesta
dominical. Ausente para sempre da casa materna, a figura paterna parece
mergulha-la docemente na eternidade, quanto as mãos maternas se faziam mais
lentas e mãos filiais mais unidas em torno da grande mesa, onde já vibram
também vozes infantis.
(Vinícius
de Moraes)
|
5.
Elementos predominantes na descrição
·
Frases
nominais (sem verbo) ou
orações em que predominam verbos de estado ou condição (ser, estar, ficar,
parecer, permanecer etc.)
Sol já
meio de esguelha, sol das três horas. A areia, um borralho de quente. A
caatinga, um mundo perdido. Tudo, tudo parado: parado e morto.
(Mário Palmério)
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Efetivamente
a rua era aquela; e o velho palácio estava na minha frente. Era um palácio de
trezentos anos, cor de barro, que me parecia muito familiar quanto ao desenho
de sua alta porta, aos ornatos das colunas e ao lançamento da escada do
vestíbulo.
(Cecília Meireles)
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·
Frases
enumerativas: sequência de nomes, geralmente sem verbo.
Obs.: não se deve, na descrição
enumerar os detalhes ate a exaustão. Faz-se necessário, apenas, assinalar os
traços mais marcantes.
A cama
de ferro; a colcha branca, o travesseiro com fronha de morim. O lavatório
esmaltado, a bacia e o jarro. Uma mesa de pau uma cadeira de pau, o tinteiro,
papeis, uma caneta. Quadros na parede.
(Érico Veríssimo)
|
·
Adjetivação:
caracterizadores que imprimem qualidade, condição, estado ao nome a que se
referem.
A pele da cabocla era desse
moreno enxuto e parelho das chinesas. Tinha uns olhos graúdos, lustrosos e negros como os
cabelos lisos, e um sorriso suave
e limpo a animar-lhe o rosto oval
de feições delicadas.
(Érico
Veríssimo)
|
• Figuras
de linguagem: recursos expressivos, geralmente em linguagem conotativa. As
mais usadas na descrição são a metáfora,
a comparação, a prosopopeia , a onomatopeia e a sinestesia.
O rio
era aquele cantador de viola, em cuja lama se refletia o batuque das estrelas
nuas, perdidas no vácuo milenarmente frio do espaço... Depois ele ia cantando
isso de perau em perau, de cachoeira em cachoeira...
(Bernardo Élis)
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·
Sensações: uso
dos cinco sentidos, ou seja, das
percepções visuais,
auditivas, gustativas, olfativas e táteis.
Os sons se sacodem, berram... Dentro dos
sons movem-se cores, vivas, ardentes... Dentro dos sons e das cores, movem-se
os cheiros, cheiro de negro... Dentro dos cheiros, o movimento dos tatos
violentos, brutais... Tatos, sons, cores, cheiros se fundem em gostos de
gengibre...
(Graça
Aranha)
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6-
A Descrição convencional
Leia
o texto a seguir e observe a técnica descritiva explorada pelo autor para
descrever convencionalmente um cenário.
A praça,
o templo, lugar de encontro. Os homens reunidos para a discussão, para o
divertimento, para a rezas. Perguntas e pergunta, respostas, diálogos com
Deus, passeatas, sermões, discursos, procissões, bandas de música, circo,
mafuás, andores carregados, mastro e bandeiras, carrosséis, barracas, badalar
de sinos, girândolas e fogos de artifício lançados para o alto, ampliando, na
direção das torres, o espaço horizontal da praça.
Joana,
descalça, vestida de branco, os cabelos de ouro esvoaçando, traz sobre o peito
a imagem emoldurada de São Sebastião. Por cima dos ombro, encobrindo-lhe
braço, mãos, e tão comprida que quase chega ao solo, estenderam uma toalha de
crochê, comfiguras de centauro. As setas grossas, no tronco do santo parecem
atravessá-lo, cravar-se firmes em
Joana. Por trás, numa fila torta, cantando em altas vozes, com velas acesas,
muitas mulheres. A noite de dezembro não caiu de todo, alguma luz diurna reta
no ar. Posso ver que os olhos de Joana são azuis e grandes; e que seu rosto,
embora desfigurado, pois ela ainda está convalescente, difere de todos que
encontrei, firme e delicado a um tempo. Adaga de Cristal. (...) Meio cega,
ausente das coisas, febril, as pernas mortas.
(Osman Lins)
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Nesta
descrição, impressões líricas compõem a imagem mística de uma mulher enferma.
A
linguagem moderna de Osman Lins alterna a concisão das frases nominais com a
sinuosidade das frases verbais.
