REDAÇÃO
XVI
DISSERTAÇÃO
ALDRY
SUZUKI AMO VOCÊS!!
Quando as pessoas não sabem falar ou escrever
adequadamente sua língua, surgem homens decididos a falar e escrever por elas
e não para elas.
(Wendel Johnson)
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O espírito humano é por natureza curioso, reflexivo. O
mundo que o instiga a pensar deve também instigá-lo a desafiar, criticar e
questionar as ideias que a coletividade e a sua cultura oferecem. Trabalhamos
ideias quando escrevemos.
Aprender a escrever é
desenvolver e concatenar ideias. A atividade redacional é produto de um
conteúdo, um acervo cultural, veiculado por uma linguagem adequada numa
estrutura coerente.
Para escrever é necessário
estimular o raciocínio, o espírito de observação, a capacidade de análise e
síntese.
É preciso, pois, pensar. Um
pensamento ordenado , quando revestido por um vocabulário expressivo, revela
um repertório preciso e comunicativo.
Quando refletimos sobre uma
questão, seja ela filosófica doutrinária, técnica, científica, seja de qualquer
outra natureza, mais que o domínio do
assunto, necessitamos de argumentos,
juízos, opiniões, capacidade interpretativa e analítica, sempre com
procedimentos lógicos que demonstrem as nossas reflexões para a explicação e
sustentação de pontos de vista.
A organização do pensamento
é fundamental, sobretudo na atividade dissertativa. Dissertamos quando
conceituamos uma ideia, discutimos uma questão, criticamos, explicamos ou
justificamos um assunto. A dissertação é um exercício cotidiano, utilizado toda
vez que se discute com alguém, tentando fazer valer uma opinião sobre qualquer
assunto, como, por exemplo, futebol.
Para produzirmos uma
dissertação, precisamos organizar as
ideias, acomodando-as numa estrutura discursiva convincente, persuasiva (tese,
desenvolvimento/argumentação e conclusão). A linguagem deve ter a clareza de um
pensamento disciplinado no exercício reflexivo e na leitura. A argumentação
deve apoiar-se nos conteúdos que nossas vivências, viagens, experiências
intelectuais e culturais proporcionam.
Para garantir o repertório
linguístico e cultural que se espera de um estudante do ensino médio, e de
foram especial de um vestibulando, a leitura é o canal mais fecundo, oferecendo
um universo de conhecimentos e de linguagens.
Observe, no texto
dissertativo abaixo, a ordenação de ideias , os juízos críticos, a análise e as
evidências.
O Brasil odeia as mulheres
O pintor vienense
Gustav Klimt (1862-1918) dedicou boa parte de sua maravilhosa obra às
mulheres, em todas as suas fases (infância, adolescência, vida adulta,
velhice e morte). Klimt celebra a humanidade da mulher, presentificada como
enigma, paixão, beleza, esperança e angústia. É interessante imaginar como o
mesmo Klimt pintaria a mulher hoje, se o seu contato com o mundo se resumisse
às notícias sobre como as mulheres são tratadas no Brasil. Como seria a
gestante de Klimt, se vivesse hoje no Brasil? Segundo o UNICEF, este país
apresenta o sexto maior índice de morte de gestantes no continente americano:
220 em cada 100 mil nascimentos (nos Estados Unidos, a taxa é de 30 para 100
mil). Entre as maiores causas estão a hemorragia, abortos praticados em
condições insalubres e uso de drogas.
O Brasil é o campeão
mundial de violência doméstica contra a mulher, como denunciou a organização
Human Rights Watch, na quarta
conferência da ONU sobre a Mulher (Pequim, setembro de 1995). Segundo o
relatório, em apenas dois anos, entre 1987 e 1988, foram cometidos no Brasil
pelo menos 6 mil crimes contra as mulheres, 400 dos quais homicídios
praticados por maridos e amantes. O princípio de “defesa de honra” contra
mulheres supostamente adúlteras tem peso nos julgamentos de maridos
homicidas, ainda que não tenha mais valor jurídico. A mesma conferência
denunciou a prática do tráfico de escravas no Brasil.
A violência sexual,
incluindo o estupro, é sabidamente, comum, embora seja difícil comprová-lo
estatisticamente, já que muitas vítimas preferem guardar silêncio a se expor
publicamente a insinuações maldosas (do tipo “encontrou o que queria” ou
“estuprou, mas não matou’).
A lista de horrores
poderia se prolongar quase que indefinidamente. Por exemplo, com o
“prostiturismo” que atinge o auge no carnaval do Rio e Salvador, com a
discriminação do terreno da política institucional, com as diferenças
salariais e no ambiente de trabalho. Em síntese, as mulheres brasileiras têm
grandes possibilidades de ser violentadas quando jovens, de morre quando
gestantes, de apanhar em casa – às vezes até a morte – de maridos ciumentos,
quando não são vendidas como escravas ou prostituídas. Isso tudo para não
falar de outras “pequenas” misérias da mulher branca e de classe média, tão
bem abordadas por Nelson Rodrigues, e sem tampouco nos determos na “coisificação” da mulher na propaganda
diária (mulheres nuas vendem até sandálias, biscoitos , máquinas de
escritório etc., etc.)
É realmente difícil
imaginar Klimt, nos dias de hoje, neste país.
Poucas nações destilam
tanto ódio contra as mulheres (perto do Brasil, as leis islâmicas que
discriminam a mulher com um bálsamo), mas poucas sabem disfarçar tão bem, sob
o verniz do mito, a sua própria pequenez e crueldade.
(José Arbex Jr., O Estado de S.
Paulo)
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1.
Definição e objetivos
Dissertar é expor ideias a
respeito de um determinado assunto. É discutir essas ideias, analisa-las e
apresentar provas que justifiquem e convençam o leitor da validade do ponto de
vista de quem as defende. Dissertar é, pois, analisar de maneira crítica situações
diversas, questionando a realidade e nosso posicionamento diante dela.
São objetivos da
dissertação:
·
Convencer alguém de que determinado de ponto
de vista é praticamente inquestionável.
Nunca é demais repetir que linguagem e pensamento formam um
só processo, impossível de ser desmembrado. Pensamos vocábulos assim como
criamos, alocamos e fundimos vocábulos para poder formular pensamentos.
Quando rejeitamos a expressão verbal, estamos fechando as comportas das
ideias e as riquezas interiores.
(Luís Carlos
Lisboa)
|
·
Dar a conhecer ou explicar qualquer assunto
com intenção informativa ou pedagógica.
