domingo, 4 de setembro de 2016

REDAÇÃO XII - FOCO E DISCURSO NARRATIVO ALDRY SUZUKI AMO VOCÊS!!










REDAÇÃO CAPÍTULO XII  

foco e discurso narrativo  



ALDRY SUZUKI AMO VOCÊS !!


1. foco narrativo


Contar (ato de narrar) ou como contar (o estilo pessoal) implicam uma determinada posição do narrador com relação ao acontecimento. Assim, o narrador pode assumir três pontos de vista na narrativa.

Narrador-
Participante ou personagem

O narrador participante é uma das personagens, principal ou secundária, da sua história; ele está “dentro” da história e “vê” os acontecimentos de dentro para fora. Nesse caso, a narrativa, elaborada em primeira pessoa (eu – nós), tende a ser autobiográfica, memorialista ou confessional.

    Lembre-se: não se confunde auto com narrador. O autor tem existência real, é uma pessoa que existe fisicamente. O narrador é um personagem criado pelo autor para contar a história.


Coloque-me acima de minha classe, creio que me elevei bastante. Como lhes disse, fui guia de cego, vendedor de doce e trabalhador de aluguel. Estou convencido de que nenhum desses ofícios me daria os recursos intelectuais necessários para engendrar esta narrativa.
(Graciliano Ramos)


Narrador observador

O narrador observador simplesmente relata os fatos, registrando as ações e as falas das personagens; ele conta, como mero espectador, uma história vivida por terceiros. É a narrativa em terceira pessoa.


O Campos, segundo o costume, acabava de descer do almoço e, a pena atrás da orelha, o lenço por dentro do colarinho, dispunha-se a prosseguir o trabalho interrompido pouco antes. Entrou no escritório e foi sentar-se à secretária  
                            (Aluísio Azevedo)

Narrador onisciente

O narrador onisciente ou onipresente é uma espécie de testemunha invisível de tudo quando o corre, em todos os lugares e em todos os momentos; ele não só se preocupa em dizer o que os personagens fazem ou falam, mas também traduz o que pensam e sentem.

Portanto, ele tenta  passar para o leitor as emoções, os pensamentos e os sentimentos dos personagens.



Um segundo depois, muito suave ainda, o pensamento ficou levemente mais intenso, quase tentador: não dê, elas são suas. Laura espantou-se um pouco: por que as coisas nunca eram dela?

(Clarice Lispector)



2. discurso narrativo

Na composição de um texto narrativo, o narrador pode reproduzir a fala do personagem, empregando as seguintes possibilidades: discurso indireto, discurso indireto livre.

Discurso direto

No discurso direto, o narrador reproduz na integra a fala das personagens ou interlocutores. Geralmente essa dala é introduzida por travessão.



- Bonito papel! Quase três da madrugada e os senhores completamente bêbados pediu:
- Sem bronca, minha senhora. Veja logo qual de nós quatro é o seu marido que os outros querem ir para casa.
(Stanislaw Ponte Preta)



Observe que, no exemplo dado, a fala da personagem é introduzida por um travessão, que deve estar alinhado dentro do parágrafo e fica no meio da linha (entre a linha de cima e a de baixo).


O discurso direto geralmente apresenta verbos elocução (ou declarativos ou dicendi) que indicam que está emitindo a mensagem.

Os verbos declarativos ou de elocução mais comuns são:


acrescentar  dizer        interromper  reclamar
afirmar        esclarecer   intervir      repetir
concordar    exclamar    mandar      replicar 
consentir     explicar      ordenar    responder
contestar     gritar         pedir        retrucar 
continuar     indagar      perguntar solicitar 
declarar       insistir       prosseguir
determinar   interrogar  protestar


Note que esses verbos caracterizam até estados interiores, ou situações emocionais das personagens, como, por exemplo, os verbos protestar, gritar, ordenar e outros.


Esse efeito pode ser também obtido com o uso de adjetivos ou advérbios aliados aos verbos de elocução: falou calmamente, gritou histérica, respondeu irritada, explicou docemente.

O dialogo representa a fala do personagem, é seu meio de expressão e pode, por isso, apresentar diferentes níveis de linguagem, do falar caipira à gíria citadina.