As frases nominais, telegráficas, abrem o
texto, formando, num único parágrafo, uma sequência de enumerações, em que
estão justapostos elementos de natureza diversa: o humano versus o divino, o
concreto versus o abstrato.
O
segundo parágrafo estende-se entre breves frases nominais e frases de maior
complexidade: “Por cima
dos ombros, encobrindo-lhe braços, mãos, e tão comprida que quase chega ao
solo, estenderam uma toalha de crochê, com figuras de centauro”.
As impressões do autor, através da
adjetivação, registram fartamente os aspectos visuais: “os olhos de Joana são azuis e grandes”.
As sensações auditivas aparecem num flagrante: “cantando
em altas vozes”.
O subjetivismo está não apenas na
manifestação do autor, em primeira
pessoa, mas também nas captações pessoais, únicas, metafóricas: “as setas grossas, no tronco do santo,
parecem atravessá-lo, cravar-se firmes em Joana.”: “firme e delicado a um
tempo. Adaga de Cristal”.
Há, ainda, fragmentos de descrição estática
(“Joana descalça, vestida de
branco (...) traz
sobre o peito a imagem de São Sebastião”) e
dinâmica ( “os
cabelos de ouro esvoaçando”; “cantando
em altas vozes”).
Assim,
o texto compõe o retrato de um cenário e das pessoas que o animam, entre
objetos, cores e movimentos liricamente caracterizados.
7- A
Descrição original
Veja
como, os olhos de um observador sensível, até uma prosaica cena ganha
impressões inesperadas.
O esmagamento das gotas
Eu não
sei, olhe, é terrível como chove. Chove o tempo todo, lá fora fechado e
cinza, aqui contra a sacada, com gotões coalhados e duros que fazem plaf e se
esmagam como bofetadas um atrás do outro. Agora aparece a gotinha no alto da
esquadria da janela, fica tremelicando contra o céu e se esmigalha em mil
brilhos apagados, vai crescendo e balouça, já vai cair, não cai ainda. Está
segura com todas as unhas, não quer cair e se vê que ela se agarra com os
dentes enquanto lhe cresce a barriga, já é uma gotona que se prende majestosa
e de repente zup, lá vai ela, plaf, desmanchada, nada, uma viscosidade no
mármore.
(Júlio Cortázar)
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Júlio
Cortázar transforma em testemunho descritivo a experiência de observar a chuva
e particulariza-la na gota pendente da janela.
A tímida e indefinida impressão
inicial (“eu não sei, olhe, é
terrível como chove”) dá lugar a uma dinâmica caracterização que
atribui movimento e vida a uma gota de chuva, através da concentração de
imagens visuais e onomatopeias “ plaf”, “zup”, personificando sua
resistência a aniquilamento: “fica
tremelicando (...), vai
crescendo e balouça (...). Está
segura com todas as unhas, não quer cair (...) ela se agarra com os dentes enquanto lhe
cresce a barriga”; “se
prende majestosa”.
8- As
Experiências sensoriais na descrição
A descrição está intimamente ligada à
experiência das sensações físicas e das percepções subjetivas.
O
leitor capta impressões sensoriais e psicológicas, transmitindo as através de
recursos expressivos de linguagem.
Assim,
a descrição traduz com palavras a espacialidade de uma imagem, bem como estados
de espírito, traços de personalidade e comportamentos que seres e objetos
suscitam no observador.
Sensações
visuais
As sensações e/ou percepções visuais são as
mais frequentes e estão relacionadas a cor, forma, dimensões, linhas etc.
Quando
especificamente relacionadas a cores, são chamadas cromáticas.
Companheiros
de classe
Os
companheiros de classe eram cerca de vinte; uma variedade de tipos que me
divertia. O Gualtério, miúdo, redondo de costas, cabelos revoltos,mobilidade
brusca e caretas de símio - palhaço
dos outros, como dizia o professor; (...) o Maurílio, nervoso, insofrido,
fortíssimo na tabuada: cinco vezes três, vezes dois, noves fora, vezes sete?...lá
estava Maurílio, trêmulo, sacudindo no ar o dedinho esperto... olhos fúlgidos
no rosto moreno, marcado por uma pinta na testa; o Negrão, de ventas acesas,
lábios inquietos, fisionomia agreste de cabra, canhoto e anguloso, incapaz de
ficar sentado três minutos, sempre à mesa do professor e sempre à mesa do
professor e sempre enxotado, debulhando um risinho de pouca-vergonha (...).
(Raul
Pompeia)
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Sensações auditivas
Muito comuns, as sensações e /ou percepções
auditivas estão relacionadas ao som (intensidade,
altura, timbre, proveniência, direção, ausência, etc.).
Está
sempre a rir, sempre a cantar. Canta o dia inteiro, num tom arrastado,
apregoando as revistas que
vende.
