domingo, 23 de outubro de 2016

REDAÇÃO XVI - DISSERTAÇÃO - ALDRY SUZUKI AMO VOCÊS!!






REDAÇÃO XVI


DISSERTAÇÃO


ALDRY SUZUKI AMO VOCÊS!!


Quando as pessoas não sabem falar ou escrever adequadamente sua língua, surgem homens decididos a falar e escrever por elas e não para elas.
                          (Wendel Johnson)


 O espírito  humano é por natureza curioso, reflexivo. O mundo que o instiga a pensar deve também instigá-lo a desafiar, criticar e questionar as ideias que a coletividade e a sua cultura oferecem. Trabalhamos ideias  quando escrevemos.

Aprender a escrever é desenvolver e concatenar ideias. A atividade redacional é produto de um conteúdo, um acervo cultural, veiculado por uma linguagem adequada numa estrutura coerente.
Para escrever é necessário estimular o raciocínio, o espírito de observação, a capacidade de análise e síntese.

É preciso, pois, pensar. Um pensamento ordenado , quando revestido por um vocabulário expressivo, revela um  repertório preciso e comunicativo.

Quando refletimos sobre uma questão, seja ela filosófica doutrinária, técnica, científica, seja de qualquer outra  natureza, mais que o domínio do assunto, necessitamos  de argumentos, juízos, opiniões, capacidade interpretativa e analítica, sempre com procedimentos lógicos que demonstrem as nossas reflexões para a explicação e sustentação de pontos de vista.

A organização do pensamento é fundamental, sobretudo na atividade dissertativa. Dissertamos quando conceituamos uma ideia, discutimos uma questão, criticamos, explicamos ou justificamos um assunto. A dissertação é um exercício cotidiano, utilizado toda vez que se discute com alguém, tentando fazer valer uma opinião sobre qualquer assunto, como, por exemplo, futebol.




Para produzirmos uma dissertação, precisamos organizar  as ideias, acomodando-as numa estrutura discursiva convincente, persuasiva (tese, desenvolvimento/argumentação e conclusão). A linguagem deve ter a clareza de um pensamento disciplinado no exercício reflexivo e na leitura. A argumentação deve apoiar-se nos conteúdos que nossas vivências, viagens, experiências intelectuais e culturais proporcionam.

Para garantir o repertório linguístico e cultural que se espera de um estudante do ensino médio, e de foram especial de um vestibulando, a leitura é o canal mais fecundo, oferecendo um universo de conhecimentos e de linguagens.

Observe, no texto dissertativo abaixo, a ordenação de ideias , os juízos críticos, a análise e as evidências.

  O Brasil odeia as mulheres

O pintor vienense Gustav Klimt (1862-1918) dedicou boa parte de sua maravilhosa obra às mulheres, em todas as suas fases (infância, adolescência, vida adulta, velhice e morte). Klimt celebra a humanidade da mulher, presentificada como enigma, paixão, beleza, esperança e angústia. É interessante imaginar como o mesmo Klimt pintaria a mulher hoje, se o seu contato com o mundo se resumisse às notícias sobre como as mulheres são tratadas no Brasil. Como seria a gestante de Klimt, se vivesse hoje no Brasil? Segundo o UNICEF, este país apresenta o sexto maior índice de morte de gestantes no continente americano: 220 em cada 100 mil nascimentos (nos Estados Unidos, a taxa é de 30 para 100 mil). Entre as maiores causas estão a hemorragia, abortos praticados em condições insalubres e uso de drogas.
O Brasil é o campeão mundial de violência doméstica contra a mulher, como denunciou a organização Human Rights Watch, na  quarta conferência da ONU sobre a Mulher (Pequim, setembro de 1995). Segundo o relatório, em apenas dois anos, entre 1987 e 1988, foram cometidos no Brasil pelo menos 6 mil crimes contra as mulheres, 400 dos quais homicídios praticados por maridos e amantes. O princípio de “defesa de honra” contra mulheres supostamente adúlteras tem peso nos julgamentos de maridos homicidas, ainda que não tenha mais valor jurídico. A mesma conferência denunciou a prática do tráfico de escravas no Brasil.

A violência sexual, incluindo o estupro, é sabidamente, comum, embora seja difícil comprová-lo estatisticamente, já que muitas vítimas preferem guardar silêncio a se expor publicamente a insinuações maldosas (do tipo “encontrou o que queria” ou “estuprou, mas não matou’).
A lista de horrores poderia se prolongar quase que indefinidamente. Por exemplo, com o “prostiturismo” que atinge o auge no carnaval do Rio e Salvador, com a discriminação do terreno da política institucional, com as diferenças salariais e no ambiente de trabalho. Em síntese, as mulheres brasileiras têm grandes possibilidades de ser violentadas quando jovens, de morre quando gestantes, de apanhar em casa – às vezes até a morte – de maridos ciumentos, quando não são vendidas como escravas ou prostituídas. Isso tudo para não falar de outras “pequenas” misérias da mulher branca e de classe média, tão bem abordadas por Nelson Rodrigues, e sem tampouco nos determos  na “coisificação” da mulher na propaganda diária (mulheres nuas vendem até sandálias, biscoitos , máquinas de escritório etc., etc.)
É realmente difícil imaginar Klimt, nos dias de hoje, neste país.
Poucas nações destilam tanto ódio contra as mulheres (perto do Brasil, as leis islâmicas que discriminam a mulher com um bálsamo), mas poucas sabem disfarçar tão bem, sob o verniz do mito, a sua própria pequenez e crueldade.

          (José Arbex Jr., O Estado de S. Paulo)


1.    Definição e objetivos

Dissertar é expor ideias a respeito de um determinado assunto. É discutir essas ideias, analisa-las e apresentar provas que justifiquem e convençam o leitor da validade do ponto de vista de quem as defende. Dissertar é, pois, analisar de maneira crítica situações diversas, questionando a realidade e nosso posicionamento diante dela.


São objetivos da dissertação:

·       Convencer alguém de que determinado de ponto de vista é praticamente inquestionável.


Nunca é demais repetir que linguagem e pensamento formam um só processo, impossível de ser desmembrado. Pensamos vocábulos assim como criamos, alocamos e fundimos vocábulos para poder formular pensamentos. Quando rejeitamos a expressão verbal, estamos fechando as comportas das ideias e as riquezas interiores.

                                  (Luís Carlos Lisboa)


·       Dar a conhecer ou explicar qualquer assunto com  intenção informativa ou pedagógica.

Sendo o espaço geográfico a realidade histórica mais imutável, sobre ele o homem vem exercendo contínua atividade, no sentido de dominá-los por meio da técnica. Desde que o homem iniciou a domesticação de animais e os utilizou para reduzir as distâncias até a mais moderna tecnologia de transmissão por satélites, o seu objetivo tem sido a eliminação do binômio espaço-tempo.