Sendo o espaço
geográfico a realidade histórica mais imutável, sobre ele o homem vem
exercendo contínua atividade, no sentido de dominá-los por meio da técnica.
Desde que o homem iniciou a domesticação de animais e os utilizou para
reduzir as distâncias até a mais moderna tecnologia de transmissão por
satélites, o seu objetivo tem sido a eliminação do binômio espaço-tempo.
(Virgílio Noya Pinto)
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Discutir um assunto,
conferindo-lhe tom polêmico de debate, levando o leitor a tomar posição perante
o problema.
E por falar em
informática, já pensaram aqueles que estão procurando os cursos de
computação, que a informática contém em si os próprios germes da eliminação
do trabalho humano? Se isso for realizado, libertando o homem para tarefas
mais gratificantes, teremos realizado a utopia. Mas se, como tem sido feito
até aqui, a preocupação for apenas aumentar o lucro, as consequências
negativas serão assustadoras.
(Dulce Whitaker)
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2- Estrutura
A dissertação, comumente,
apresenta três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Introdução
É a apresentação do assunto. O parágrafo
introdutório caracteriza-se por apresentar uma ideia-núcleo por meio de uma
afirmação, definição, citação, etc.
Desenvolvimento
É a análise crítica da ideia
central. Pode ocupar vários parágrafos, nos quais se expõem juízos,
raciocínios, provas, exemplos, testemunhos históricos e justificativas que
defendem a ideia-núcleo proposta no primeiro parágrafo.
Conclusão
É a parte final do texto, na
qual se condensa a essência do conteúdo desenvolvido, reafirma-se o
posicionamento exposto na tese ou lança-se uma perspectiva sobre o assunto.
Assim, na dissertação
argumentativa, a introdução é a tese (ideia central) a ser discutida e provada nos
parágrafos seguintes; o desenvolvimento é a argumentação, ou seja, a discussão
de ideias que comprovam e fundamentam a tese; a conclusão é a retomada da tese
ou dos juízos discutidos e justificados na argumentação.
3.
Conteúdo
São inideias, formando a tessitura redacional
informativa, questionadora, analítica, interpretativa ou opinativa.
Para se redigir um texto
dissertativo, são indispensáveis:
Criticidade:
exame e discussão crítica do assunto por meio de argumentos convincentes,
gerados pelo acervo de conhecimentos pessoais. É um processo de análise e
síntese.
Clareza:
vocabulário preciso e coerente com as ideias expostas. O aprimoramento da
linguagem e a diversidade vocabular são fundamentais para adequar ideias e
palavras.
Unidade: o
texto deve desenvolver-se em torno de um assunto. As ideias que lhe são pertinentes devem suceder-se em
ordem sequente e lógica, completando e enriquecendo a ideia-núcleo expressa na
tese. Não deve haver redundância nem pormenores desnecessários.
Coerência: associação e
correlação das ideias na construção dos períodos e na passagem de um parágrafo
a outro. Os elementos de ligação são indispensáveis para entrosar orações,
períodos e parágrafos.
Observe como o texto a
seguir apresenta estrutura dissertativa bem definida. A tese é uma citação e
evidências e a conclusão retoma com concisão e objetividade o assunto do texto:
o fanatismo. Atente também para o conteúdo crítico, a clareza de ideias, a
unidade e a coerência que a dissertação apresenta.
O fanatismo de cada um
Parágrafo introdutório construído com citação a ser discutida na argumentação.
“ A fonte de nosso
declínio, a principal explicação dos sofrimentos de nosso povo reside em seu
desprezo pelas estruturas da nossa fé. Nossa juventude foi corrompida pela música,
pelo fato de andar com roupas sumárias, pelos jogos de xadrez e gamão, pelo
fato de ir ao cinema e de se vestir airosamente.”
Evidência:
observação crítica que explica a citação introdutória e confirma uma
evidência.
É Curioso notar como os
moralistas – de todos os credos, tempos e latitudes – têm sempre um discurso
semelhante. Este acima não é de um ministro da Justiça brasileira, ou bispo
censor, ou de senhoras chocadas com o realismo das novelas televisivas: é de
Khomeini, em 1980.
Exemplificação: fundamentação histórica, apresentando
exemplos de intolerância ideológica.
(...) A história
religiosa é política mostra que, em todos os tempos, o fanatismo é a arma
principal daqueles que acreditam que a sua é a única válida da vida e que
todas as outras visões devem ser destruídas.
A perseguição aos cristãos
(Roma), a Inquisição (Europa medieval) , o massacre dos judeus (Nazismo,
século xx) e o confinamento dos intelectuais (stalinismo,século XX) são
apenas alguns pouquíssimos exemplos de indolência. Basta lembrar que houve um
longo tempo em que os católicos promoviam chacinas e perseguições contra
todos os infiéis, enquanto os islamistas se especializam em queimar
bibliotecas em nome de Deus. ( ‘se todos esses livros falam de coisas com que
concordo, são inúteis; se falam de coisas de que discordo, precisam ser
destruídos”, disse um desses líderes fanáticos.)
Conclusão: perspectiva sobre o assunto (o
reconhecimento de nossos fanatismo).
(...) Todos podemos
agora olhar para nós mesmos e procurar o que existe de Khomeini no nosso
interior. Basta olhar para o espelho e procurar conhecer nossa intolerância
diária - religiosa, política, profissional, esportiva, sexual. Curiosamente,
talvez descubramos que somos todos fanáticos: basta que alguém arranhe alguma
de nossas crenças.
(Marcos
Antônio de Carvalho)
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4.
Delimitação do assunto
Quando temos um assunto para
discutir, faz-se necessário delimitá-lo para que possamos abordá-lo com mais facilidade,
principalmente quando ele é amplo.
Por exemplo, se o assunto a
ser discutido é televisão, devemos selecionar alguns aspectos para discutir,
considerando o tempo limitado para elaborar o texto no vestibular.
ASSUNTO:
A televisão
DELIMITAÇÃO
DO ASSUNTO:
1.
Causas da preferência popular pela televisão.
2.
O papel privilegiado de televisão entre os meios de
comunicação de massa.
3.
A televisão e a criança.
4.
A televisão ditando mudanças de comportamento.
5.
A televisão incitando a violência.
6.
O papel cultural da televisão.
7.
Concorrência e audiência entre as emissoras de
televisão.
8.
A televisão na criação de mitos.
9.