(Graciliano Ramos)
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Sensações
gustativas
As
sensações e/ou percepções gustativas relacionam-se ao paladar (doce, azedo, amargo, salgado, etc.).
E a saliva daqueles infelizes
Inchava
em minha boca, de tal arte
Que
eu, para não cuspir por toda
parte,
Ia engolindo aos poucos a hemoptíase.
(Augusto
dos Anjos)
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Sensações
olfativas
As
sensações e/ou percepções olfativas relacionam-se a odores (perfume,
hálito, flores, comida, etc.).
A
avenida é o mar dos foliões
Serpentinas
cortam o ar carregado de éter,
rolam das sacadas...
(Marques Rebelo)
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Sensações
táteis
As sensações
e/ou percepções táteis resultam do contato da pele com os objetos (aspereza,
calor, umidade, frio, etc.).
A tua
mão é dura como casaca de árvore, ríspida e grossa como um cacto.
(Cassiano
Ricardo)
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Observe,
a seguir, como Graça Aranha mescla, de
forma original, todos os sentidos num texto denso de imagens:
Carnaval
Maravilha
do ruído, encantamento do barulho. Zé Pereira, bumba, bumba. Falsetes
azucrinam, zombeteiam. Viola chora e espinoteia. Melopeia negra, melosa,
feiticeira, candomblé. Tudo é espinoteia. Melopeia negra, melosa, feiticeira,
candomblé. Tudo é instrumento, flautas, violões, reco-recos, saxofones,
pandeiros, liras, gaitas e trombetas. Instrumentos sem nome, inventados
subitamente no delírio da improvisação, do ímpeto musical. Tudo é canto. Os
sons vaias, klaxons, aços estrepitosos. Dentro dos sons movem-se cores,
vivas, ardentes, pulando, dançando, desfilando sob o verde das arvores, em
face do azul da baia no mundo dourado. Dentro dos sons movem-se cheiros,
cheiro de negro, cheiro de mulato, cheiro de branco, cheiro de todos os matizes,
de todas as excitações e de todas as náuseas. Dentro dos cheiros, o movimento
dos tatos violentos, brutais, suaves, lúbricos, meigos, alucinantes. Tatos,
sons, cores, cheiros se fundem em gostos de gengibre, de mendublim, de
castanhas, de bananas, de laranjas, de bocas e de mucosas. Libertação dos
sentidos envolventes das massas frenéticas, que maxixam, gritam, tresandam,
deslumbrem, saboreiam, de Madureira à Gávea na unidade do prazer
desencadeado.
(Graça Aranha)
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Numa fusão dos cinco
sentidos, o autor percorre um cenário carnavalesco, registrando as sensações
que produzem sons, cores, odores, tato e gostos.
Frases nominais e
enumerativas caracterizam um espaço vibrante e dinâmico (“maxixam, gritam, tresandam”),
além do impressionismo provocado pelas combinações sinestésicas em “viola
chora e espinoteia”, “os sons se
sacodem”, “cheiro de todos os matizes”,
“tatos
alucinantes” e “gostos de gengibre”.
A técnica de
enumeração e repetição vocabular utiliza pelo autor reproduz a intensidade das
sensações e a dinâmica do contexto em verso, o aproveitamento das sensações:
Natureza
morta
Na sala ao sol seco do
meio-dia sobre a ingenuidade da faiança portuguesa os frutos cheiram
violentamente e a toalha é fria e alva na mesa.
Há um gosto áspero de
nanases e um brilho fosco de uvaias flácidas e um aroma adstringente de
cajus, de pálidas carambolas de âmbar desbotado e um estalo oco bravo de
tangerinas.
E sobre esse jogo de
cores, gostos e perfumes a sala toma a transparência abafada de uma redoma.
(Guilherme
de Almeida)
|
Aguçando os cinco
sentidos, o poeta intensifica a composição do cenário através do olfato (“os frutos cheiram violentamente”),
do tato (“um gosto áspero”) e da audição (“um estalo oco”).
Nessas sinestesias
estão os cruzamentos inesperados e subjetivos das sensações que empolgam o observador.
Sensações
espaciais
Além das sensações
físicas percebidas pelos cinco sentidos, existem as experiências pessoais de
espaço (perspectiva, ângulo, dimensão, direção) como, por exemplo, altura, largura,
profundidade.
Há ainda as
experiências relacionadas a medidas, como peso, volume, força, densidade,
pressão.
Antônio Vítor veio
andando em grandes passadas e mesmo antes de atingir o pequeno terreiro onde,
em frente à casa, ciscavam galinhas (...).