                            (Virgílio Noya Pinto)


Discutir um assunto, conferindo-lhe tom polêmico de debate, levando o leitor a tomar posição perante o problema.

E por falar em informática, já pensaram aqueles que estão procurando os cursos de computação, que a informática contém em si os próprios germes da eliminação do trabalho humano? Se isso for realizado, libertando o homem para tarefas mais gratificantes, teremos realizado a utopia. Mas se, como tem sido feito até aqui, a preocupação for apenas aumentar o lucro, as consequências negativas serão assustadoras.

                    (Dulce Whitaker)





2- Estrutura

A dissertação, comumente, apresenta três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Introdução

É  a apresentação do assunto. O parágrafo introdutório caracteriza-se por apresentar uma ideia-núcleo por meio de uma afirmação, definição, citação, etc.

Desenvolvimento

É a análise crítica da ideia central. Pode ocupar vários parágrafos, nos quais se expõem juízos, raciocínios, provas, exemplos, testemunhos históricos e justificativas que defendem a ideia-núcleo proposta no primeiro parágrafo.

Conclusão

É a parte final do texto, na qual se condensa a essência do conteúdo desenvolvido, reafirma-se o posicionamento exposto na tese ou lança-se uma perspectiva sobre o assunto.
Assim, na dissertação argumentativa, a introdução é a tese (ideia central) a ser discutida e provada nos parágrafos seguintes; o desenvolvimento é a argumentação, ou seja, a discussão de ideias que comprovam e fundamentam a tese; a conclusão é a retomada da tese ou dos juízos discutidos e justificados na argumentação.


3.    Conteúdo

 São inideias, formando a tessitura redacional informativa, questionadora, analítica, interpretativa ou opinativa.

Para se redigir um texto dissertativo, são indispensáveis:

Criticidade: exame e discussão crítica do assunto por meio de argumentos convincentes, gerados pelo acervo de conhecimentos pessoais. É um processo de análise e síntese.

Clareza: vocabulário preciso e coerente com as ideias expostas. O aprimoramento da linguagem e a diversidade vocabular são fundamentais para adequar ideias e palavras.

Unidade: o texto deve desenvolver-se em torno de um assunto. As ideias  que lhe são pertinentes devem suceder-se em ordem sequente e lógica, completando e enriquecendo a ideia-núcleo expressa na tese. Não deve haver redundância nem pormenores desnecessários.

Coerência: associação e correlação das ideias na construção dos períodos e na passagem de um parágrafo a outro. Os elementos de ligação são indispensáveis para entrosar orações, períodos e parágrafos.

Observe como o texto a seguir apresenta estrutura dissertativa bem definida. A tese é uma citação e evidências e a conclusão retoma com concisão e objetividade o assunto do texto: o fanatismo. Atente também para o conteúdo crítico, a clareza de ideias, a unidade e a coerência que a dissertação apresenta.

O fanatismo de cada um



Parágrafo introdutório construído com citação  a ser discutida  na argumentação.

“ A fonte de nosso declínio, a principal explicação dos sofrimentos de nosso povo reside em seu desprezo pelas estruturas da nossa fé. Nossa juventude foi corrompida pela música, pelo fato de andar com roupas sumárias, pelos jogos de xadrez e gamão, pelo fato de ir ao cinema e de se vestir airosamente.”


 Evidência: observação crítica que explica a citação introdutória e confirma uma evidência.


É Curioso notar como os moralistas – de todos os credos, tempos e latitudes – têm sempre um discurso semelhante. Este acima não é de um ministro da Justiça brasileira, ou bispo censor, ou de senhoras chocadas com o realismo das novelas televisivas: é de Khomeini, em  1980.


Exemplificação: fundamentação histórica, apresentando exemplos  de intolerância ideológica.

(...) A história religiosa é política mostra que, em todos os tempos, o fanatismo é a arma principal daqueles que acreditam que a sua é a única válida da vida e que todas as outras visões devem ser destruídas.

A perseguição aos cristãos (Roma), a Inquisição (Europa medieval) , o massacre dos judeus (Nazismo, século xx) e o confinamento dos intelectuais (stalinismo,século XX) são apenas alguns pouquíssimos exemplos de indolência. Basta lembrar que houve um longo tempo em que os católicos promoviam chacinas e perseguições contra todos os infiéis, enquanto os islamistas se especializam em queimar bibliotecas em nome de Deus. ( ‘se todos esses livros falam de coisas com que concordo, são inúteis; se falam de coisas de que discordo, precisam ser destruídos”, disse um desses líderes fanáticos.)


Conclusão: perspectiva sobre o assunto (o reconhecimento de nossos fanatismo).

(...) Todos podemos agora olhar para nós mesmos e procurar o que existe de Khomeini no nosso interior. Basta olhar para o espelho e procurar conhecer nossa intolerância diária - religiosa, política, profissional, esportiva, sexual. Curiosamente, talvez descubramos que somos todos fanáticos: basta que alguém arranhe alguma de nossas crenças.

              (Marcos Antônio de Carvalho)





4.    Delimitação do assunto

Quando temos um assunto para discutir, faz-se necessário delimitá-lo para que possamos abordá-lo com mais facilidade, principalmente quando ele é amplo.

Por exemplo, se o assunto a ser discutido é televisão, devemos selecionar alguns aspectos para discutir, considerando o tempo limitado para elaborar o texto no vestibular.

ASSUNTO: A televisão

DELIMITAÇÃO DO ASSUNTO:

1.        Causas da preferência popular pela televisão.
2.        O papel privilegiado de televisão entre os meios de comunicação de massa.
3.        A televisão e a criança.
4.        A televisão ditando mudanças de comportamento.
5.        A televisão incitando a violência.
6.        O papel cultural da televisão.
7.        Concorrência e audiência entre as emissoras de televisão.
8.        A televisão na criação de mitos.
9.        A televisão: monopólio do lazer das massas.
10.   Televisão: o apelo visual compromete o interesse pela leitura?

Além das delimitações dadas, outras poderiam ser  acrescidas e cada uma delas seria um tema para um texto dissertativo. Note  que, para cada assunto abrangente  e  genérico proposto para uma dissertação, faz-se  necessária uma delimitação para que a redação não resulte numa costura de muitas abordagens, o que torna a argumentação estéril e superficial. Assim, pense nas possíveis delimitações que os seguintes assuntos podem sugerir: violência, religião, família, ecologia, desemprego, publicidade, sexualidade, morte, educação, amor, saúde, etc. A delimitação do assunto é muito pessoal e para isso concorre a vivência, a experiência, a maturidade pessoal, além do conhecimento para discuti-lo.

