quarta-feira, 6 de julho de 2016

REDAÇÃO X - ANÁLISE DE TEXTOS DESCRITIVOS - ALDRY SUZUKI AMO VOCÊS!!





REDAÇÃO  CAPÍTULO X



ANÁLISE DE TEXTOS 

DESCRITIVOS

ALDRY SUZUKI  AMO VOCÊS!!




1-    DESCRIÇÃO DE PESSOA

Ao descrever uma pessoa ou uma paisagem, podemos reproduzir os pormenores físicos e/ ou psicológicos.

Os pormenores físicos compreendem as características apreendidas pelos sentidos (visão, paladar, olfato, tato, audição), detalhando os aspectos exteriores de ser: os traços  faciais, as partes do corpo ou ainda  a maneira de andar, de falar, de vestir.


Os pormenores psicológicos revelam os aspectos emocionais ou mentais: caráter, comportamento, temperamento , defeitos, virtudes, preferências, inclinações, personalidade.


A dosagem equilibrada desses dois aspectos garante um texto descritivo em que a subjetividade se projeta sobre a objetividade dos traços físicos: olhar viperino, sorriso doce, passo tímido, gestos nervosos, boca desdenhosa, nariz altivo, cabelos selvagens, dentes felinos, corpo sensual, andar provocante, voz envolvente.



Descrição de pessoa em verso

O descrever não é específico da prosa. Um poema pode também ser descritivo, construído em linguagem objetiva e/ ou subjetiva, enquadrando uma imagem real ou       imaginária.



Retrato
Eu não tinha esse rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha essas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
A minha face?
                     (Cecilia Meireles)



O poema é descritivo, pois compõe o retrato do “eulírico. Através dos adjetivos, são revelados os estados interiores.


Os versos apresentam sobretudo um estado de espírito, pois a adjetivação ultrapassa o aspecto físico para simbolizar o universo íntimo de um “eupoético desesperançado, introspectivo e pessimista.


Esse efeito estético em que o estado de espírito vai além dos traços físicos resulta da combinatória de palavras que a autora selecionou, num trabalho de linguagem em que o sentido denotativo ( o valor real das palavras) é menos revelador que o sentido conotativo figurado, subjetivo.

Portanto, é a conotação que compõe o retrato psicológico nesse poema, através  de expressões como “olho tão vazios”, “lábios amargo”, “mãos sem força (...) frias e mortas “, “este coração que nem se mostra”. Apenas “rosto (...) magro” pode ser interpretado denotativamente.


O poema explora o sentido renovado das palavras através da conotação.

Esse recurso que privilegia a emoção permitiu observar o processo de mudança íntima do “eupoético.



Descrição de pessoa em prosa


Observe a projeção dos dados psicológicos sobre os aspectos físicos:


Ela não era feia; amorenada, com os seus traços acanhados, o narizinho malfeito, mas galante, não muito baixa nem muito magra e a sua aparência de bondade passiva, de indolência de corpo, de ideia e de sentidos.

                                   (Lima Barreto)


Há descrições em que o perfil psicológico é sugerido pelos dados físicos.


Muitas vezes, o observador induz o leitor a perceber a interioridade da personagem, utilizando apenas a descrição  física.


Observe como Machado obtém magistralmente esse efeito:


Chegando à rua, arrependi-me de ter saído. A baronesa era uma das pessoas que mais desconfiavam de nós. Cinquenta e cinco anos que pareciam quarenta, macia, risonha, vestígios de beleza, porte elegante e maneiras finas. Não falava muito nem sempre; possuía a grande arte de escutar os outros, espiando-os; reclinava-se então  na cadeira, desembainhava um olhar afiado e comprido, e deixava-se estar. Os outros, não sabendo o que era, falavam, olhavam, gesticulavam, ao tempo que ela olhava só, ora fixa, ora móbil, levando a astúcia ao ponto de olhar às vezes para dentro de si, porque deixava cair as pálpebras; mas, como as pestanas eram rótulas, o olhar continuava o seu ofício, remexendo a alma e a vida dos outros.

                               (Machado de Assis)


No texto acima, os traços físicos, como maneirismos, trejeitos e ademanes, caracterizam, num amálgama de impressões, de forma reveladora, o comportamento e a personalidade da personagem.