Parou ao lado da porta
da casa de barro batido, mais alta do lado direito que no esquerdo, uma
construção apressada e baixa, aumentada depois para o fundo, e olhou o céu, a
alegria estampada no rosto caboclo.
(Jorge
Amado)
|
Sensações
subjetivas
Faz também da
descrição a sensibilidade “interna”
do universo do observador (sensações inerentes ao ser humano): alegria,
tristeza, amor, ira, náusea, fome, fadiga, vontade, nostalgia, enfim estados
emocionais.
A força de meu pai encontraria resistência e gastar-se-ia
em palavras. Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa (...). o
coração bate-se forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista
escurece, uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. A horrível
sensação de que me furam tímpanos com pontas de ferro. (...) sozinho, vi-o de
novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo e
insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalham na
telho negra.
(Graciliano
Ramos)
|
9. Recursos
expressivos na descrição
A caracterização de
um ser ou objeto vazada em linguagem subjetiva implica o uso de determinados
recursos expressivos que favoreçam o delineamento dos elementos retratados.
Esses recursos são as
figuras; dentre as mais comuns, citamos a metáfora, a comparação, a
prosopopeia, a onomatopeia e a sinestesia.
Veja os capítulos 4,
5 e 6 referentes às Figuras de Linguagem.
Metáfora
A metáfora consiste
no uso de uma palavra com sentido diferente daquele que lhe é próprio.
É uma comparação abreviada,
em que não aparecem os nexos comparativos.
Jeronimo era alto, espadaúdo, construção de touro, pescoço de Hércules, punho de quebra um
coco com um murro: era a força
tranquila, o pulso de chumbo. O outro, franzino, um palmo mais baixo que
o português, pernas e braços secos, agilidade
de maracajá: era a força nervosa;
era o arrebatamento que tudo desbarata
no sobressalto do primeiro instante. Um, solido e resistente; o outro,
ligeiro e destemido; mas ambos corajosos.
(Aluísio
Azevedo)
|
Comparação
A comparação consiste
no confronto de duas ideias por meio de uma conjunção comparativa: como, tal
qual, igual, que nem etc.
Sentia-me preso como um cachorro acorrentado, como um
urubu atraído pela carniça.
(Graciliano
Ramos)
|
O espelho das águas, liso e polido como um cristal, refletia a claridade
das estrelas...
(José
de Alencar)
|
Apareceram os primeiros
ventos gerais, doidamente, que nem um
bando solto de demônios travessos e brincalhões.
(Aluísio
Alencar)
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Prosopopeia
A prosopopeia
consiste em atribuir características animais a seres inanimados (animação) e
características humanas a seres não humanos (personificação).
E até onde a vista
alcança, num semicírculo imenso, há montes de água estrondados nesse
cantochão, arvores tremendo, ilhas
dependuradas, insanas, se toucando de arco-íris...
(Rubem
Braga)
|
Onomatopeia
A onomatopeia
consiste na imitação aproximada de ruídos e sons de qualquer natureza.
Exemplos:
Relógio = tique
–taque
Pássaro = piu-piu
Moeda = tilintim
Galo = cocorocó
Até o ar é próprio; não vibra nele fonfons de auto, nem cornetas de bicicletas, nem campainhas de
carroça, nem pregoes de italianos, nem tenténs
de sorveteiros, nem plás-plás de
mascates sírios. Só os velhos sons coloniais – o sino, o chilreio das
andorinhas na torre da igreja, o rechino dos carros de boi, o cincerro de
tropas raras, o taralhar das baitacas que em bando rumoroso cruzam e recruzam
o céu.
(Monteiro
Lobato)
|
A palavras que
resultam da transformação do som reproduzido em verbo ou em substantivo
chamam-se vocábulos onomatopeicos, como é o caso de, “o rechino dos carros de boi”, “o
chilreio das andorinhas”, “o
cincerro das tropas raras” e “o taralhar
das baitacas”, que aparecem no fragmento descritivo de Monteiro Lobato.
É mais comum o uso de
vocábulos onomatopeicos do que da onomatopeia. Observe o exemplo abaixo:
A noite enchia-se de vozes estranhas, os sapos coaxavam, gargarejavam, malhavam;
eram trissos, zizios sutis, estrilos, pios crebros e, de quando
um quando, numa lufada mais forte, o farfalho
das ramas escachoava como num
rebojo d’águas.
(Coelho Neto)
|
Sinestesia
A sinestesia consiste
no cruzamento de sensações físicas ou psicológicas diferentes.
Olivia era atraente, tinha uns olhos quentes, uma boca vermelha de lábios cheios.