A televisão: monopólio do lazer das massas.
10. Televisão: o apelo
visual compromete o interesse pela leitura?
Além
das delimitações dadas, outras poderiam ser
acrescidas e cada uma delas seria um tema para um texto dissertativo.
Note que, para cada assunto
abrangente e genérico proposto para uma dissertação,
faz-se necessária uma delimitação para
que a redação não resulte numa costura de muitas abordagens, o que torna a
argumentação estéril e superficial. Assim, pense nas possíveis delimitações
que os seguintes assuntos podem sugerir: violência, religião, família,
ecologia, desemprego, publicidade, sexualidade, morte, educação, amor, saúde,
etc. A delimitação do assunto é muito pessoal e para isso concorre a
vivência, a experiência, a maturidade pessoal, além do conhecimento para
discuti-lo.
Devemos
manter uma postura crítica diante dos fatos cotidianos para poder avalia-los
melhor. Muitas vezes, na escola ou num exame vestibular, e até mesmo em
situações diárias, somos obrigados a
discutir assuntos que pouco conhecemos e, por isso, precisamos estar atentos
para questionar situações, valores, mudanças, enfim problemas que integram
nossa realidade.
Nos
textos que se seguem, temos duas abordagens, cada qual correspondendo a uma
delimitação diferente, sobre o mesmo tema proposto pela FOLHA DE S. PAULO:
“VOCÊ
ACHA QUE PICHAÇÃO É CASO DE POLÍCIA ?”
O
texto (1) disserta a favor da pichação. O assunto delimitado é a necessidade
da manifestação pública.
O
texto (2) disserta contra a pichação. O assunto delimitado é a repressão aos
pichadores.
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OBS:
Por se tratar de matéria jornalística em
que se combinam as preferências estilísticas do autor e as licenças redacionais
do veículo, o texto foi escrito em primeira pessoa.
5 .
interpretação do tema
Quando o tema é metafórico –
um poema, uma história em quadrinhos, uma ilustração, uma citação etc. - ,
deve-se interpretar seu significado. A essência da interpretação leva ao
assunto a ser discutido.
Ao interpretar um tema,
deve-se:
Primeiro: lê-lo
com atenção;
Segundo:
fazer primeiro uma interpretação referencial ( o sentido real das palavras, seu
aspecto denotativo);
Terceiro:
atentar para o fato de que na maioria das vezes
o tema merece uma interpretação conotativa, pois apresenta-se em linguagem
figurada, metafórica;
Quarto:
tentar decodificar a situação metaforizada.
Por exemplo, dado o tema “Numa
luta entre elefantes, o prejudicado é o capim”, a
sequência correta para melhor interpretá-lo seria:
Primeiro: Há
alguma palavra de sentido desconhecido?
Segundo:
Denotativamente, podemos concluir que o capim deve ficar bem estragado sob o
peso de dois elefantes em luta. Será que é só isso?
Terceiro: Existe o plano de
conotação , da interpretação subjacente
ao significado primeiro. Qual a relação de significação entre elefante e capim?
Conotativamente, elefante representa força, grandeza, poder. E capim?
Representa pequenez, grande número, fragilidade.
Quarto: que situação está aí
representada? Perceba as associações:
a)
Algo grandioso que fere o que é pequeno;
b)
O poder ou a autoridade que subjuga os
indefesos;
c)
Os governantes que oprimem os governados;
d)
As discórdias e disputas entre líderes que
trazem consequências nefastas aos governados.
A temática delimitada na letra d) é um dos
assuntos pertinentes ao tema proposto. Outros, como desemprego, violência,
baixos salários e até relações familiares ou patronais, sugerem também formas
de opressão que comprovam dialeticamente a supremacia dos “grandes “
(elefantes) sobre os “pequenos” (capim).
5.
Distinção entre tema e título
Enquanto o tema compreende o assunto proposto para
discussão, o título sintetiza o
conteúdo discutido; por isso, título não se confunde com tema.
O título deve ser dado,
preferencialmente, após a elaboração do texto. Assim, ele representa a
“moldura” do texto e a delimitação dada ao tema.
Observe os exemplos:
Tema: Ainda não estamos habituados com o mundo. Nascer é
muito comprido.
(Murilo Mendes)
Título: Aprendizado
constante.
|
Tema: Eu sou trezentos, sou
trezentos e cincoenta, mas um dia afinal eu toparei comigo mesmo...
(Mário de Andrade)
Título: As máscaras do homem.
|
Tema: Não concordo com uma
palavra sequer do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de
dizê-las.
(Voltarie)
Título: Liberdade de
expressão.
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Geralmente, os vestibulares
fornecem o tema por meio de citações, poemas, fragmentos de textos
(jornalísticos, literários, etc.) e outros.
Nesse caso, você deve dar um
título coerente à proposta dada e ao
texto que você produziu. Portanto, só intitule a redação depois de redigi-la e
compará-la à proposta. Não sublinhe o título nem o destaque com aspas.
Se ocorrer de o vestibular
fornecer o título, você deve utilizá-lo como tal, centralizando-o e pulando uma
linha para iniciar sua redação. Quando o vestibular dá o título, você deve
extrair dele os possíveis conteúdos que ele possa sugerir.
Caso o título seja, por
exemplo, A construção do saber,
você deve deduzir o conteúdo que tematiza a discussão: o aprendizado
existencial do homem, a instrução formal, as áreas do conhecimento e sua
cientificidade.
7.Dissertação
expositiva e argumentativa
Expositiva
Disserta-se
de maneira expositiva ou argumentativa. Um texto é expositivo quando aborda uma
verdade inquestionável, dá a conhecer uma informação ou explica pedagogicamente
um assunto, sem apresentar discussão.
O corpo fala
Comemora-se neste ano,
em várias partes do mundo, o centenário de nascimento do austríaco Wilhelm
Reich, controvertido médico cuja obra ainda hoje fomenta intensas polêmicas
entre os profissionais da área de sáude mental.
Não foram poucos os
obstáculos que seu mestre Sigmund Freud já enfrentava no fim do século 19 ao
explicar o funcionamento da psique humana com base em conceitos tais como o
de complexo de Édipo ou de sexualidade infantil. Explicações chocantes para o
meio cultural da época, ainda fortemente marcado pelo conservadorismo moral.
Reich aprofundou o
debate sobre a importância da sexualidade no comportamento humano,
relacionando-o aos acontecimentos políticos de seu tempo, marcado pelo
advento do nazismo e da Guerra Fria. Seu célebre estudo sobre a psicologia de
massas do fascismo custou-lhe o exílio na Suécia e depois na Noruega.