Nesse tempo meu pai e minha mãe estavam caracterizados: um homem sério, de testa larga, uma das mais belas testas que já vi, dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza, sempre a mexer-se, bossas na cabeça mal protegida por um cabelinho ralo, boca má, olhos maus que em momento de cólera se inflamavam com um brilho de loucura. Esses dois entes difíceis ajustavam-se.
                        (Graciliano Ramos)



Na descrição da figura paterna, a caracterização explora essencialmente os dados físicos: “testa larga”, “dentes fortes”. “queixo rijo”, “fala tremenda”. Somente um aspecto psicológico define o pai: “homem sério”.

 Já a mãe se caracteriza quase que integralmente através de impressões psicológicas: “enfezada”, “ranzinza”, “boca má”, “olhos maus”, “se inflamavam com um brilho de loucura”. Fisicamente, temos: “bossas na cabeça mal protegida por um cabelinho ralo”.


Meu pai era um sonhador, minha mãe uma realista. Enquanto ela   mantinha os pés   firmemente plantados na terra, ele se deixava erguer no balão iridescente de sua fantasia, recusando ver a realidade, oferecendo a Lua a si mesmo, e aos outros, desejando sempre o impossível...
                              (Érico Veríssimo)



No texto de Veríssimo, somente a visão psicológica compõe a imagem do pai e da mãe; enquanto ele é “sonhador”, ela é “realista”;

O autor transmite apenas traços do comportamento: anseios, a mentalidade, a visão da realidade.



# Autorretrato



Passo  então à inspeção. O vidro me manda a cara espessa dum velho onde já não descubro o longo pescoço do adolescente e do moço que fui, nem seus cabelos tão densos que pareciam dois fios nascidos de cada brilho. Castanho, meu belho moreno corado. A beiçalhada sadia... Hoje o pescoço encurtou, como se a massa dos ombros tivesse subido por ele, como cheia em torno de pilastra de ponte. Cabelos brancos tão rarefeitos que o crânio aparece dentro da transparência que eles fazem. Olhos avermelhados, escleróticas sujas. Sua expressão, dentro do empapuçamenteo e sob o cenho fechado, é de tristeza e tem um quê da máscara de choro de teatro. (...) Par de sulcos fundos saem dos lados das ventas arreganhadas e seguem com as bochechas caídas até o contorno da cara. A boca também despencou e tem mais ou menos a forma de um “ V ”  muito aberto. Dolorosamente encaro o velho que tomou conta de mim e vejo que ele foi configurado à custa de uma espécie de desbarrancamento, avalanche, desmonte – queda dos traços e das partes moles deslizando sobre o esqueleto permanente. Erosão.
                                  (Pedro Nava)


Compondo seu autorretrato, Pedro Nava empreende um percurso patético sobre os reflexos do próprio rosto, desvendando-lhe as marcas do tempo. A juventude é lembrada para pôr em relevo a velhice: “já não descubro o longo pescoço do adolescente e do moço que fui”. As comparações produzem uma imagem exacerbada da senilidade: “Hoje o pescoço encurtou, como se a massa dos ombros tivesse subido por ele, como cheia em torno de pilastra de ponte”. 

Do inventário lexical – adjetivos, verbos e substantivos – usados para se autodefinir, resultam impressões de desencanto, desalento e tristeza: “sua expressão, dentro do empapuçamento e sob o            cenho fechado, é de tristeza e tem um quê de máscara de choro do teatro”.


Uma imagem caricatural surge da dimensão hiperbólica dos traços: “ventas arreganhadas”; ”boca também despencou (...)”; “tem mais ou menos a forma de um “ V “  muito aberto”.

Metáforas de grande expressividade traduzem a visão amarga e angustiante da senectude: “Dolorosamente encaro o velho que tomou conta de mim e vejo que ele foi configurado à custa de uma espécie de desbarrancamento, avalanche, desmonte – queda dos traços e das partes moles deslizando sobre o esqueleto permanente. Erosão”.