(Clarice Lispector)
|
Olhos =sensação
visual
Quentes= sensação tátil
(térmica)
Voltou-se ao canto, o rosto próximo da parede – a
camada de ar ali como se guardava mais
fresca, e com o relento de limo, cheiro
verde, quase musgoso...
(Guimarães Rosa)
|
Cheiro Verde =
sensação olfativa
Quase = sensação visual
A fusão de percepções
físicas (olfato, gustação, visão, audição e tato) com impressões psicológicas
ou subjetivas também produz sinestesia.
A bondade era morna e leve, cheirava a carne
crua guardada há muito tempo.
(Clarice
Lispector)
|
A bondade cheirava = percepção subjetiva
A bondade morna = percepção tátil
A bondade leve= percepção sensitiva
A bondade cheirava = percepção olfativa
Os retirantes
O calor continuava. Nada diminuía sua intensidade, de manhã
o sol se levantava apoplético, sumindo ao entardecer raivoso e vermelho. A
terra permanecia sedenta, com bocarras abertas à espera de água. No céu
esplendidamente azul, nem uma nuvem, nenhum sinal de chuva. Um azul límpido,
tranquilo, um imenso borrão azul, nada mais.
Na cidade, apareciam bandos de retirantes, famélicos,
trêmulos, magros , como bambus ao vento.
(Odette de Barros Mott)
|
Nesse flagrante
descritivo, temos uma combinação de recursos expressivos caracterizadores das
impressões que mais sensibilizam o observador.
As prosopopeias ( “o sol
se levantava apoplético”; “entardecer raivoso”;”terra(...)
sedenta,
com
bocarras abertas”). A sinestesia (“azul(...) e a comparação (“trêmulos,
magros, como bambus ao vento”) dão ao texto um caráter essencialmente
impressionista.
10. a perpectiva na
descrição
A descrição é um trabalho
que envolve todo um processo de organização: o observador deverá selecionar o
objeto que quer descrever, a visão que ele quer dar do objeto, os elementos que
colocará em destaque, o ângulo de visão, a distância etc.
A leitura de um texto
descritivo supõe, pois o trabalho de perceber o modo de que o observador se
serviu para compô-lo.
É essencial que o
leitor explore a organização do texto, percebendo os elementos e estabelecendo
relações entre eles na busca de perspectivas de visualização do objeto
descrito.
Quando observamos bem
o objeto, vemos sua forma global, suas partes e seus pormenores.
Na leitura ou
elaboração de um texto descritivo, é importante a visualização do objeto, suas
partes e pormenores.
Dessa forma, quando
descrevemos, organizamos o texto
selecionando os elementos, suas características mais marcantes e uma
dimensão essencial da descrição: a perspectiva do descrevedor diante do objeto.
Observe, no texto
seguinte, o ângulo assumido pelo observador:
A estrada estendia-se deserta; à esquerda os campos desdobravam-se a perder de vista, serenos,
verdes, clareados pela luz macia do sol morrente, manchados de pontas de gado
que iam se arrolhando nos paradouros da noite; à direita, o sol, muito baixo, vermelho dourado, entrando em massa
de nuvens de beiradas luminosas.
Nos atoleiros, secos, nem um quero-quero: uma que outra perdiz,
sorrateira, piava de manso por entre os pastos maduros; e longe, entre o resto de luz que fugia de um lado e a noite que vinha, peneirada,
do outro, alvejava a brancura de um joão-grande, voando, sereno, quase sem
mover as asas, como numa despedida triste, em que a gente também não sacode
os braços...
Foi caindo uma aragem fresca; e um silêncio grande em tudo.
(J.Simões Lopes
Neto)
|
O olho humano parece
rastrear todos os ângulos da paisagem, percorrendo os espaços como uma câmera:
desloca-se da esquerda para a direita, focaliza os atoleiros e os pastos
maduros e depois lança sua perspectiva para o horizonte longínquo para
dividi-lo em dois – de um lado, “ o resto de luz que fugia” e , de
outro “ a noite que vinha peneirada”.
Enquanto a precisão
do olhar dimensiona os ângulos do espaço ( a paisagem), a sensibilidade da
visão recorta a magnitude do momento (o pôr-do-sol), sendo a sinestesia seu ponto de fusão:
“pela luz macia do sol morrente”, “iam
se arrolando nos paradouros da noite”,
“um silêncio grande em tudo”.
Além das sinestesias,
a
comparação
é de grande efeito na imagem que encerra
o texto: “voando, sereno quase sem mover as asas, como numa despedida triste, em
que a gente também não sacode os braços...”.
11. descrição objetiva
e subjetiva
Há dois aspectos
fundamentais na maneira de ver o mundo – o objetivo e o subjetivo -, que são
flagrantes, de modo especial, na descrição.