Oi, brother! Você que manja de uma leitura legal, tem mais é que entra numa tremenda curtição! Nada de moleza, malandro! Num dia de sol beleza como esse, pegue as ua mina e faça um programa diferente. Se a galera esta noutra, vocês podem ir ao clube ou mesmo ao bosque curti uma leitura maneira.


                             ***


Para não perder informação alguma, capitão punha a orelha na boca de cada interlocutor:
Perguntava:
- Mais esse dicumento num é farso?
- Nhor não – dizia o correio – Eu tive com o major Chiquinho: e ele falou pra mim que a letra é dele e que vai pagar até a entrada da seca, no mais tardar.
(Bernardo Élis)

Nem sempre o autor indica de quem são as falas, já que elas se esclarecem dentro do contexto.

O exemplo abaixo ilustra essa possibilidade:


O paranoico só fala no telefone tapando o bocal com um lenço. Para disfarçar a voz.
- Podem estar gravando.
- Mas você ligou para saber a hora certa!
- Nunca se sabe.
(Luís Fernando Veríssimo)

O dialogo acelera a narrativa, levando o leitor a entra em contato direto com os personagens.

O narrador apenas dá indicações sobre quem fala. Além de imprimir mais dinamicidade e realismo à narração, o diálogo presentifica a história.

Os traços linguísticos do discurso direto revelam a identidade cultural e social da personagem e, ao mesmo tempo, oferecem elementos para sua caracterização psicológica.


Segundo Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo), “no plano expressivo, a força da narração em discurso direto provém essencialmente de sua capacidade de atualizar o episódio, fazendo emergir da situação o personagem, tornando-a viva para o ouvinte, á maneiro de uma cena teatral, em que o narrador desempenha a mera função de indicador das falas.

Estas, na reprodução direta, ganham naturalidade e vivacidade, enriquecidas por elementos linguísticos tais como exclamações, interrogações, interjeições, vocativos e imperativos, que costumam impregnar de emotividade a expressão oral”
Observe o efeito dos diálogos na pequena narração a seguir:






Namorados

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
- Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listada?
A moça se lembrava:
- A gente fica olhando....
O rapaz prosseguiu com uma lagarta listrada.
- Antônia, você parece uma lagarta listada.
O rapaz concluiu:
- Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
(Manuel Bandeira)



Ao utilizar o discurso direto – diálogos (com ou sem travessão) entre as personagens -, pode-se, quanto à pontuação, optar por um dos três estilos abaixo:

Estilo 1
- Que tal o carro? – perguntou o João.
- Horroroso! – respondeu Antônio.

Estilo 2
João perguntou: “Que tal o carro?”
Antônio respondeu: “Horroroso!”

Estilo 3
- Estou vendo que você adorou o carro, disse efusivamente João.
- Você está redondamente enganado, retrucou Antônio.

Observação: o estilo 2 só deve ser utilizado em caso de oração afirmativa.

Discurso indireto

No discurso indireto, o narrador exprime indiretamente a fala da personagem.

O narrador funciona como testemunha auditiva e passa para o leitor o que ouviu da personagem. Nessa transcrição, o verbo aparece na terceira pessoa, sendo imprescindível a presença de verbos dicendi (dizer, responder, retrucar, replicar, perguntar, pedir, exclamar, contestar, concordar, ordenar, gritar, indagar, declarar, afirmar, mandar etc.), seguidos dos conectivos que (dicendi afirmativo) ou se (dicendi interrogativo), para introduzirem a fala da personagem na voz do narrador.


Observe nos exemplos seguintes os discursos indiretos grifados:


“Ele começou, então, a conta que tivera um sonho estranho.”

“Todos se calaram para ouvi-lo e ele, muito sério, perguntou qual era o assunto. Informado, prosseguiu dizendo que estava profundamente interessado em colaborar.”


“João perguntou se ele estava interessado nas aulas.”

Na narração, para reconstituir a fala da personagem, utiliza-se a estrutura do discurso direto ou do discurso indireto.

O domínio dessas estruturas é importante tanto para se empregar corretamente os tipos de discurso para se empregar corretamente os tipos de discurso na redação escolar, como para exercitar a transposição desses discursos exigida em alguns exames vestibulares.