Autorretrato
Eu sou um menino maior que muitos e menor que outros. Na cabeça tenho cabelo que mamãe manda cortar muito mais do que eu gosto e, na boca, muitos dentes, que doem.
Estou sempre maior que a roupa, por mais que a roupa do mês passado fosse muito grande. Só gosto de comer o que a mãe não me quer dar e ele só gosta de me dar o que eu detesto. Em matéria de brincadeiras as que eu gosto mais são as perversas, mas essa minha irmãzinha grita muito
.

                                 (Millôr Fernandes)



Com irreverência e  humor, Millôr Fernandes recupera, num autorretrato, traços psicológicos e linguísticos da criança. 

As noções de tamanho – relevantes no universo infantil – ganham comicidade nos ingênuos paralelismo semânticos: “Eu sou um menino maior que muitos e menor que outros”. A redundância tipicamente primária “Na cabeça tenho cabelo...e, na boca, muitos dentes, que doem” reproduz o ponto de vista de um observador infantil, cujas impressões físicas e subjetivas se determinam pela comparação e pelo gosto. 

É, pois, uma leveza de estilo que se opõe frontalmente à austeridade da linguagem de Pedro Nava.


# retrato grotesco

Bocatorta

Bocatorta excedeu a toda a pintura. A hediondez personificara-se nele, avultando, sobretudo, na monstruosa deformação da boca. Não tinha beiços, e as gengivas largas, violáceas, com raros cotos de dentes bestiais fincados às tontas, mostravam-se cruas, como enorme chaga viva. E torta, posta de viés na cara, num esgar diabólico, resumindo o que o feio pode compor de horripilante. Embora se lhe estampasse na boca o quanto fosse preciso para fazer aquela criatura a culminância da ascosidade, a natureza malvada fora além, dando-lhe pernas cambaias e uns pés deformados que nem remotamente lembrariam a fora de um pé humano. E olhos vivíssimos, que pulavam das órbitas empapuçadas, veiados de sangue na esclerótica amarela. E pele grumosa, escamada de escaras cinzentas. Tudo nele quebrava o equilíbrio normal do corpo humano, como se a teratologia caprichasse em criar a sua obra-prima.

                                  (Monteiro Lobato)



Quando as características físicas de uma personagem fogem à normalidade de traços, essas anomalias podem definir-se numa visão que ultrapassa o possível  para compor o hediondo, o grotesco. 

A caracterização de Monteiro Lobato, através de comparações e metáforas, põe em evidência uma aberração teratogênica que aproxima o patológico do animalesco: “ e as gengivas largas, violáceas, com raros cotos de dentes bestiais fincados às tontas, mostravam-se cruas, como enorme chaga viva”.


# Caricatura


Cabelos compridos

- Coitada da Das Dores, tão boazinha...
Das Dores é isso, só isso – boazinha. Não possui outra qualidade. É feia, é desengraçada, é inelegante, é magérrima, não tem seios, nem cadeiras, nem nenhuma rotundidade posterior; é pobre de bens e de espírito; e é filha daquele Joaquim da Venda, ilhéu de burrice ebúrnea – isto é, dura como o marfim. Moça que não tem por onde se lhe pegue fica sendo apenas isso – boazinha.
- Coitada da Das Dores, tão boazinha...
Só tem uma coisa a mais que as outras – cabelo. A fita da sua trança toca-lhe a barra da saia. Em compensação, suas ideias medem-se por frações de milímetro, tão curtinhas são. Cabelos compridos, ideias curtas – já o dizia Shopenhauer.
A natureza pôs-lhe na cabeça um tablóide homeopático de inteligência, um grânulo de memória, uma pitada de raciocínio – e plantou a cabeleira por cima. Essa mesquinhez por dentro. Por fora ornou-lhe a asa do nariz com um grão de ervilha, que ela modestamente denomina verruga, arrebitou-lhe as ventas, rasgou-lhe boca de dimensões comprometedoras e deu-lhe uns pés... Nossa senhora, que  pés! E tantas outras pirraças lhe fez que ao vê-la todos dizem comiserados:
- Coitada da Das Dores, tão boazinha...

                       (Monteiro Lobato)


O humor debochado despontou da esdrúxula caracterização da personagem. O discurso direto reiterado (“ – coitada da Das Dores”) reproduz uma impressão generalizada (“ao vê-la todos dizem comiserados”) que se confirma nas caracterizações particulares do observador:


É feia, é desengraçada, é inelegante, é magérrima (...).