A maior contribuição da
abordagem reichiana, que com altos e baixos foi se firmando desde a morte do
médico, em 1957, talvez seja sua aguda compreensão das patologias físicas de
origem psíquica.
Desde Reich, tornou-se
mas fácil compreender e aceitar que, segundo o jargão consagrado por seus
discípulos, “o corpo fala”.
Seu mérito talvez se
limite a chamar a atenção para as muitas manifestações significativas do
corpo. Foi um alerta para um Ocidente que, historicamente, sempre valorizou
os aspectos verbais e racionais da espécie humana.
(“Editorial”, Folha de S. Paulo)
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Argumentativa
Já o
texto argumentativo se sustenta com
exemplos elucidativos, interpretação analítica, evidências e juízos, sempre com
visão crítica.
Receita para desconcentrar a renda
Entre todas as distorções da sociedade brasileira, a mais
resistente no tempo e no espaço é a concentração da riqueza nas mãos de
poucas pessoas. Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), divulgado na semana passada, reafirma essa noção. O trabalho mostra
que de 1992 a 1999 a expectativa de vida a escolaridade, a mortalidade
infantil e quase todos os outros indicadores sociais do país melhoraram , com
exceção da distribuição de renda. Nesse particular, o país ficou um pouco
pior. Os 10% mais ricos, que detinham 45% da renda nacional, passaram a
possuir 47,4%. É um dos piores desempenhos internacionais do Brasil. Nesse
quesito perdemos até para os vizinhos mais pobres da América Latina.
A concentração de renda é um sinal resistente, daqueles que
misturam razões culturais, geográficas, étnicas e políticas. Suas raízes são
profundas e remontam às iniquidades do Brasil colonial, à escravidão, à falta
de planejamento e ao mau funcionamento dos serviços públicos, que deixaram
suas marcas na História brasileira. A constatação do novo estudo do IBGE
mostra quanto essa distorção é resistente. Ela não se alterou nem com o
crescimento da renda dos pobres, pois os ricos se distanciaram ainda mais.
Não se alteraram com os efeitos distributivos da estabilização da moeda e o
fim da inflação trazido pelo Plano Real, que reconhecidamente foi um dos
processos mais desconcentradores de renda do capitalismo.
O Brasil ficou moderno demais para conviver com a injustiça. A melhora geral
do país nos outros quesitos mostra que a questão da concentração de renda
chegou a um ponto em que, pela primeira vez na História do Brasil, pode ser
atacada com chance de sucesso. Os especialistas dizem que uma das saídas
é justamente progredir no campo
social. Entre as outras saídas que
funcionaram em nações como a Coreia do Sul, o Japão e a Itália, o
investimento maciço em educação é a que dá resultados mais duradouros, mesmo
que a longo prazo. Essencial também é cobrar menos impostos e gastar melhor.
Os países mais bem-sucedidos na distribuição de renda foram também aqueles
que diminuíram o tamanho do Estado, estabilizaram seus gastos e puderam dessa
forma induzir um crescimento mais sadio e justo da economia. A receita está
aí.
É hora de usá-la.
(Editorial da Veja)
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8.Dissertação
objetiva e subjetiva
Objetiva
Ao se expor um problema, ao
se discutir um assunto, pode-se abordá-lo objetiva ou subjetivamente.
Se
a exposição de um assunto se apresentar impessoal, marcada pela linguagem
denotativa e referencial, a dissertação é objetiva.
Miséria nacional:
fome no país ataca 90 milhões
O Brasil é grande
colecionador de títulos mundiais de baixo consumo de calorias e de outras
deficiências.
Um dos últimos
relatórios do Banco Mundial sobre a aplicação dos empréstimos no Brasil
confirmou uma realidade: o dinheiro aplicado no país em programas de cunho
social não é bem gasto e a eficácia desses programas é bastante questionável.
Gasta-se muito dinheiro com a operacionalização dos projetos e o que sobra
para que o auxílio direto à população fica muito baixo da verba original. A
solução do problema da fome tem, obrigatoriamente, que passar por soluções de
questões estruturais como a divisão de renda e a reforma agrária.
Noventa milhões de
brasileiros passam fome. Destes, 50 milhões têm fome absoluta, e o restante o
que chamamos de fome marginal, ou seja, brasileiros que estão comendo, mas
não tudo o que necessitam. As pesquisas que existem em termos de
universidades e órgãos federais mostram as deficiências proteico-vitamínicas
na população: são graves em todo o país.
Temos quatro carências
graves hoje no Brasil: a falta de vitamina A; a anemia, ou seja, a falta de
ferro; o bócio, por falta de iodo; e a cárie dentária, por falta de flúor.
O Brasil coleciona títulos de baixo consumo
de calorias, proteínas animal e
vegetal e vários outros tipos de alimentos energéticos. Nossa mortalidade
infantil é altíssima, chegando a 130 por mil em algumas regiões, isto é,
chega a 13%.
As carências
nutricionais específicas, hipovitaminose A, anemia, cárie e bócio são fáceis
de resolver. São de baixo custo. Pode-se resolver com medicina preventiva,
como se fosse uma vacinação. Já a desnutrição energético-proteica, a desnutrição
global, só mesmo com comida. As cestas básicas ajudam, mas são solução
paliativa. Se no plano político a distribuição de renda se mostra difícil, é
preciso que, pelo menos, o governo ajude as famílias carentes a conseguir
gerar renda. Tendo uma renda, ou conseguindo aumenta-la, as próprias famílias
vão-se incumbir de comer melhor.
A complexidade desse
problema deve-se à exportação. O país tem que produzir para consumo interno e
tem que produzir para exportar, sendo que
a exportação tem importância fundamental dentro de um quadro de
economia dependente internacionalmente: o Brasil tem que produzir para pagar
sua dívida externa, cumprir acordos econômicos, internacionais, etc.
Os alimentos produzidos
são, em parte, exportados, e o restante comercializado para quem tem
dinheiro. O crucial é que grande parte da população não tem poder aquisitivo.
Mas não é só na área de nutrição; a educação e a saúde também apresentam o
mesmo problema. No nosso caso, os recursos são baixíssimos, o que permite
atendimento a um número bastante reduzido da população. Enquanto os recursos
forem pequenos, os programas serão tímidos.