Devemos manter uma postura crítica diante dos fatos cotidianos para poder avalia-los melhor. Muitas vezes, na escola ou num exame vestibular, e até mesmo em situações  diárias, somos obrigados a discutir assuntos que pouco conhecemos e, por isso, precisamos estar atentos para questionar situações, valores, mudanças, enfim problemas que integram nossa realidade.
Nos textos que se seguem, temos duas abordagens, cada qual correspondendo a uma delimitação diferente, sobre o mesmo tema proposto pela FOLHA DE S. PAULO:
“VOCÊ ACHA QUE PICHAÇÃO É CASO DE POLÍCIA ?”

O texto (1) disserta a favor da pichação. O assunto delimitado é a necessidade da manifestação pública.

  Polícia para quem precisa

Tese: a sobrecarga de informação invade a privacidade e lesa a cidadania.

Estamos num país e numa época em que a sobrecarga monolítica e unidirecional das informações invade a privacidade de cada um de nós, onde os direitos da própria cidadania são constantemente postos em questão pela  ausência de condições mínimas em que ela possa se realizar.


Explicação da situação apontada na tese: relaciona o prejuízo à cidadania nos últimos 25 anos.


Vivemos, em outros termos , um estado oficial da lesa-cidadania, herdado em grande parte da história lamentável dos nossos últimos 25 anos.


Relação de causa e consequência: uso de uma interrogação retórica cuja reflexão realista e irônica dispensa resposta.


Neste país, onde questões de sobrevivência, cultuara e educação confundem-se na  mesma  inviabilidade, que outra coisa se poderia esperar se não irrupções rebeldes, constantes e intermitentes da individualidade solapada nos seus mínimos direitos, inclusive o da expressão?


Argumentação favorável à pichação: por meio de reflexões e juízos, evidencia a reação dos pichadores aos discursos dominantes.

Mesmo não se tratando de um fenômeno puramente brasileiro ou paulista, é desse prisma que deve ser vista a questão da pichação. Trata-se  do fruto da necessidade de expressão pública de um discurso da intimidade que, dessa forma, vinga o movimento massivo dos discursos dominantes em circulação. Assim, subversivamente, a pichação faz eclodir na instância pública  a privacidade, suas fantasias, e sobretudo as ilusões de uma momentânea libertação. Trata-se, assim, de uma insinuação do íntimo no espaço comum da cidadania, insinuação protegida necessariamente pelo anonimato.

Resposta à pergunta-tema: justifica-se a não-interferência policial.
Nesse sentido, pode-se pensar que se trata de um caso de apropriação e invasão de espaços alheios. Mas daí a ser considerada uma questão para polícia há uma distância enorme. Trata-se do desvelamento da expressão e isso não se constitui num problema a ser resolvido pela força.

Conclusão: retomada da discussão, opinando sobre uma possível solução (a necessidade de se ampliarem os canais de expressão). Perspectiva da solução: a sociedade harmonizando-se com suas próprias contradições.

Como resultante de uma opressão generalizada, a pichação é um problema cuja solução depende muito mais do desenvolvimento e multiplicação de canais adequados de expressão. Além disso, considerada também como resultante de um desequilíbrio entre o massivo e o individual, há que se entender que sua solução depende de que a sociedade se harmonize dentro de suas próprias condições. Até lá, a emergência do ocultado, seja por pichações, passeatas ou explosões, é inevitável. Transformar essa emergência numa questão policial é  declarar guerra contra um falso inimigo.

(Haquira Osakabe, professor de Teoria Literária e Literatura Portuguesa da Unicamp)





O texto (2) disserta contra a pichação. O assunto delimitado é a repressão aos pichadores.


Da “Livre Manifestação “ ao vandalismo

Tese: a pichação, como contravenção, deve ser reprimida.

Não se pode, obviamente, configurar a pichação como crime, mas sem e, como tal, deve ser reprimida.

Relação de causa e consequência por meio de uma hipótese: o espaço reservado à criação artística.


SE alguns setores da opinião pública entendem que a pichação é uma manifestação artística, que se criem, então, espaços onde ela possa ser realizada. A prefeitura poderia, também, abrir cadastros de proprietários de muros, os quais, desde que aprovem a “obra”, permitiriam a sua pintura.


Exemplificação: rememoração de um fato que comprova a necessidade do espaço artístico.

Recordo-me de um bar, no centro de São Paulo  - se não me engano, o Jogral – onde, na década de 60 , nos toaletes, aparecia a seguinte inscrição:”Não risque as paredes. Se você acredita que seu pensamento seja tão original a ponto de merecer sua inscrição aqui, não se constranja. Procure a gerência e nós mesmos nos encarregaremos de autorizá-lo”.

Justificativa apoiada no exemplo anterior.

O mesmo raciocínio vale para os pichadores. Se o que eles têm a manifestar tem algum valor artístico ou filosófico, sem dúvida existirão proprietários de muros dispostos a permitir-lhes a inscrição.


Resposta à pergunta-tema: justifica-se a interferência policial com explicações sobre o dever do Estado diante das violações.

Agora, pichação de bens públicos ou de muros particulares, à revelia do proprietário, não é manifestação artística, é vandalismo. E, como tal, deve ser coibido. O dever do Estado é proteger a propriedade d todos da sanha de cada um e a propriedade de cada um da sanha de todos. A pichação de bens públicos ou particulares viola ambos os princípios e, portanto, é dever da autoridade competente tomar medidas coercitivas.

Conclusão: confronto entre os direitos do cidadão e a iniciativa dos pichadores.


Eu, como milhões de cidadãos , gosto de ver a minha cidade limpa. Faço minha parte, de um lado mantenho meu muro pintado e de outro pagando impostos para que a prefeitura faça o mesmo com os nossos monumentos. Se os pichadores têm seus “direitos” de expressarem-se livremente, eu também tenho os meus de querer minha cidade em ordem e bonita. Com diferença: eu pago impostos exercer minha cidadania e eles, tão-somente, adquirem uma lata de aerossol.

               (João Mellão Neto, Jornalista)




OBS: Por  se tratar de matéria jornalística em que se combinam as preferências estilísticas do autor e as licenças redacionais do veículo, o texto foi escrito em primeira pessoa.


5 . interpretação do tema

Quando o tema é metafórico – um poema, uma história em quadrinhos, uma ilustração, uma citação etc. - , deve-se interpretar seu significado. A essência da interpretação leva ao assunto a ser discutido.


Ao interpretar um tema, deve-se:


Primeiro: lê-lo com atenção;

Segundo: fazer primeiro uma interpretação referencial ( o sentido real das palavras, seu aspecto denotativo);

Terceiro: atentar para o fato de que na maioria das vezes  o tema merece uma interpretação conotativa, pois apresenta-se em linguagem figurada, metafórica;

Quarto: tentar decodificar a situação metaforizada.
Por exemplo, dado o tema “Numa luta entre elefantes, o prejudicado é o capim”, a sequência correta para melhor interpretá-lo seria:


Primeiro: Há alguma palavra de sentido desconhecido?