Obs.: Os sinais de pontuação (aspas, travessão, dois-pontos) e outros recursos como grifo ou itálico, presentes no discurso direto, não aparecem no discurso indireto, a não ser que se queira insistir na autenticidade do enunciado.

Discurso indireto livre

Resultante da mistura dos discursos direto e indireto, existe uma terceira modalidade de técnica narrativa, o   chamado discurso indireto livre, processo de grande efeito estilístico.

 É uma espécie de monologo interior das personagens, mas expresso pelo narrador.

Este interrompe a narrativa para registrar e inserir reflexões ou pensamentos das personagens, com as quais passa a confundir-se.


As orações do discurso indireto livre são, em regra, independentes, sem verbos dicendi, sem pontuação  que marque a passagem da fala do narrador para a fala da personagem, mas com transposições do tempo do verbo


Discurso Direto
Discurso indireto
·       Presente
O eletricista, irritado. Comentou:
-Agora é o interruptor que não funciona!
·       Pretérito imperfeito
O eletricista, irritado, comentou que naquele momento (ou instante) era o interruptor que não funcionava.
·       Futuro do presente
Pedrinho gritou:
-Só sairei do meu quarto amanhã.
·       Futuro do pretérito
Predinho gritou que só sairia do seu quarto (ou do quarto dele) no dia seguinte.
·       Pretérito perfeito
esperei demais, retrucou com indignação.
·       Pretérito mais-que-perfeito
Retrucou com indignação que já esperava (ou tinha esperado) demais.
·       Imperativo
Olhou-a e disse secamente:
-Deixe-me em paz.
·       Pretérito imperfeito do subjuntivo
Olhou-a e disse secamente que ela o deixasse em paz.
·       Primeira ou segunda pessoa
Maria disse:
-Não quero sair com Roberto hoje.
·       Terceira pessoa
Maria disse que não queria sair com Roberto naquele dia.
·       Demonstrativo este ou esse
Retirou o livro da estante e acrescentou:
-Este é o melhor
·       Demonstrativo aquele
Retirou o livro da estante e acrescentou que aquele era o melhor.
·       Vocativo
-Você que café, João? Perguntou a prima.
·       Objeto indireto na oração principal
A prima perguntou a João  se ele queria café.
·       Forma interrogativa ou imperativa
Abriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa:
-E o amarelo?
·       Forma declarativa
Abriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa pelo amarelo.
·       Advérbios de lugar e de tempo
aqui
daqui
agora
hoje
ontem
amanhã
·       Advérbios de lugar e de tempo
dali, de lá
naquele momento, naquela ocasião, então
naquele dia
no dia anterior, na véspera
no dia seguinte
Pronomes demonstrativos e possessivos
essa(s), esta(s)
esse(s), este(s)
isso, isto
meu, minha
teu tua
nosso, nossa
Pronomes demonstrativos e possessivos
aquela(s)
aquele(s)
aquilo
seu, sua (dele, dela)
seu, sua (dele, dela)
seu, sua (deles, delas)

(pretérito imperfeito), dos pronomes (primeira pessoa) e, como são questionamentos da personagem, os trechos aparecem geralmente com pontos de interrogação.

O foco narrativo deve ser de terceira pessoa.


Este discurso é muito empregado na narrativa moderna, pela fluência e ritmo que confere ao texto.
Na passagem do discurso direto para o indireto, cabem as seguintes observações quando à construção da frase:



Deu um passo para a catingueira. Se ele gritasse “Desafasta”, que faria a polícia? Não se afastaria, ficaria colado ao pé de pau. Uma lazeira, a gente podia xingar a mãe dele. Mas então... Fabiano estirava o beiço rosnava, aquela coisa arriada e achacada metia as pessoas na cadeira. Dava-lhes surra. Não entendia. Se fosse uma criatura de saúde e muque, estava certo. Enfim, apanhar do governo não é desfeita, e Fabiano até sentia orgulho ao recorda-se da aventura. Mais aquilo... soltou uns grunhidos. Por que motivo o governo aproveitava gente assim? Se ele tinha receio de empregar tios direitos. Aquela cambada só servia para morder as pessoas inofensivas. Ele, Fabiano, seria tão ruim se andasse fardado? Iria pisar os pés dos trabalhadores e dar pancadas neles? Não iria.
(Graciliano Ramos)
  
Discurso do narrador

Há também o discurso em que o narrador registra a ação das personagens, além de comentar, analisar, ingerir, interpretar e relacionar fatos da história. É o discurso do narrador.