Por isso fica difícil
pensar numa ação conjunta de organismos governamentais e entidades de ação
social para o combate à desnutrição.
(Mozahir Salomão)
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Subjetiva
Se
há predomínio da linguagem metafórica (às vezes poética), numa abordagem introspectiva (às vezes
inflamada ), provocando a emotividade do
leitor, a dissertação é subjetiva.
Nossa fome
Que países em guerra,
ou vítimas de catástrofes, tenham conhecido e ainda conheçam a fome, é
compreensível, ainda que não se explique. Que países vítimas de clima ingrato
e solo ainda mais ingrato tenham que dosar a ração alimentar, entende-se.
Que um país da extensão
do nosso, com um oceano a banhar-lhe a costa, com terras cultiváveis,
inclusive as do ressequido Nordeste, conheça o triste espetáculo da fome, é
mais do que triste e lamentável: é revoltante.
O país apontado como
futuro celeiro do mundo está vendo seus filhos remexendo monturos e latas de
lixo, saqueando, minguando de fome e, no desespero de não saber onde
encontrar a próxima ração dos filhos, caindo na violência.
Por estar perto demais
de todos nós, o problema não pode deixar o brasileiro indiferente. Não é
possível disfarçar a fome com consumismo, sexo, futebol e palavras de
esperança. A barriga vazia dói, principalmente nas crianças, afetando-lhes o
cérebro, que mal pode pensar.
O Zé e a Maria começam
a desmaiar nas filas e no batente; o dia inteiro as crianças choram famintas;
muitas morrem antes de completar um ano de idade, vítimas da desnutrição.
Aumentam as doenças, a violência, o medo, o desemprego e a fome os acompanha.
Não se explica por que
um país como o nosso se endividou, planejou tão mal e plantou de maneira tão
errática, permitindo preços extorsivos que dificultam o plantio e a colheita,
tornando impossível a compra do que o solo produziu.
Na terra que, segundo
Caminha, “é boa e tudo dá”, o povo passa fome.
O governo, a oposição e
as lideranças precisam achar a resposta à fome antes da anarquia. Um povo com
fome devora tudo, inclusive seus líderes. No momento o Brasil só tem um
problema: Comida!
Outros problemas podem
esperar, esse não.
(Marilda Prates)
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Observe que os textos lidos
apresentam afinidade de conteúdo – o
tema fome – mas diferentes abordagens.
No primeiro, a linguagem denotativa,
a função referencial, o teor informativo e impessoal do texto classificam-se no
objetivo.
Quanto ao segundo texto, a linguagem contundente e inflamada mostra a
predominância da função emotiva sobre a referencial, o que distingue a
dissertação como subjetiva. Note: ambos analisam, criticam, discutem.
9.
Generalização e particularização
Podemos desenvolver uma
dissertação encaminhado nosso raciocínio indutivamente, ou seja, partindo de um
fato particular para uma generalização; ou dedutivamente, tomando um princípio
geral para chegar a uma conclusão particularizante. O senso comum resulta
dessas duas experiências lógicas.
Indução
A indução leva-nos a tomar
casos particulares, observados como verdadeiros, para chegar a casos similares,
ainda não observados. Por exemplo: João, discutindo com Mário, descobriu que
este, apesar de ter alcançado média em todas as matérias, não foi aprovado no
vestibular, pois não obteve a nota mínima exigida em Redação. Em contanto com
outros estudantes, confirmou casos semelhantes, o que o induziu a concluir o
seguinte: todo aluno que não atingiu média em Redação não foi aprovado no
vestibular. Assim, ele chegou a uma evidência inferida por meio de exemplos
particulares, a qual pode ser projetada para o futuro, se as regras do
vestibular não forem alteradas, permanecendo verdadeira a conclusão de que todo
aluno não atingir média em Redação não será aprovado no vestibular.
No texto abaixo, observe o
encaminhamento de um fato particular ( o assassínio de um estudante) para uma
generalização ( a imunidade parlamentar e a corrupção).
Imunidade
Parlamentar
O corpo da estudante
M.B.S., de 20 anos, foi encontrado, em junho de 1998, num terreno baldio nas
proximidades de João Pessoa. Concluído o inquérito policial, provas foram
reunidas e o principal suspeito do homicídio era um deputado estadual. Em
observância ao instituto da imunidade parlamentar, por duas vezes foi
solicitada à Assembleia Legislativa da Paraíba autorização para a instauração
de processo criminal. Contudo as duas solicitações foram indeferidas. O
deputado estadual exerce o seu quinto mandato consecutivo.
A gravidade do episódio
suscita indagações. Em que medida o
instituto da imunidade parlamentar é compatível com o Estado de Direito?
É razoável, na hipótese de crime comum, condicionar à prévia licença a
instauração de processo contra parlamentares? A imunidade parlamentar deve ser compreendida como uma prerrogativa
institucional ou como um privilégio pessoal?
A denominada imunidade parlamentar processual fundamenta-se
na ideia de preservação da independência e da autonomia do Legislativo, livrando-o
do arbítrio, das ameaças e das perseguições comprometedoras de sua atuação. Teve seu apogeu histórico no final do século 18, na
Revolução Francesa, como exigência da soberania do Parlamento moderno, que
refletiria a própria soberania popular. Isso significa que a imunidade parlamentar só se justifica
como garantia da instituição e como prerrogativa que objetiva assegurar o bom
exercício da função parlamentar.
Essas razões
subsistiriam na ordem contemporânea? Haveria justificativas para sua
manutenção na Constituição de 1988? Na experiência constitucional brasileira,
desde a primeira Constituição, a Carta Imperial de 1824, até a Constituição hoje vigente –
com exceção feita à Carta de 1937 - , a imunidade processual permaneceu
praticamente inalterada. A respeito, vale reiterar o disposto no artigo 53,
parágrafo primeiro da Constituição de 1988: “Desde a expediçãodo diploma, os
membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de
crime inafiançável, nem processados criminalmente sem a prévia licença de sua
Casa”.
A imunidade processual
afronta o princípio da igualdade de todos perante a lei , o qual requer que
seja a lei aplicada de forma geral e genérica a todos. Afronta ainda a
exigência de responsabilização de todos os agentes públicos pelas ações que
cometerem. O fato de exercer determinada função pública não pode ser escudo
para a atribuição de responsabilidades. Merecem menção os casos Pinochet
(preso e processado criminalmente) e Milosevic (preso e inidiciado pela ONU),
bem como toda a tendência contemporânea de abolir as imunidades em razão do
exercício de determinado cargo, tornando as pessoas públicas responsáveis por
seus atos. Basta, para tanto, citar o artigo 27 do Estatuto do Tribunal Penal
Internacional Permanente, que
prescreve: “O estatuto será aplicável igualmente a todos, sem distinção
nenhuma baseada em cargo oficial, que não poderá eximir a responsabilidade
penal nem poderá ser motivo para a redução de pena”.