Segundo: Denotativamente, podemos concluir que o capim deve ficar bem estragado sob o peso de dois elefantes em luta. Será que é só isso?

Terceiro: Existe o plano de conotação , da interpretação  subjacente ao significado primeiro. Qual a relação de significação entre elefante e capim? Conotativamente, elefante representa força, grandeza, poder. E capim? Representa pequenez, grande número, fragilidade.

Quarto: que situação está aí representada? Perceba as associações:

a)        Algo grandioso que fere o que é pequeno;
b)        O poder ou a autoridade que subjuga os indefesos;
c)        Os governantes que oprimem os governados;
d)        As discórdias e disputas entre líderes que trazem consequências nefastas aos governados.

A temática delimitada na letra d) é um dos assuntos pertinentes ao tema proposto. Outros, como desemprego, violência, baixos salários e até relações familiares ou patronais, sugerem também formas de opressão que comprovam dialeticamente a supremacia dos “grandes “ (elefantes) sobre os “pequenos” (capim).




5.    Distinção entre tema e título

Enquanto o tema compreende o assunto proposto para discussão, o título sintetiza o conteúdo discutido; por isso, título não se confunde com tema.

O título deve ser dado, preferencialmente, após a elaboração do texto. Assim, ele representa a “moldura” do texto e a delimitação dada ao tema.
Observe os exemplos:

Tema: Ainda não  estamos habituados com o mundo. Nascer é muito comprido.

                      (Murilo Mendes)

Título: Aprendizado constante.



Tema: Eu sou trezentos, sou trezentos e cincoenta, mas um dia afinal eu toparei comigo mesmo...

                       (Mário de Andrade)

Título: As máscaras do homem.


Tema: Não concordo com uma palavra sequer do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-las.

                                (Voltarie)

Título: Liberdade de expressão.

Geralmente, os vestibulares fornecem o tema por meio de citações, poemas, fragmentos de textos (jornalísticos, literários, etc.) e outros. 

Nesse caso, você deve dar um título  coerente à proposta dada e ao texto que você produziu. Portanto, só intitule a redação depois de redigi-la e compará-la à proposta. Não sublinhe o título nem o destaque com aspas.

Se ocorrer de o vestibular fornecer o título, você deve utilizá-lo como tal, centralizando-o e pulando uma linha para iniciar sua redação. Quando o vestibular dá o título, você deve extrair dele os possíveis conteúdos que ele possa sugerir.

Caso o título seja, por exemplo, A construção do saber, você deve deduzir o conteúdo que tematiza a discussão: o aprendizado existencial do homem, a instrução formal, as áreas do conhecimento e sua cientificidade.



7.Dissertação expositiva  e argumentativa


Expositiva

Disserta-se de maneira expositiva ou argumentativa. Um texto é expositivo quando aborda uma verdade inquestionável, dá a conhecer uma informação ou explica pedagogicamente um assunto, sem apresentar discussão.



O corpo fala

Comemora-se neste ano, em várias partes do mundo, o centenário de nascimento do austríaco Wilhelm Reich, controvertido médico cuja obra ainda hoje fomenta intensas polêmicas entre os profissionais da área de sáude mental.

Não foram poucos os obstáculos que seu mestre Sigmund Freud já enfrentava no fim do século 19 ao explicar o funcionamento da psique humana com base em conceitos tais como o de complexo de Édipo ou de sexualidade infantil. Explicações chocantes para o meio cultural da época, ainda fortemente marcado pelo conservadorismo moral.
Reich aprofundou o debate sobre a importância da sexualidade no comportamento humano, relacionando-o aos acontecimentos políticos de seu tempo, marcado pelo advento do nazismo e da Guerra Fria. Seu célebre estudo sobre a psicologia de massas do fascismo custou-lhe o exílio na Suécia e depois na Noruega.
A maior contribuição da abordagem reichiana, que com altos e baixos foi se firmando desde a morte do médico, em 1957, talvez seja sua aguda compreensão das patologias físicas de origem psíquica.
Desde Reich, tornou-se mas fácil compreender e aceitar que, segundo o jargão consagrado por seus discípulos, “o corpo fala”.
Seu mérito talvez se limite a chamar a atenção para as muitas manifestações significativas do corpo. Foi um alerta para um Ocidente que, historicamente, sempre valorizou os aspectos verbais e racionais da espécie humana.

            (“Editorial”, Folha de S. Paulo)



Argumentativa


Já o texto argumentativo se sustenta com exemplos elucidativos, interpretação analítica, evidências e juízos, sempre com visão crítica.


Receita para desconcentrar a renda

Entre todas as distorções da sociedade brasileira, a mais resistente no tempo e no espaço é a concentração da riqueza nas mãos de poucas pessoas. Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado na semana passada, reafirma essa noção. O trabalho mostra que de 1992 a 1999 a expectativa de vida a escolaridade, a mortalidade infantil e quase todos os outros indicadores sociais do país melhoraram , com exceção da distribuição de renda. Nesse particular, o país ficou um pouco pior. Os 10% mais ricos, que detinham 45% da renda nacional, passaram a possuir 47,4%. É um dos piores desempenhos internacionais do Brasil. Nesse quesito perdemos até para os vizinhos mais pobres da América Latina.
A concentração de renda é um sinal resistente, daqueles que misturam razões culturais, geográficas, étnicas e políticas. Suas raízes são profundas e remontam às iniquidades do Brasil colonial, à escravidão, à falta de planejamento e ao mau funcionamento dos serviços públicos, que deixaram suas marcas na História brasileira. A constatação do novo estudo do IBGE mostra quanto essa distorção é resistente. Ela não se alterou nem com o crescimento da renda dos pobres, pois os ricos se distanciaram ainda mais. Não se alteraram com os efeitos distributivos da estabilização da moeda e o fim da inflação trazido pelo Plano Real, que reconhecidamente foi um dos processos mais desconcentradores de renda do capitalismo.
O Brasil ficou moderno demais para  conviver com a injustiça. A melhora geral do país nos outros quesitos mostra que a questão da concentração de renda chegou a um ponto em que, pela primeira vez na História do Brasil, pode ser atacada com chance de sucesso. Os especialistas dizem que uma das saídas é  justamente progredir no campo social. Entre  as outras saídas que funcionaram em nações como a Coreia do Sul, o Japão e a Itália, o investimento maciço em educação é a que dá resultados mais duradouros, mesmo que a longo prazo. Essencial também é cobrar menos impostos e gastar melhor. Os países mais bem-sucedidos na distribuição de renda foram também aqueles que diminuíram o tamanho do Estado, estabilizaram seus gastos e puderam dessa forma induzir um crescimento mais sadio e justo da economia. A receita está aí.
É hora de usá-la.