A combinatória vocabular é típica da capacidade inventiva de Monteiro Lobato: “Ilhéu de burrice ebúrnea”. “um tablóide homeopático de inteligência”, “um grânulo de memória”, “ornou-lhe a asa do nariz com um grão de ervilha”. 

A linguagem é íntima do leitor, pois instaura a comicidade que torna inventiva e original a visão caricatural de uma figura feminina.




#Tipo

Lá vem ele. E ganjento, pilantra: roupinha de brim amarelo vincada a ferro; chapéu tombado de banda, lenço e caneta no bolsinho do jaquetão abotoado; relógio de pulso, pegador de monograma na gravata chumbadinha de vermelho.

                        (Mário Palmério)

Se a criatura é a exorbitância sobre os traços  definidores de uma personagem, o tipo é a representação ou o modelo que se firmou culturalmente, sobretudo nas artes e na literatura.


O despojamento e a irreverência da malandragem  têm nos gestos e nas roupas a sua expressividade maior: vinco, chapéu  de banda, lenço e caneta à mostra, jaquetão abotoado, relógio de pulso e pegador de gravata. O  observador explora visualmente esses adereços  que tipificam o malandro.


A roupa é um recurso de aparência que a literatura brasileira consagrou no tipo que vive de expedientes e abusa da confiança alheia.






2-descrição de cenário


A casa de Botafogo

Prédio talvez um pouco antigo, porém limpo; desde o portão  da chácara pressentia-se logo que ali habitava gente fina e de gosto  bem educado; atravessando-se o jardim por entre a simetria  dos canteiros  e limosas estátuas cobertas de verdura e enormes  vasos de tinhorões e begônias do Amazonas, e bolhas de vidro de várias cores com pedestral de ferro fosco, e lampiões de três globos que surgiam de pequeninos grupos de palmeiras sem tronco, e banco de madeira  rústica, e tambores de faiança azul-nanquim, alcançava-se  uma vistosa escadaria de granito, cujo patamar guarneciam duas grandes águias de bronze polido, com as asas em meio  descanso , espalmando as nodosas garras sobre colunatas de pedra branca. Na sala de entrada, por entre muitos objetos de arte, notava-se, mesmo de passagem, meia dúzia de telas originais; umas em cavaletes, outras suspensas contra a parede por grossos cordéis de seda frouxa: e, afastando o soberbo reposteiro de repes verde que havia na porta do fundo, penetrava-se imediatamente no principal salão da casa.

                           (Aluísio Azevedo)

É mais do que uma enumeração de plantas e adornos, pois o observador procede a um minucioso inventário de detalhes, entre matérias, contornos e cores: “atravessando-se o jardim por entre a simetria dos canteiros e limosas estátuas (...) e tamboretes de faiança azul-nanquim”.


Isento de captações subjetivas, o autor atravessa os espaços, registrando-os com fidelidade fotográfica.

Trata-se de uma descrição objetiva de cenário.



Há um pôr-de-sol de primavera e uma velha casa abandonada. Está em ruínas.
A velha casa não mais abriga vidas em seu interior. Tudo é passado. Tudo é lembrança. Hoje, apenas almas juvenis brincam despreocupadas e felizes entre suas paredes trêmulas.
Em seu chão, despido da madeira polida que a cobria, brotam ervas daninhas. Entre a vegetação que busca minimizar as doces recordações do passado, surge a figura amarela e suave da margarida, flor-mulher. As nuanças de suas cores sorriem e denunciam lembranças de seus ocupantes.
A velha casa está em ruínas. Pássaros saltitam e gorjeiam nas amuradas que a cercam. Seus trinados são melodias no altar de temo à espera de redentoras orações. Raízes vorazes de grandes árvores infiltram-se entre as pedras do alicerce e abalam suas estruturas.
Agoniza a velha casa.
Agora, somente imagens desfilam, ao longo das noites. As janelas são bocas escancaradas.
A casa velha em ruínas clama por vozes e movimento...