A vítima de um crime
tem direito a proteção judicial, não podendo a lei excluir da apreciação do
Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. Quinto.,XXXV, da constituição de
1988). Ao princípio do livre acesso judiciário, conjuga-se o dever do Estado
de investigar, processar e punir aqueles que cometeram delitos.
Todos estes princípios
são consagrados pela Constituição de
1988 na qualidade de marco jurídico da transição democrática e da institucionalização
dos direitos humanos no país. Temos de romper o legado da imunidade
parlamentar para os crimes comuns, por exigência dos princípios que regem o Estado de Direito, preservando
a inviolabilidade parlamentar para os crimes comuns, por exigência dos
princípios que regem o Estado de Direito, preservando a inviolabilidade
parlamentar para os chamados delitos de opinião.
Pelos mesmos
argumentos, deve ser abolido o foro privilegiado – que afronta o
princípio da igualdade – e o voto
secreto no Parlamento – que afronta o princípio da publicidade e
transparência.
Em levantamento feito
pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado Nelson
Pelegrino (PT-BA), constata-se que, de 1995 a 1999, foram rejeitados 109 dos
137 pedidos de autorização para que os deputados fossem criminalmente
processados.
Os dados mostram que a
imunidade no país. A comissão pretende iniciar uma campanha pelo fim da
imunidade parlamentar converte-se de prerrogativa institucional em privilégio
pessoal, inaceitável e inadmissível pela lógica e pelos princípios de um
verdadeiro Estado democrático de Direito.
(Folha
de S. Paulo, 4/7/2001)
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Dedução
Num processo inverso, a
dedução leva-nos a tomar fatos ou ideias gerais para chegar a uma conclusão
particularizante. Por exemplo: se, de acordo com a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, todo homem nasce livre, sem distinção de credo ou raça,
podemos deduzir que, num país racista como era a África do sul, cada cidadão
negro deveria ter esses direitos respeitados. No método dedutivo, opera-se o
raciocínio silogístico: parte de uma premissa de caráter geral para se chegar a
uma conclusão particularizante.
Observe no texto seguinte a
passagem da generalização (a organização da sociedade brasileira) para a
particularização (os mantenedores da desorganização e os criminosos).
Violência no
Terceiro Mundo
A organização da
sociedade brasileira tem, no desrespeito à vida humana, uma de suas normas
mais cruéis. O pressuposto de nossas cidades é a negação da cidadania a um
grande contingente de indivíduos explorados e que vivem na miséria das
periferias.
Identificam-se entre os
mantenedores da desorganização social os grandes empresários, banqueiros,
industriais e demais segmentos que dela se beneficiam. Eles se acumulam suas
fortunas pagando remunerações aviltantes aos indivíduos que vivem na miséria
da periferia, trabalham na cidade por salário mínimo e podem ser demitidos, a
qualquer momento, por um patrão imune a todo tipo de violência e quase sempre
protegido pela legislação.
Quem enriqueceu às
custas da mão-de-obra barata nem de longe tem seu nome aventado, na análise
do processo que envolveu o ingresso de um indivíduo na marginalidade. A
suposição de que o crime pode ser atribuído unicamente aos problemas sociais
leva alguns criminólogos a cruzarem dados sobre salário mínimo/desemprego com
taxas de criminalidade, sem que qualquer relação seja estabelecida com a
responsabilidade do empregado.
Pedreiros, serventes de
pedreiros, pintores e caiadores aparecem com mais frequência entre aqueles
que ingressaram no crime: não é de se estranhar que essas atividades estejam
todas ligadas à indústria da construção civil, um dos setores empresariais
que enriquecem com o trabalho temporário dos operários e se autoelogiam como
o segmento produtivo que ocupa mão-de-obra não-especializada e procedente das
camadas mais sacrificadas da sociedade.
Enquanto o modelo
econômico vigente não for modificado, nossas cidades vão conviver com índices
alarmantes de assaltos, roubos, estupros, homicídios e toda sorte de delitos.
(Adaptado
da revista Terceiro Mundo)
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Sofisma
Quando partimos de premissas
verdadeiras, mas que levam a uma conclusão falsa, temos um sofisma, como, por
exemplo: se houvessem sido apuradas situações de corrupção administrativa em
vários governos e a incidência desses fatos nos levasse a concluir que todo
funcionário público é corrupto, teríamos uma dedução falsa, enganosa,
falaciosa; portanto, um sofisma.
Observe no texto abaixo como
o autor prova ser falaciosa a atribuição de “pulmão do mundo” dada à Amazônia:
A falácia do pulmão
do mundo
No início da década de
20, divulgava-se, nos meios científicos, políticos e jornalísticos, que a
“Floresta era responsável pela maior parte da produção e emissão de oxigênio
para a atmosfera terrestre. Em consequência, o desmatamento dessa biomassa
iria causara morte por asfixia, de toda a biosfera”. E, a partir daí, surgia
a ideia de que não se podia abandonar a Amazônia à sua própria sorte, ou ao
seu próprio governo, se havia, na conservação de suas florestas, interessa
universal. Estava em causa a própria humanidade.
Era o início da tese da
“planetarização” da Amazônia, isto é, subordinar a região a um comando
internacional, com poderes suficientes para manter a sua função de pulmão do
universo. Para isto, como condição inicial, havia que anular a soberania do
Brasil, substituindo-a por um condomínio, em que estivessem presentes as
grandes nações do universo. Substituída a soberania nacional por uma
soberania planetária.
Este é um dos temas
expostos e estudados pelo Sr Samuel Benchimol, numa publicação em xerox,
institulada Amazônia: planetarização e moratória ecológica, edição do
Instituto de Estudos da Amazônia, Isea, que tem, como sede, a cidade de
Manaus. Seu autor é um empresário que conhece, com verdadeira proficiência,
os assuntos e os problemas daquela região. (...) Embora trate de diversos
aspectos dos problemas da Amazônia, elucida, de maneira irrefutável, a
falácia do pulmão do mundo, com que se dissimulavam apetites imperialistas,
valendo-se de pretexto, como sempre aconteceu, desde as fábulas de La
Fontaine, ou muito antes delas, com as ambições dos poderosos.