            (Editorial da Veja)




8.Dissertação objetiva e subjetiva

Objetiva


Ao se expor um problema, ao se discutir um assunto, pode-se abordá-lo objetiva ou subjetivamente.
Se a exposição de um assunto se apresentar impessoal, marcada pela linguagem denotativa e referencial, a dissertação é objetiva.


Miséria nacional: fome no país ataca 90 milhões
O Brasil é grande colecionador de títulos mundiais de baixo consumo de calorias e de outras deficiências.
Um dos últimos relatórios do Banco Mundial sobre a aplicação dos empréstimos no Brasil confirmou uma realidade: o dinheiro aplicado no país em programas de cunho social não é bem gasto e a eficácia desses programas é bastante questionável. Gasta-se muito dinheiro com a operacionalização dos projetos e o que sobra para que o auxílio direto à população fica muito baixo da verba original. A solução do problema da fome tem, obrigatoriamente, que passar por soluções de questões estruturais como a divisão de renda e a reforma agrária.
Noventa milhões de brasileiros passam fome. Destes, 50 milhões têm fome absoluta, e o restante o que chamamos de fome marginal, ou seja, brasileiros que estão comendo, mas não tudo o que necessitam. As pesquisas que existem em termos de universidades e órgãos federais mostram as deficiências proteico-vitamínicas na população: são graves em todo o país.
Temos quatro carências graves hoje no Brasil: a falta de vitamina A; a anemia, ou seja, a falta de ferro; o bócio, por falta de iodo; e a cárie dentária, por falta de flúor.
 O Brasil coleciona títulos de baixo consumo de calorias, proteínas animal  e vegetal e vários outros tipos de alimentos energéticos. Nossa mortalidade infantil é altíssima, chegando a 130 por mil em algumas regiões, isto é, chega a 13%.
As carências nutricionais específicas, hipovitaminose A, anemia, cárie e bócio são fáceis de resolver. São de baixo custo. Pode-se resolver com medicina preventiva, como se fosse uma vacinação. Já a desnutrição energético-proteica, a desnutrição global, só mesmo com comida. As cestas básicas ajudam, mas são solução paliativa. Se no plano político a distribuição de renda se mostra difícil, é preciso que, pelo menos, o governo ajude as famílias carentes a conseguir gerar renda. Tendo uma renda, ou conseguindo aumenta-la, as próprias famílias vão-se incumbir de comer melhor.
A complexidade desse problema deve-se à exportação. O país tem que produzir para consumo interno e tem que produzir para exportar, sendo que  a exportação tem importância fundamental dentro de um quadro de economia dependente internacionalmente: o Brasil tem que produzir para pagar sua dívida externa, cumprir acordos econômicos, internacionais, etc.
Os alimentos produzidos são, em parte, exportados, e o restante comercializado para quem tem dinheiro. O crucial é que grande parte da população não tem poder aquisitivo. Mas não é só na área de nutrição; a educação e a saúde também apresentam o mesmo problema. No nosso caso, os recursos são baixíssimos, o que permite atendimento a um número bastante reduzido da população. Enquanto os recursos forem pequenos, os programas serão tímidos.
Por isso fica difícil pensar numa ação conjunta de organismos governamentais e entidades de ação social para o combate à desnutrição.

                      (Mozahir Salomão)


Subjetiva

Se há predomínio da linguagem metafórica (às vezes poética), numa abordagem introspectiva (às vezes inflamada ), provocando a emotividade do leitor, a dissertação é subjetiva.


Nossa fome
Que países em guerra, ou vítimas de catástrofes, tenham conhecido e ainda conheçam a fome, é compreensível, ainda que não se explique. Que países vítimas de clima ingrato e solo ainda mais ingrato tenham que dosar a ração alimentar, entende-se.
Que um país da extensão do nosso, com um oceano a banhar-lhe a costa, com terras cultiváveis, inclusive as do ressequido Nordeste, conheça o triste espetáculo da fome, é mais do que triste e lamentável: é revoltante.
O país apontado como futuro celeiro do mundo está vendo seus filhos remexendo monturos e latas de lixo, saqueando, minguando de fome e, no desespero de não saber onde encontrar a próxima ração dos filhos, caindo na violência.
Por estar perto demais de todos nós, o problema não pode deixar o brasileiro indiferente. Não é possível disfarçar a fome com consumismo, sexo, futebol e palavras de esperança. A barriga vazia dói, principalmente nas crianças, afetando-lhes o cérebro, que mal pode pensar.
O Zé e a Maria começam a desmaiar nas filas e no batente; o dia inteiro as crianças choram famintas; muitas morrem antes de completar um ano de idade, vítimas da desnutrição. Aumentam as doenças, a violência, o medo, o desemprego e a fome os acompanha.
Não se explica por que um país como o nosso se endividou, planejou tão mal e plantou de maneira tão errática, permitindo preços extorsivos que dificultam o plantio e a colheita, tornando impossível a compra do que o solo produziu.
Na terra que, segundo Caminha, “é boa e tudo dá”, o povo passa fome.
O governo, a oposição e as lideranças precisam achar a resposta à fome antes da anarquia. Um povo com fome devora tudo, inclusive seus líderes. No momento o Brasil só tem um problema: Comida!
Outros problemas podem esperar, esse não. 

                             (Marilda Prates)


Observe que os textos lidos apresentam afinidade de conteúdo – o tema fome – mas diferentes abordagens. 

No primeiro, a linguagem denotativa, a função referencial, o teor informativo e impessoal do texto classificam-se no objetivo. 

Quanto ao segundo texto, a linguagem contundente e inflamada mostra a predominância da função emotiva sobre a referencial, o que distingue a dissertação como subjetiva. Note: ambos analisam, criticam, discutem.



9. Generalização e particularização

Podemos desenvolver uma dissertação encaminhado nosso raciocínio indutivamente, ou seja, partindo de um fato particular para uma generalização; ou dedutivamente, tomando um princípio geral para chegar a uma conclusão particularizante. O senso comum resulta dessas duas experiências lógicas.


Indução

A indução leva-nos a tomar casos particulares, observados como verdadeiros, para chegar a casos similares, ainda não observados. Por exemplo: João, discutindo com Mário, descobriu que este, apesar de ter alcançado média em todas as matérias, não foi aprovado no vestibular, pois não obteve a nota mínima exigida em Redação. Em contanto com outros estudantes, confirmou casos semelhantes, o que o induziu a concluir o seguinte: todo aluno que não atingiu média em Redação não foi aprovado no vestibular. Assim, ele chegou a uma evidência inferida por meio de exemplos particulares, a qual pode ser projetada para o futuro, se as regras do vestibular não forem alteradas, permanecendo verdadeira a conclusão de que todo aluno não atingir média em Redação não será aprovado no vestibular.
No texto abaixo, observe o encaminhamento de um fato particular ( o assassínio de um estudante) para uma generalização ( a imunidade parlamentar e a corrupção).