Aprendemos o mundo
com nossos sentidos e transformamos nossa percepção em palavras.
Das diferenças de
sensibilidade de cada observador decorre o predomínio da abordagem objetiva
e subjetiva.
A descrição objetiva é a reprodução fiel do objeto.
É a visão das
características do objeto(tamanho, cor, forma, textura, espessura,
consistência, volume, dimensão, etc.), segundo uma percepção comum a todos, de
acordo com a realidade.
Na descrição
objetiva, há grande preocupação com a exatidão dos detalhes e a precisão
vocabular.
O observador descreve
o objeto tal qual ele se apresenta na realidade.
Amanhecera um domingo alegre no cortiço, um bom dia de
abril.
Muita luz e pouco calor.
As tinas estavam abandonadas; os coradouros despidos.
Tabuleiros de roupa engomada saíam das casinhas, carregados
na maior parte pelos filhos das próprias lavadeiras que se mostravam agora
quase todas de fatos limpos; os casaquinhos brancos avultavam por cima das
saias de chita de cor. Desprezavam-se os grandes chapéus de palha e os
aventais de aniagem; agora as portuguesas tinham na cabeça um lenço novo de
ramagens vistosas e as brasileiras haviam penteado o cabelo e pregado nos
cachos negros um ramalhete de dois vinténs; aquelas trançavam no ombro xales
de lã vermelha, e estas de crochê, de um amarelo desbotado. Um grupo de
italianos, assentado debaixo de uma árvore, conversava ruidosamente, fumando
cachimbo. Mulheres ensaboavam os filhos pequenos debaixo da bica, muito
zangadas, a darem-lhes murros, a praguejar, e as crianças berravam, de olhos
fechados, esperneando. A casa da Machona estava num rebuliço, porque a
família ia sair a passeio; a velha gritava, gritava Nenen, gritava o
Agostinho. De muitas outras saíam cantos ou sons de instrumentos; ouviam-se
harmônicas e ouviam-se guitarras, cuja discreta melodia era de vez em quando
interrompida por um ronco forte de trombone.
(Aluísio
Azevedo)
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A descrição subjetiva é a apreensão da realidade interior, isto é, da imagem.
O objeto é
transfigurado pela sensibilidade do emissor-observador. É a reprodução do
objeto como ele é visto e sentido; neste caso se privilegia a linguagem
conotativa ou figurada.
Esse tipo de
descrição apresenta o modo particular e pessoal de o escritor ou redator sentir
e interpretar o que descreve, traduzindo as impressões que tem da realidade
exterior.
Na descrição
subjetiva, não deve haver preocupação quanto à exatidão do objeto descrito.
O que importa é
transmitir a impressão que o objeto causa ao observador.
Há um pinheiro estático e extático, há grandes
salso-chorões derramados para o chão, e a graça menina de uma cerejeira cor
de vinho, que o sol oblíquo acende e faz fulgurar; mas o álamo junto do
portão tem um vigor e uma pureza que me fazem bem pela manhã, como se toda a
manhã, ao abrir a janela, eu visse uma jovem imensa, muito clara, de olhos
verdes, de pé , sorrindo para mim.
(Rubens Braga)
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RESUMINDO:
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DESCRIÇÃO SUBJETIVA
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DESCRIÇÃO OBJETIVA
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ADJETIVOS ANTEPOSTOS
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ADJETIVOS POSPOSTOS
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LINGUAGEM CONOTATIVA
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LINGUAGEM DENOTATIVA
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LINGUAGEM COM FUNÇÃO
POÉTICA
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LINGUAGEM COM FUNÇÃO
REFERENCIAL
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IMPRESSIONISMO
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EXPRESSIONISMO
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PERSPECTIVA
LITERÁRIA, ARTÍSTICA
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PERSPECTIVA TÉCNICA,
CIENTÍFICA, GEOMÉTRICA, ANATÔMICA
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“VISÃO” PESSOAL E
PARCIAL
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“VISÃO” FRIA ISENTA
E IMPARCIAL
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CAPTAÇÃO IMPRECISA
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CAPTAÇÃO EXATA
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FRASES ELABORADAS
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FRASES CURTAS EM
ORDEM DIRETA
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IMAGEM VAGA/DILUÍDA
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IMAGEM DIMENSIONAL
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SUBSTANTIVOS
ABSTRATOS
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SUBSTANTIVOS
CONCRETOS
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Acompanhe a análise
do texto seguinte e observe como o autor dosou a distribuição de elementos
objetivos e subjetivos num trabalho artesanal em que a linguagem desponta ora
denotativa, ora conotativamente.