A tese tem a intensão
de fazer da Amazônia uma fábrica de oxigênio a serviço do planeta, explica o
professor Samuel Benchimol.(...) Baseado numa ideia falsa, construía-se,
contra o Brasil, um verdadeiro libelo, o de que estaria acabando com o ar que
respirava o pulmão do mundo. Era, também, acusado com o ar que respirava o
pulmão do mundo. Era, também, acusado de estar concorrendo para o efeito
estufa, que já era responsável por tantos males de que sofria a humanidade. Eram deixadas de
lado as explosões nucleares, que encontravam absolvição fácil, por partirem
de nações poderosas. Aqui já não se falava no pulmão do universo. Mas
insistia-se nas queimadas, que concorreriam para destruir o ozônio, com que o
planeta se defende, ou se protege, e levariam a humanidade a uma hecatombe
inarredável, se não fossem tomadas medidas suficientes para afugentar os
males que se iam acumulando, de ano para ano.
Neste ponto, a
argumentação do professor Benchimol e dos cientistas em que se apoia é
irresponsável. Não é o Brasil o maior responsável pelo dióxido de carbono com
que se polui a atmosfera, comprometendo a camada de ozônio com que o planeta
se protege.
Desde a Revolução
Industrial, que vem dos fins do século XVIII, com o aproveitamentodo carvão
de pedra, e, mais tarde, com a utilização do petróleo, o delito, se era
delito, estava em função do progresso industrial dos países industrializados.
Não se podia deixar de levar em consideração o número de veículos que usam
carburantes, diz o professor Luís Carlos Molion, do instituto de Ciências
Espaciais de São José dos Campos. Como resultado, temos o quadro geral de
Emissão de Carbono de Combustíveis Fósseis, incluindo automóveis, fábricas e
usinas termoelétricas, em milhões de toneladas, conforme pesquisa publicada
pela revista americana Time, em janeiro de 1988. E por ela se verifica que,
em 1987, o Brasil figura apenas com
50,2,enquanto os Estados Unidos surgem com 1.224,7 , a União Soviética com
1.013,6 e a Europa Ocidental com 791,6. Nada mais do que um reflexo do
progresso industrial destes países. Compare-se o índice deles com o os 50,2
do Brasil, para verificar como é pequena a participação do nosso país na
emissão de carbono. Com a chancela da insuspeita revista Time.
Há, pois, necessidade
de divulgar estes números para arredar do Brasil a acusação de vilão, com que
nos procura condenar a imprensa estrangeira. E, se se interessam tanto pela
conservação da Mata Amazônia, por que não se queixam do trabalho desesperado
das serrarias que exportam madeiras para o resto do mundo e especialmente
para os Estados Unidos? A começar pelo mogno, a que dá preferência o mercado
americano. De certo, não há, como nas queimadas, a poluição da atmosfera, mas
não se sabe ainda qual o maior responsável pelo desmatamento da Amazônia, no
paralelo entre o fogo e a serra.(...)
(Barbosa
Lima Sobrinho)
|
11.
O parágrafo dissertativo
A importância do parágrafo
dissertativo explica-se pela necessidade de que as partes que compõem a
dissertação – tese, desenvolvimento/argumentação e conclusão – sejam
delimitadas.
Em princípio, são
necessários pelos menos três parágrafos, um para cada parte; porém, há
dissertações com um ou muitos parágrafos, como é o caso de textos jurídicos,
jornalísticos, didáticos ou acadêmicos.
Na argumentação, os
parágrafos apresentam uma ideia-núcleo pertinente à tese. Para não se tornar
apenas uma informação e/ ou afirmação vaga, cada uma dessas ideias deve ser
aplicada – na argumentação – por meio de exemplos, evidências, justificativas,
juízos etc.
A troca de parágrafos não
implica uma mudança de assunto, que deve ser o mesmo em toda a extensão da
dissertação. Um novo enfoque é o que provoca a mudança de parágrafo.
Podemos encontrar textos
dissertativos com mais de uma ideia-núcleo em cada parágrafo e até mesmo um ou
mais parágrafos que concluem o desenvolvimento da ideia-núcleo. Observe, no
texto abaixo, como isso ocorre (1 a 6).
Gíria: a linguagem
de todos
A gíria é um patrimônio
comum, é um instrumento de comunicação que parece imprescindível , sobretudo
para a juventude.(1)
Até mesmo as geração que a condenam acabaram por assimilar algumas expressões
de maior ocorrência. Os marginais contribuem com um repertório próprio,
muitas vezes desconhecido pela população, e os meios de comunicação asseguram
a penetração de elementos inovadores.
Podemos
atribuir a gênese da gíria aos estratos sociais que apresentam menor grau de
instrução,(2)posto que seus recursos linguísticos limitados evidenciam-se
sobretudo na carência vocabular. Há, ainda, em determinados segmentos da
sociedade, como o dos marginais, a criação de vocábulos gírios para assegurar
a defesa de seus interesses.
Lembramos,
por exemplo, que “presunto” designa cadáver; “cana” , prisão; “muamba”,
mercadoria roubada.
Também a juventude fez da
gíria uma das bandeiras de sua geração,(3) especialmente a partir do movimento
hippie, acompanhando as rupturas ideológicas que se seguiram. Os meios de comunicação, por sua vez,
garantem as renovações linguísticas(4) em que se acentua o uso
indiscriminado da gíria, reduzindo a comunicação a recursos fáticos, ou seja,
a expressões orais isentas de carga informativa ou significativa. Os
programas humorísticos, por exemplo, difundem-na largamente. Dessa forma, a gíria passou de signo de rebeldia de
uma década a fator de comunicação imediata. Incorporada ao efetivo da língua,
ela dilui diferenças etárias e sociais.(5)
Pode-se
deduzir que não há como expurgar do
discurso de todos os falantes essa variante de comunicação,(6) uma
vez que os veículos de massa garantem
a sua manutenção no sistema, realimentando o léxico com inovações
linguísticas. Assim, não se deve preterir a norma privilegiada em favor da
gíria, e sim equilibrar os registros de fala propícios a cada contexto
social.
(Thaís Montenegro Chinellato)
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12.
Coesão
Uma dissertação bem redigida
apresenta, necessariamente, perfeita articulação de ideias. Para obtê-la, é
necessário promover o encadeamento semântico (significado, ideias) e o
encadeamento sintático (mecanismo que ligam uma oração à outra).