                         (Geraldo M. de Carvalho)


Na descrição de Geraldo M. de Carvalho, o observador enquadra liricamente uma casa em ruínas. 

Lançando sua visão subjetiva e nostálgica sobre o cenário, reveste de metáforas e impressões sinestésicas os espaços que sua sensibilidade percorre: “paredes trêmulas”, “suas cores sorriem”, “melodias no altar do tempo”, “raízes vorazes”, “agoniza a velha casa”. “as janelas são bocas escancaradas”

Predomina, portanto, a descrição subjetiva do cenário.


Uns inhos engenheiros

Onde eu estava ali era um quieto. O ameno âmbito, lugar entre-as-guerras e invasto territorinho, fundo de chácara. Várias árvores. A manhã se-a-si bela: alvoradas aves. O ar andava, terso, fresco. O céu – uma blusa. Uma árvore disse quantas flores, outra respondeu dois pássaros. Esses, limpos. Tão lindos, meigos, quê? Sozinhos adeuses. E eram o amor em sua forma aérea. Juntos voaram, às alamedas frutígeras, voam com uniões e discrepâncias. Indo que mais iam, voltavam. O mundo é todo encantado. Instante estive lá, por um evo , atento apenas ao auspício.
Perto, pelo pomar, tem-se o plenário deles, que pilucam as frutas: gaturamossabiassanhaços. De seus pios e cantos respinga um pouco até aqui. Vez ou vez, qual que qual, vem um, pessoativo, se avizinha. Aonde já se despojaram as laranjeiras, do redondo de laranjas só resta uma que outra, se sim podere ou muruchuca, para se picorar. Mas há uma fiqueira, porrada, a grande apípara. Os figos atraem. O sabiá pulador. O sabiazinho imperturbado. Sabiá dos pés de chumbo os sanhaços lampejam um entrepossível azul, sacam-se oblíquos do espaço, sempre novos, sempre laivos. O gaturamo é o antes, é seu reflexo sem espelhos, minúscula imensidão,é: minuciosamente indescriptível. O sabiá, só. Ou algum guaxe, brusco, que de mais fora se trouxe.
Diz-se tlique – e dá-se um dissipar de voos. Tão enfins, punhado. E mesmo os que vêm a outro esmo, que não o de frugivorar. O tico-tico, no saltitanteio, o safar-se de surpresa em surpresa, tico-te-tico no levitar preciso. Ou uma garricha, a corruir, a chilra silvetriz das hortas, de traseirinho arrebitado, que se espevita sobre a cerca, e camba – apontada, imenentíssima. De âmago: as rolas. No entre mil,porém, esse par valeria diferente, vê-se de outra espécie – de rara oscilabilidae e silfidez. Quê?, qual? Sei, num certo sonho, um deles já acudiu por “o apavoradinho”, ave Maria! E há quem lhes dê o apodo de Mariquinha Tece-seda. São os que sim sós. Podem-se imiscuir com o silêncio. O ao alto. A alma arbórea. A graça sem pausas. Amavio. São mais que existe o sol, mais a mim, de outrures. Aqui entramos dentro da amizade.

                              (  Guimarães Rosa )



Na criatividade linguística de Guimarães Rosa, uma paisagem campestre é recriada com dinamismo e poeticidade. 

O lirismo se faz presente nos neologismos: “gaturamossabiassanhaços”. “pessoativo”, “entrepossível”, “frugivorar”, “saltitanteio”, “silvetriz”. “amavio”, e outros recursos expressivos que dão cadência melódica no fragamento descritivo: “O sabiá, só”. “Tão enfins, punhado”. “O ao alto. A alma arbórea”. A presença do observador sensibilizado diante do cenário (“O mundo é todo encantado”, “tão lindos, meigos, quê?”) chega ao enternecimento quando capta cinematograficamente os movimentos do pássaros: “O tico-tico, no saltitanteio, a safar-se de surpresa em surpresa, tico-te-tico no levitar preciso”. 

A singularidade da linguagem garante a exclusividade do espaço retratado, que é o único, porque é roseano.


Bom estudo meus amores, com muita paz , luz  , tenham uma esplendorosa semana cheio de glórias e realizaçãos, com carinho de sua eterna Prof Dr Master Reikiana Aldry Suzuki 



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