Imunidade Parlamentar
O corpo da estudante M.B.S., de 20 anos, foi encontrado, em junho de 1998, num terreno baldio nas proximidades de João Pessoa. Concluído o inquérito policial, provas foram reunidas e o principal suspeito do homicídio era um deputado estadual. Em observância ao instituto da imunidade parlamentar, por duas vezes foi solicitada à Assembleia Legislativa da Paraíba autorização para a instauração de processo criminal. Contudo as duas solicitações foram indeferidas. O deputado estadual exerce o seu quinto mandato consecutivo.
A gravidade do episódio suscita indagações. Em que medida o instituto da imunidade parlamentar é compatível com o Estado de Direito? É razoável, na hipótese de crime comum, condicionar à prévia licença a instauração de processo contra parlamentares? A imunidade parlamentar deve ser compreendida como uma prerrogativa institucional ou como um privilégio pessoal?
A denominada imunidade parlamentar processual fundamenta-se na ideia de preservação da independência e da autonomia do Legislativo, livrando-o do arbítrio, das ameaças e das perseguições comprometedoras de sua atuação. Teve seu apogeu histórico no final do século 18, na Revolução Francesa, como exigência da soberania do Parlamento moderno, que refletiria a própria soberania popular. Isso significa que a imunidade parlamentar só se justifica como garantia da instituição e como prerrogativa que objetiva assegurar o bom exercício da função parlamentar.
Essas razões subsistiriam na ordem contemporânea? Haveria justificativas para sua manutenção na Constituição de 1988? Na experiência constitucional brasileira, desde a primeira Constituição, a Carta Imperial  de 1824, até a Constituição hoje vigente – com exceção feita à Carta de 1937 - , a imunidade processual permaneceu praticamente inalterada. A respeito, vale reiterar o disposto no artigo 53, parágrafo primeiro da Constituição de 1988: “Desde a expediçãodo diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável, nem processados criminalmente sem a prévia licença de sua Casa”.
A imunidade processual afronta o princípio da igualdade de todos perante a lei , o qual requer que seja a lei aplicada de forma geral e genérica a todos. Afronta ainda a exigência de responsabilização de todos os agentes públicos pelas ações que cometerem. O fato de exercer determinada função pública não pode ser escudo para a atribuição de responsabilidades. Merecem menção os casos Pinochet (preso e processado criminalmente) e Milosevic (preso e inidiciado pela ONU), bem como toda a tendência contemporânea de abolir as imunidades em razão do exercício de determinado cargo, tornando as pessoas públicas responsáveis por seus atos. Basta, para tanto, citar o artigo 27 do Estatuto do Tribunal Penal Internacional  Permanente, que prescreve: “O estatuto será aplicável igualmente a todos, sem distinção nenhuma baseada em cargo oficial, que não poderá eximir a responsabilidade penal nem poderá ser motivo para a redução de pena”.
A vítima de um crime tem direito a proteção judicial, não podendo a lei excluir da apreciação do Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. Quinto.,XXXV, da constituição de 1988). Ao princípio do livre acesso judiciário, conjuga-se o dever do Estado de investigar, processar e punir aqueles que cometeram delitos.
Todos estes princípios são  consagrados pela Constituição de 1988 na qualidade de marco jurídico da transição democrática e da institucionalização dos direitos humanos no país. Temos de romper o legado da imunidade parlamentar para os crimes comuns, por exigência dos princípios  que regem o Estado de Direito, preservando a inviolabilidade parlamentar para os crimes comuns, por exigência dos princípios que regem o Estado de Direito, preservando a inviolabilidade parlamentar para os chamados delitos de opinião.
Pelos mesmos argumentos, deve ser abolido o foro privilegiado – que afronta o princípio  da igualdade – e o voto secreto no Parlamento – que afronta o princípio da publicidade e transparência.
Em levantamento feito pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado Nelson Pelegrino (PT-BA), constata-se que, de 1995 a 1999, foram rejeitados 109 dos 137 pedidos de autorização para que os deputados fossem criminalmente processados.
Os dados mostram que a imunidade no país. A comissão pretende iniciar uma campanha pelo fim da imunidade parlamentar converte-se de prerrogativa institucional em privilégio pessoal, inaceitável e inadmissível pela lógica e pelos princípios de um verdadeiro Estado democrático de Direito.
                    

          (Folha de S. Paulo, 4/7/2001)
          



Dedução

Num processo inverso, a dedução leva-nos a tomar fatos ou ideias gerais para chegar a uma conclusão particularizante. Por exemplo: se, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, todo homem nasce livre, sem distinção de credo ou raça, podemos deduzir que, num país racista como era a África do sul, cada cidadão negro deveria ter esses direitos respeitados. No método dedutivo, opera-se o raciocínio silogístico: parte de uma premissa de caráter geral para se chegar a uma conclusão particularizante.


Observe no texto seguinte a passagem da generalização (a organização da sociedade brasileira) para a particularização (os mantenedores da desorganização e os criminosos).


Violência no Terceiro Mundo

A organização da sociedade brasileira tem, no desrespeito à vida humana, uma de suas normas mais cruéis. O pressuposto de nossas cidades é a negação da cidadania a um grande contingente de indivíduos explorados e que vivem na miséria das periferias.
Identificam-se entre os mantenedores da desorganização social os grandes empresários, banqueiros, industriais e demais segmentos que dela se beneficiam. Eles se acumulam suas fortunas pagando remunerações aviltantes aos indivíduos que vivem na miséria da periferia, trabalham na cidade por salário mínimo e podem ser demitidos, a qualquer momento, por um patrão imune a todo tipo de violência e quase sempre protegido pela legislação.
Quem enriqueceu às custas da mão-de-obra barata nem de longe tem seu nome aventado, na análise do processo que envolveu o ingresso de um indivíduo na marginalidade. A suposição de que o crime pode ser atribuído unicamente aos problemas sociais leva alguns criminólogos a cruzarem dados sobre salário mínimo/desemprego com taxas de criminalidade, sem que qualquer relação seja estabelecida com a responsabilidade do empregado.
Pedreiros, serventes de pedreiros, pintores e caiadores aparecem com mais frequência entre aqueles que ingressaram no crime: não é de se estranhar que essas atividades estejam todas ligadas à indústria da construção civil, um dos setores empresariais que enriquecem com o trabalho temporário dos operários e se autoelogiam como o segmento produtivo que ocupa mão-de-obra não-especializada e procedente das camadas mais sacrificadas da sociedade.
Enquanto o modelo econômico vigente não for modificado, nossas cidades vão conviver com índices alarmantes de assaltos, roubos, estupros, homicídios e toda sorte de delitos.