A coesão(elemento da frase A
retomado na frase B) é obtida, principalmente, por meio dos elementos de
ligação que proporcionam as relações necessárias à integração harmoniosa de
orações e parágrafos em torno de um mesmo assunto (eixo temático).
No texto abaixo, os elementos
de ligação estão destacados. Observe a relação o valor ou a ideia que eles
assumem no texto.
Os sem-terra
Embora seja patente que,
muitas vezes, o governo costuma agir mais celeremente quando está sob pressão, a intensificação das invasões de fazendas
pelos sem-terra parece ser o instrumento errado para promover a sempre
prometida e nunca realizada reforma agrária.
É de fato um absurdo que, num país tão extenso e fértil como é o
Brasil, a terra seja usada como reserva de valor enquanto
milhões de famílias de clara tradição rural não têm onde plantar para viver.
Ocorre,porém, que a invasão de terras
constitui um ilícito, e a democracia
não pode tolerar ilícitos, por mais
justos que pareçam.
Também parece ser enganosa a
tese de que a intensificação das invasões deu visibilidade à questão
fundiária. O que despertou o interesse dos meios de comunicação para o
problema dos sem-terra foi sem dúvida
a chacina de Corumbiara, e ninguém, em sã consciência, pode defender que
ocorram outros episódios hediondos como
aquele apenas para que a mídia dê
mais atenção à reforma agrária.
O melhor meio para promover uma distribuição mais
justa do solo brasileiro parece ser o instrumento fiscal. Se as terra improdutivas recebessem
uma taxação extremamente pesada, confiscatória mesmo, ninguém mais usaria a
terra como reserva de valor, o que
tenderia a fazer com que seu preço abaixasse e que a produção agrícola do
país aumentasse.
Os sem-terra têm todo o
direito , o dever até, de fazer o
máximo possível de pressão sobre o governo para que ele atue nessa importantíssima questão, mas dentro dos limites da lei, sob
pena de infringir o Estado de Direito e, portanto,
a democracia que, no fundo, é a maior garantia para que suas
reivindicações sejam atendidas.
(“Editorial “ ,Folha de S. Paulo.)
|
Num levantamento detalhado,
Othon Moacyr Garcia (Comunicação
em prosa moderna) arrolou os mais usuais elementos de ligação
empregados na dissertação –advérbios, locuções, conjunções e preposições.
Os
itens seguintes encerram o significado de cada grupo de elementos de ligação.
Prioridade, relevância:
Em
primeiro lugar, antes de mais nada, primeiramente, acima de tudo,
precipuamente, mormente, principalmente, primordialmente, sobretudo
|
Tempo (frequência, duração, ordem, sucessão,
anterioridade, posterioridade):
então,
enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo após, a princípio, pouco antes,
pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por fim,
finalmente, agora, atualmente, hoje, frequentemente, constantemente, às
vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro,
ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo, enquanto
isso e as conjunções temporais (quando, antes que, depois de, logo que,
sempre que, assim que, desde que, todas as vezes que, cada vez que, apenas,
já, mal)
|
Semelhança, comparação, conformidade:
igualmente
, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente,
analogamente, por analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de
acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista e as conjunções
comparativas (tal qual, tanto quanto, como, assim como, bem como, como se)
|
Adição, continuação:
além disso, (a)demais, outrossim, ainda
mais, ainda por cima, por outro lado, também e as conjunções aditivas (e,
nem, não só... mas também etc.).
|
Condição, hipótese:
se, caso, salvo se, contanto que, desde que,
a menos que etc.
|
Dúvida:
talvez, provavelmente, possivelmente, quiça,
quem sabe, é provável, não é certo, se é que.
|
Certeza, ênfase:
decerto, por certo, certamente,
indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com toda
certeza.
|
Surpresa, imprevisto:
inesperadamente, inopinadamente, de súbito,
imprevistamente, surpreendentemente, subitamente, de repente.
|
Prioridade, relevância, ilustração, esclarecimento:
por exemplo, isto é, quer dizer, em outras
palavras, ou por outra, a saber , ou seja.
|
Propósito, intenção, finalidade:
como o fim de, a fim de, com o propósito de,
para que, afim de que.
|
Lugar, proximidade, distância:
perto de, próximo a ou de, junto a ou de,
dentro, fora, mais adiante, além, acolá, outros advérbios de lugar (aqui, lá,
ali), algumas outras preposições e os pronomes de-monstrativos (este, estes,
aquele, aqueles, esta, estas).
|
Resumo, recapitulação, conclusão:
em suma, em síntese, em conclusão, enfim, em
resumo, portanto, assim, dessa forma, dessa maneira, logo, pois.
|
Causa e consequência:
daí, por consequência, por conseguinte, como
resultado, por isso, por causa de, em virtude de, assim de fato , com efeito
e as conjunções causais, conclusivas e explicativas (porque, porquanto, pois,
que, já que, uma vez que, visto que, como [=porque],portanto, logo,
pois{posposto ao verbo} que [=porque])
|
Contraste, oposição, restrição, ressalva:
pelo contrário, em contraste com, salvo,
exceto, menos e as conjunções adversativas e concessivas (mas, contudo,
todavia, entretanto, embora, apesar de, ainda que, mesmo que, posto que,
conquanto, se bem que, por mais que, por menos que, no entanto).
|
Referência em geral:
os pronomes demonstrativos “este” (o mais
próximo), “aquele”(o mais distante), “esse” (posição intermediária: o que
está perto da pessoa com quem se fala); os pronomes pessoais; repetições da
mesma palavra, de um sinônimo, perífrase ou variante sua; os pronomes adjetivos
(último, penúltimo, antepenúltimo, anterior, posterior); os numerais ordinais
(primeiro, segundo etc.).
|
Segundo Celso Cunha, certas
palavras têm classificação à parte, por isso convém “dizer apenas palavras ou
locução denotativa” de:
a)inclusão: até, inclusive, mesmo,
também, etc;
b)exlusão: apenas , exceto, salvo,
senão, só, somente etc;
c)designação: eis;
d)realce: cá, lá, é que, só, etc.
e)retificação: aliás, ou antes, isto é,
ou melhor etc;
f)situação: afinal, agora, então, mas
etc.
|
Bons estudo meus amores, com
muita paz e luz, com carinho de sua eterna Prof Dr Master Reikiana Aldry Suzuki
amo vocês!!
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