De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja...   

 (Machado de Assis)


3.Fala interior da personagem



Monologo interior

Forma dramática ou literária do discurso da personagem consigo mesma.

No monologo interior, o narrador (em primeira, ou terceira pessoa) registra as emoções da personagem, suas divagações intimas, seus desabafos.

É como se o “eu interior” conversasse com um “outro eu” da personagem e desabafasse suas confidências.

Dessa forma, a personagem parece esquecer-se do leitor ou do ouvinte, escrevendo ou falando, de maneira desconexa, tudo  que lhe vem à mente, sem obedecer, necessariamente, à concatenação logica dos períodos e aos aspectos sintáticos tradicionais.

Essa associação livre de ideias traduz o “fluxo de consciência” da personagem, que o narrador transcreve utilizado, de preferência, o discurso direto ou o indireto livre.

Solilóquio

Alguns autores apresentam o solilóquio com as mesmas características do monologo; outros, porém, diferenciam-no pela linguagem e foco narrativo.


Enquanto n o monologo a linguagem pode apresentar-se desconexa, típica do fluxo de consciência, no soliloquio a linguagem aparece de forma logica e concatenada.


O soliloquio é recurso utilizado no romance e no teatro; pressupõe um figurante sozinho em face do leitor alta, portanto sempre em primeira pessoa.


O aventureiro Ulisses

Ainda tinha duzentos réis. E como eram sua única fortuna meteu a mão no bolso e segurou a moeda. Ficou com ela na mão fechada. Neste instante estava na avenida Celso Garcia. E sentia no peito todo o frio da manhã.
Duzentão. Que dizer: dois sorvetes de casquinha. Pouco.
Ah! Muito sofre quem padece? É uma canção de Sorocaba. Não. Não é. Então que é? Mui-to so-fre quem pa-de-ce. Alguém dizia isto sempre. Etelvina? Seu Cosme? Com certeza Etelvina, que vivia amando toda a gente. Até ele. Sujeitinha impossível. Só vendo o jeito de olha dela.
Bobagens. O melhor é ir andando.
Foi.
Pé no chão é bom só na roça. Na cidade é uma porcaria. Toda a gente estranha. É verdade. Agora é que ele reparava direito: ninguém andava descalço. Sentiu uma mal-estar horrível. As mãos a gente ainda esconde no bolsos mas os pés? Cousa horrorosa. Desafogou a cintura. Puxou as calças para baixo. Encolheu os artelhos. Deu dez passos assim. Pipocas. Não dava jeito mesmo. Pipocas. A gente da cidade que vá bugiar no inferno. Ajustou a cintura. Lentou as calças acima dos tornozelos. Acintosamente. E muito vermelhou as calças acima dos tornozelos. Acintosamente. E muito vermelho foi jogando os pés na calçada. Andado duro como se estivesse calçado.
       (Antônio de Alcântara Machado)

A narrativa de Alcântara Machado é introduzida por uma exposição sobre a condição social e física da personagem (“Ainda tinha duzentos réis”, “E sentia no peito todo o frio da manhã”) e o local em que ela se encontra (“Neste instante estava na Avenida Celso Garcia”).


O que evidencia a passagem imediata da exposição para o solilóquio é a linguagem popular e segmentada de Ulisses (“Duzentão. Quer dizer: dois sorvetes de casquinha. Pouco”).

A totalidade do terceiro parágrafo e a única linha do parágrafo seguinte reproduzem a fala interior da personagem.


O narrador retoma seu foco a partir de um lacônico “Foi”. 

O último parágrafo é construído com discursos indiretos livres – a fala do narrador e a da personagem aparecem fundidas sem o uso de verbos dicendi (disse, falou, respondeu etc.):

Desafogo e cintura. Puxou as calças para baixo. Escolheu os artelhos. Deu dez passos assim. Pipocas. Não dava jeito mesmo. Pipocas. A gente da cidade que vá bugiar no inferno”.