     (Adaptado da revista Terceiro Mundo)


Sofisma

Quando partimos de premissas verdadeiras, mas que levam a uma conclusão falsa, temos um sofisma, como, por exemplo: se houvessem sido apuradas situações de corrupção administrativa em vários governos e a incidência desses fatos nos levasse a concluir que todo funcionário público é corrupto, teríamos uma dedução falsa, enganosa, falaciosa; portanto, um sofisma.

Observe no texto abaixo como o autor prova ser falaciosa a atribuição de “pulmão do mundo” dada à Amazônia:



A falácia do pulmão do mundo

No início da década de 20, divulgava-se, nos meios científicos, políticos e jornalísticos, que a “Floresta era responsável pela maior parte da produção e emissão de oxigênio para a atmosfera terrestre. Em consequência, o desmatamento dessa biomassa iria causara morte por asfixia, de toda a biosfera”. E, a partir daí, surgia a ideia de que não se podia abandonar a Amazônia à sua própria sorte, ou ao seu próprio governo, se havia, na conservação de suas florestas, interessa universal. Estava em causa a própria humanidade.
Era o início da tese da “planetarização” da Amazônia, isto é, subordinar a região a um comando internacional, com poderes suficientes para manter a sua função de pulmão do universo. Para isto, como condição inicial, havia que anular a soberania do Brasil, substituindo-a por um condomínio, em que estivessem presentes as grandes nações do universo. Substituída a soberania nacional por uma soberania planetária.
Este é um dos temas expostos e estudados pelo Sr Samuel Benchimol, numa publicação em xerox, institulada Amazônia: planetarização e moratória ecológica, edição do Instituto de Estudos da Amazônia, Isea, que tem, como sede, a cidade de Manaus. Seu autor é um empresário que conhece, com verdadeira proficiência, os assuntos e os problemas daquela região. (...) Embora trate de diversos aspectos dos problemas da Amazônia, elucida, de maneira irrefutável, a falácia do pulmão do mundo, com que se dissimulavam apetites imperialistas, valendo-se de pretexto, como sempre aconteceu, desde as fábulas de La Fontaine, ou muito antes delas, com as ambições dos poderosos.
A tese tem a intensão de fazer da Amazônia uma fábrica de oxigênio a serviço do planeta, explica o professor Samuel Benchimol.(...) Baseado numa ideia falsa, construía-se, contra o Brasil, um verdadeiro libelo, o de que estaria acabando com o ar que respirava o pulmão do mundo. Era, também, acusado com o ar que respirava o pulmão do mundo. Era, também, acusado de estar concorrendo para o efeito estufa, que já era responsável por tantos males de  que sofria a humanidade. Eram deixadas de lado as explosões nucleares, que encontravam absolvição fácil, por partirem de nações poderosas. Aqui já não se falava no pulmão do universo. Mas insistia-se nas queimadas, que concorreriam para destruir o ozônio, com que o planeta se defende, ou se protege, e levariam a humanidade a uma hecatombe inarredável, se não fossem tomadas medidas suficientes para afugentar os males que se iam acumulando, de ano para ano.

Neste ponto, a argumentação do professor Benchimol e dos cientistas em que se apoia é irresponsável. Não é o Brasil o maior responsável pelo dióxido de carbono com que se polui a atmosfera, comprometendo a camada de ozônio com que o planeta se protege.
Desde a Revolução Industrial, que vem dos fins do século XVIII, com o aproveitamentodo carvão de pedra, e, mais tarde, com a utilização do petróleo, o delito, se era delito, estava em função do progresso industrial dos países industrializados. Não se podia deixar de levar em consideração o número de veículos que usam carburantes, diz o professor Luís Carlos Molion, do instituto de Ciências Espaciais de São José dos Campos. Como resultado, temos o quadro geral de Emissão de Carbono de Combustíveis Fósseis, incluindo automóveis, fábricas e usinas termoelétricas, em milhões de toneladas, conforme pesquisa publicada pela revista americana Time, em janeiro de 1988. E por ela se verifica que, em 1987, o  Brasil figura apenas com 50,2,enquanto os Estados Unidos surgem com 1.224,7 , a União Soviética com 1.013,6 e a Europa Ocidental com 791,6. Nada mais do que um reflexo do progresso industrial destes países. Compare-se o índice deles com o os 50,2 do Brasil, para verificar como é pequena a participação do nosso país na emissão de carbono. Com a chancela da insuspeita revista Time.
Há, pois, necessidade de divulgar estes números para arredar do Brasil a acusação de vilão, com que nos procura condenar a imprensa estrangeira. E, se se interessam tanto pela conservação da Mata Amazônia, por que não se queixam do trabalho desesperado das serrarias que exportam madeiras para o resto do mundo e especialmente para os Estados Unidos? A começar pelo mogno, a que dá preferência o mercado americano. De certo, não há, como nas queimadas, a poluição da atmosfera, mas não se sabe ainda qual o maior responsável pelo desmatamento da Amazônia, no paralelo entre o fogo e a serra.(...)

             (Barbosa Lima Sobrinho)




11.     O parágrafo dissertativo


A importância do parágrafo dissertativo explica-se pela necessidade de que as partes que compõem a dissertação – tese, desenvolvimento/argumentação e conclusão – sejam delimitadas.


Em princípio, são necessários pelos menos três parágrafos, um para cada parte; porém, há dissertações com um ou muitos parágrafos, como é o caso de textos jurídicos, jornalísticos, didáticos ou acadêmicos.

Na argumentação, os parágrafos apresentam uma ideia-núcleo pertinente à tese. Para não se tornar apenas uma informação e/ ou afirmação vaga, cada uma dessas ideias deve ser aplicada – na argumentação – por meio de exemplos, evidências, justificativas, juízos etc.


A troca de parágrafos não implica uma mudança de assunto, que deve ser o mesmo em toda a extensão da dissertação. Um novo enfoque é o que provoca a mudança de parágrafo.

Podemos encontrar textos dissertativos com mais de uma ideia-núcleo em cada parágrafo e até mesmo um ou mais parágrafos que concluem o desenvolvimento da ideia-núcleo. Observe, no texto abaixo, como isso ocorre  (1 a 6).


Gíria: a linguagem de todos

A gíria é um patrimônio comum, é um instrumento de comunicação que parece imprescindível , sobretudo para a juventude.(1) Até mesmo as geração que a condenam acabaram por assimilar algumas expressões de maior ocorrência. Os marginais contribuem com um repertório próprio, muitas vezes desconhecido pela população, e os meios de comunicação asseguram a penetração de elementos inovadores.