Na pedreira
Aqui e ali, por toda
a parte, encontravam-se trabalhadores, uns ao sol, outros debaixo de pequenas
barracas feitas de lona ou de folha de palmeira.
De um lado cunhavam pedra cantando; de outro a quebravam a
picareta; de outro afeiçoavam latejos a ponta de picão; mais adiante faziam
paralelepípedos a escopro e macete.
E todo aquele retintim de ferramentas, e o marchar da
forja, e o coro dos que lá em cima brocavam a rocha para lançar-lhe fogo, e a
surda zoada ao longe, que vinha do cortiço, como de uma aldeia alarmada; tudo
dava a ideia de uma atividade feroz, de uma luta de vingança e de ódio.
Aqueles homens gotejantes de suor, bêbados de calor, desvairados de insolação
a quebrarem, a espicaçarem, a tonturarem a pedra, pareciam um punhado de
demônios revoltados na sua impotência contra o impassível gigante que as
contemplava com desprezo, imperturbável a todos os golpes e a todos os tiros
que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido que lhe abrissem as entranhas de granito.
(Aluísio de Azevedo)
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Observe no texto o
predomínio da descrição subjetiva sobrea a descrição objetiva.
Na descrição
objetiva, os seres e objetos são apresentados através de linguagem referencial.
A percepção dos
elementos é igual para todos os observadores (“barracas
feitas de lona”).
Na descrição objetiva
predominam:
· Substantivos concretos (“trabalhadores”,
“sol”, “barracas”, “lonas”, “pedra”);
· Adjetivos pospostos (“aldeia
alarmada”);
· Linguagem denotativa, referencial (de ”aqui e ali” até “ a escopro e
macete”);
· Percepção fria e imparcial ( de ”aqui e ali) até “a escopro e
macete”.
Na caracterização subjetiva, os seres e
objetos são apresentados sob um enfoque
pessoal, impressionista, individual.
Sua apreciação
combina as sensações do observador, através dos cincos sentidos (tato, visão, audição,
paladar, gustação),
com as impressões psicológicas,
emocionais, comportamentais (“atividade feroz”, “a
surda zoada ao longe”).
Na descrição subjetiva predominam:
· Substantivos abstratos (“luta de
vingança e ódio”);
· Adjetivos antepostos (“surda zoada”);
· Linguagem conotativa (“bêbedos de
calor, desvairados de insolação”; “a espicaçarem, a torturarem a pedra”);
· Percepção pessoal e impressionista (de “e todos aquele retintim” até “ entranhas
de granito”).
12. descrição estática
e dinâmica
A captação de uma
realidade espacial pode ocorrer de duas
maneiras: estática, como numa fotografia; ou dinâmica, como num filme.
Lendo ou elaborando
um texto descritivo, precisamos formar ou dar a conhecer uma dessas duas
realidades.
Imaginemos um pôr-do-sol
captado por uma máquina fotográfica e esse mesmo estímulo registrado por uma
filmadora.
A concepção fixa da
realidade seria dada pela fotografia; já o movimento do sol só o filme
poderia mostrar.
Observe como o autor,
de forma singela, caracteriza um pôr-do-sol numa descrição dinâmica.
O sol, manhoso, vinha botando a cabeça de fora, no horizonte. Malandro, sem-vergonha!!
Olhava o tempo com o pedacinho do olho, indeciso. A cara,
ainda não vermelha, bem dizia que acordava chateado, não queria espantar o
mundo.
Começou somente mostrando a careca da cabeça, que a linha
do horizonte deixava ver. Depois , a fatia foi aumentando, aumentando um
pouco mais até que já se via praticamente a metade da cara dele.
Vinha subindo devagar. Mas um devagar ligeiro, que se
percebia claramente, fácil, fácil.
Afinal, lá apareceu todinho no horizonte, aquele disco
alaranjado, maior do que um prato, calado, imponente, mandando luz para toda
a parte.
Era o dia.
(Everaldo Moreira Veras)
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Dinamicamente, o
amanhecer é descrito como um despertar humano (“o sol,
manhoso, vinha botando a cabeça de fora, no horizonte. Malandro, sem-vergonha!”).
Todos os movimentos
do alvorecer são caracterizados através da personificação (“começou somente mostrando a careca “; “depois, a fatia foi
aumentando”; “vinha subindo devagar ”; ”lá apareceu todinho”; “mandando luz
para toda parte”).
Note que a cena de um
incêndio, como a do exemplo a seguir, só poderia ganhar a intensidade e o movimento
que lhe são próprios através dos recursos da descrição dinâmica:
A um só tempo viram-se fartas mangas de água chicoteando o
fogo por todos os lados; enquanto, sem se saber como, homens, mais ágeis que
macacos, escalavam os telhados abrasados por escadas que mal se distinguiam;
e outros invadiam o coração vermelho do incêndio, a dardejar duchas em torno de si, rodando, saltando,
piruetando, até estrangularem as chamas que se atiravam ferozes para cima deles,
como dentro de um inferno(...)