A expressividade do texto está na variação de atitudes da personagem, inicialmente sofrida (“A gente da cidade que vá bugiar no inferno).


Solilóquio de um menino de rua

Por que a gente vai ser menino de rua? Bem, começa com pobreza. Barraco de mora ou coisa pior; muita criança querendo comer, a mãe trabalha, pede esmola, ou cai na vida, como se diz. E então a gente fica sozinho, nem sempre a mãe traz comida –as crianças brigam uns com os outros. Mas o pior de tudo é o padrasto. Pai, pai mesmo, e raro de haver. Pouco menino de rua tem pai dele dentro de casa. Pai e mãe juntos, raríssimo. E pai sozinho, sem mãe, também, quase nunca. E padrasto tem ciúme da gente, tem raiva. Tem pena do prato de feijão que a gente come, chama agente de vagabundo. Vem logo pra bater. E ou a mãe não deixa, defende, e ele bate nela, e a gente se embola. Ou a deixa, aí a gente fica com ódio e então foge.
 Com menina ainda é pior. Muito raro padrasto que respeite. A menina vai se pondo moça, formando o corpo, já viu. Padrasto sabe que não é nada dela, nem padrasto mesmo de verdade – só amigado com a mãe. E ai, por que não? Toda menina que eu conheço tem medo do homem da mãe dela. E ela também sai de casa. Melhor qualquer homem que aquele velho cachaceiro, que nem pra mãe servia – a mãe, que é velha também.
Começa a gente fugindo por uns dias. Já sabe como é, os outros meninos contam. Na rua é tudo solto, se arranja comida em qualquer canto, pede esmola nos sinais de trafego, faz uma cara triste pra tudo que é mulher motorista – os meninos dizem que é para pedir a todas que, de cem, uma dá. E como passa mais de mil a toda hora – sempre se apanha um trocado.
Bem, não deixa de ser perigoso. Na hora de dormi então, pra quem não está vem enturmado, é fogo. Tem sempre um grandão que começa com agrados, os outros avisam: cuidado – esse cara quer te pegar. No começo a gente nem entende direito – e quando entende, ou corre, ou deixa. Pode ter quem goste; eu, só me dá vontade é de pegar uma faca e corta fundo o cachorrão. Um dia ainda faço isso e eles ai vão respeitar.
Dormi na calçada a gente acostuma. Faz cama de papel, arranja um papelão... agora aquelas donas da caridade andaram oferecendo cobertor. Mas é muito pouco cobertor para tanto menino – só algum apanha o seu.
O bom seria a liberdade, ninguém mandando, não tem escola, não tem mãe nem o homem dela enchendo o saco. Mas la um dia bate saudade. A gente arranja uns trocados, pega trem, volta em casa. Sem tem casa.
Mas não dá pra aguenta. Todo mundo zingando a gente de vagabundo, trombadinha, pivete. E os outros meninos dali, então parece tudo abestado. Daí, nem todos. Sempre tem um ou outro querendo fugir também. E na primeira vez que o padrasto levanta a mão pra nós, ou na mãe ou nas meninas, a gente se pode reage – mais nem sempre pode. E começa tudo outra vez.
(Rachel de Queiroz)


Resumindo:
Foco narrativo ou ponto de vista do narrador
·       Narrador personagem ou participante: foco narrativo em primeira pessoa;
·       Narrador observador: foco narrativo em terceira pessoa;
·       Narrador onisciente: foco narrativo em terceira pessoa.

Tipos de discurso
·       Direto (diálogo): o narrador reproduz textualmente a fala da personagem;
·       Indireto: o narrador conta o que a personagem fala;
·       Indireto livre: a fala da personagem funde-se com a fala do narrador;
·       Do narrador: o narrador conta a história e tece comentários sobre personagens e acontecimentos.

Monólogo
·       Em primeira ou terceira pessoa;
·       Registro do pensamento da personagem;
·       Discurso organizado de forma logica e concatenada.


Bom estudo meus amores de sua eterna Prof Dr Master Reikiana Aldry Suzuki bjs.



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