(Aluísio Azevedo)
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Quando temos o
registro de um objeto ou ser em movimento numa sequência temporal, distinguimos
uma passagem narrativa. (ver capítulo sobre narração)
Ao se registrar o
movimento do ser ou objeto numa disposição espacial, o resultado é uma
descrição dinâmica: “A um só tempo viram-se
fartas mangas de água chicoteando o fogo por todos os lados”; “(...) e outros
invadiam o coração vermelho do incêndio, a dardejar duchas em torno de si,
rodando, saltando, piruetando (...)”. Nesse dinamismo de imagens, a cena ganha,
aos olhos do leitor, a perspectiva cinematográfica do observador.
Na descrição estática
predominam as formas nominais, com frases sem verbo ou com verbos que indicam
estado ou condição: estar, ser, haver,
parecer e outros.
Observe o exemplo a
seguir:
A antecâmara de Alzira
Era a antecâmara da formosa
Alzira rigorosamente posta ao capricho gosto da época.
Guarneciam-na móveis de madeira, esculpida e pintada de
branco, com arabescos de ouro, que variava entre o fusco e o luzente,
formando torturados desenhos de ornato. Pombas aos pares e anjinhos
rechonchudos serviam de adorno às guarnições das portas. Sobre peanhas e
cantoneiras havia jarras de Sèvres, com pinturas assinadas, e, que se viam, pastores
enfeitados de fitas azuis e cor-de-rosa, na cinta, nos joelhos, no pescoço e
nos tornozelos, tocando acena e flauta, ao lado de roliças raparigas de saia
curta listrada com sobressai de tufos de seda clara, chapéu de palha, coberto
de flores, uma corbelha enfiada no braço, sapatinhos quase invisíveis, e um
dos peitos à mostra, branco e levemente rosado, com trêmula gosta de leite
sobre uma pétala de rosa.
Nas paredes, forradas de uma tapeçaria azul celeste,
destacavam-se suavemente, por cima das portas e contornando os móveis,
desenhos do mesmo azul um pouco mais escuro, representando alegorias pastoris.
(Aluísio Azevedo)
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Alguns textos
descritivos mesclam a realidade espacial , apresentando trechos ora estáticos,
ora dinâmicos.
Observe como tal
procedimento pode até mesmo ocorrer num texto em verso, numa descrição de
paisagem:
Lembrança rural
Chão verde e mole. Cheiros de relva. Babas de lodo.
A encosta barrenta aceita o frio, toda nua.
Carros de bois, falas ao vento, braços, foices.
Os passarinhos bebem do céu pingos de chuvas.
Casebres caindo, na erma tarde, Nem existem na história do
mundo. Sentam-se à porta as mães descalças.
E tão profundo, o campo, que ninguém chega a ver que é
triste.
A roupa da noite esconde tudo, quando passa...
Flores molhadas. Última abelha, nuvens gordas.
Vestidos vermelhos, muito longe, dançam nas cercas.
Cigarra escondida, ensaiando na sobra rumores de bronze.
Debaixo da ponte, a água suspira, presa...
Vontade de ficar neste sossego toda a vida:
Para andar à toa, falando sozinha,
Enquanto as formigas caminham nas árvores...
(Cecília Meireles)
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Quando a paisagem e o
verso se encontram, surge a descrição
poética em que se fundem imagens estáticas e dinâmicas.
Na primeira estrofe despontam
as sensações visuais, olfativas e táteis (“Chão verde e mole. Cheiros de relva. Babas de Iodo”) e as
líricas (“A encosta barrenta aceita o frio, toda nua”).
No primeiro, terceiro
e nono versos, formas nominais dão conta da profusão de elementos campestres
que compõem a paisagem flagrada.
Nas demais estrofes,
intercalam-se descrições dinâmicas (“Casebres caindo, na erma tarde”; ”Sentam-se à porta as mães
descalças”),
enumeração estática (“Flores molhadas. Última abelha. Nuvens gordas”) e reflexões subjetivas (“Vontade de ficar neste sossego toda a vida:/ para andar à toa
falando sozinha”).
O poema compreende
uma captação evocativa do passado.
Assim, o “eu” lírico
descreve uma realidade visual e afetiva
que lhe resta na memória.
Meus amores bom estudo , tenham um esplendoroso dia com muitas glórias e realizações com carinho de sua eterna Prof Dr Master Reikiana Aldry Suzuki bjs
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