 Podemos atribuir a gênese da gíria aos estratos sociais que apresentam menor grau de instrução,(2)posto que seus recursos linguísticos limitados evidenciam-se sobretudo na carência vocabular. Há, ainda, em determinados segmentos da sociedade, como o dos marginais, a criação de vocábulos gírios para assegurar a defesa de seus interesses.

Lembramos, por exemplo, que “presunto” designa cadáver; “cana” , prisão; “muamba”, mercadoria roubada.
Também a juventude fez da gíria uma das bandeiras de sua geração,(3) especialmente a partir do movimento hippie, acompanhando as rupturas ideológicas que se seguiram. Os meios de comunicação, por sua vez, garantem as renovações linguísticas(4) em que se acentua o uso indiscriminado da gíria, reduzindo a comunicação a recursos fáticos, ou seja, a expressões orais isentas de carga informativa ou significativa. Os programas humorísticos, por exemplo, difundem-na largamente. Dessa forma, a gíria passou de signo de rebeldia de uma década a fator de comunicação imediata. Incorporada ao efetivo da língua, ela dilui diferenças etárias e sociais.(5)

Pode-se deduzir que não há como expurgar do discurso de todos os falantes essa variante de comunicação,(6) uma vez  que os veículos de massa garantem a sua manutenção no sistema, realimentando o léxico com inovações linguísticas. Assim, não se deve preterir a norma privilegiada em favor da gíria, e sim equilibrar os registros de fala propícios a cada contexto social.

              (Thaís Montenegro Chinellato)


12.     Coesão

Uma dissertação bem redigida apresenta, necessariamente, perfeita articulação de ideias. Para obtê-la, é necessário promover o encadeamento semântico (significado, ideias) e o encadeamento sintático (mecanismo que ligam uma oração à outra).

A coesão(elemento da frase A retomado na frase B) é obtida, principalmente, por meio dos elementos de ligação que proporcionam as relações necessárias à integração harmoniosa de orações e parágrafos em torno de um mesmo assunto (eixo temático).

No texto abaixo, os elementos de ligação estão destacados. Observe a relação o valor ou a ideia que eles assumem no texto.


Os sem-terra
Embora seja patente que, muitas vezes, o governo costuma agir mais celeremente quando está sob pressão, a intensificação das invasões de fazendas pelos sem-terra parece ser o instrumento errado para promover a sempre prometida e nunca realizada reforma agrária.
É de fato um absurdo que, num país tão extenso e fértil como é o Brasil, a terra seja usada como reserva de valor  enquanto milhões de famílias de clara tradição rural não têm onde plantar para viver.
Ocorre,porém, que a invasão de terras constitui um ilícito, e a  democracia não pode tolerar ilícitos, por mais justos que pareçam.

Também parece ser enganosa a tese de que a intensificação das invasões deu visibilidade à questão fundiária. O que despertou o interesse dos meios de comunicação para o problema dos sem-terra foi sem dúvida a chacina de Corumbiara, e ninguém, em sã consciência, pode defender que ocorram outros episódios hediondos como aquele apenas para que a mídia dê mais atenção à reforma agrária.

O melhor meio para promover uma distribuição mais justa do solo brasileiro parece ser o instrumento fiscal. Se as terra improdutivas recebessem uma taxação extremamente pesada, confiscatória mesmo, ninguém mais usaria a terra como reserva de valor, o que tenderia a fazer com que seu preço abaixasse e que a produção agrícola do país aumentasse.

Os sem-terra têm todo o direito , o dever até, de fazer o máximo possível de pressão sobre o governo para que ele atue nessa importantíssima questão, mas dentro dos limites da lei, sob pena de infringir o Estado de Direito e, portanto, a democracia que, no fundo, é a maior garantia para que suas reivindicações sejam atendidas.

               (“Editorial “ ,Folha de S. Paulo.)


Num levantamento detalhado, Othon Moacyr Garcia (Comunicação em prosa moderna) arrolou os mais usuais elementos de ligação empregados na dissertação –advérbios, locuções, conjunções e preposições. 

Os itens seguintes encerram o significado de cada grupo de elementos de ligação.

Prioridade, relevância:

Em primeiro lugar, antes de mais nada, primeiramente, acima de tudo, precipuamente, mormente, principalmente, primordialmente, sobretudo

Tempo (frequência, duração, ordem, sucessão, anterioridade, posterioridade):

então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo após, a princípio, pouco antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, frequentemente, constantemente, às vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo, enquanto isso e as conjunções temporais (quando, antes que, depois de, logo que, sempre que, assim que, desde que, todas as vezes que, cada vez que, apenas, já, mal)

Semelhança, comparação, conformidade:

igualmente , da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista e as conjunções comparativas (tal qual, tanto quanto, como, assim como, bem como, como se)

Adição, continuação:

 além disso, (a)demais, outrossim, ainda mais, ainda por cima, por outro lado, também e as conjunções aditivas (e, nem, não só... mas também etc.).

Condição, hipótese:

 se, caso, salvo se, contanto que, desde que, a menos que etc.

Dúvida:

 talvez, provavelmente, possivelmente, quiça, quem sabe, é provável, não é certo, se é que.

Certeza, ênfase:

 decerto, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com toda certeza.

Surpresa, imprevisto:

 inesperadamente, inopinadamente, de súbito, imprevistamente, surpreendentemente, subitamente, de repente.

Prioridade, relevância, ilustração, esclarecimento:

 por exemplo, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou por outra, a saber , ou seja.

Propósito, intenção, finalidade:

 como o fim de, a fim de, com o propósito de, para que, afim de que.

Lugar, proximidade, distância:

 perto de, próximo a ou de, junto a ou de, dentro, fora, mais adiante, além, acolá, outros advérbios de lugar (aqui, lá, ali), algumas outras preposições e os pronomes de-monstrativos (este, estes, aquele, aqueles, esta, estas).

Resumo, recapitulação, conclusão:

 em suma, em síntese, em conclusão, enfim, em resumo, portanto, assim, dessa forma, dessa maneira, logo, pois.

Causa e consequência:

 daí, por consequência, por conseguinte, como resultado, por isso, por causa de, em virtude de, assim de fato , com efeito e as conjunções causais, conclusivas e explicativas (porque, porquanto, pois, que, já que, uma vez que, visto que, como [=porque],portanto, logo, pois{posposto ao verbo} que [=porque])

Contraste, oposição, restrição, ressalva:

 pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, menos e as conjunções adversativas e concessivas (mas, contudo, todavia, entretanto, embora, apesar de, ainda que, mesmo que, posto que, conquanto, se bem que, por mais que, por menos que, no entanto).

Referência em geral:

 os pronomes demonstrativos “este” (o mais próximo), “aquele”(o mais distante), “esse” (posição intermediária: o que está perto da pessoa com quem se fala); os pronomes pessoais; repetições da mesma palavra, de um sinônimo, perífrase ou variante sua; os pronomes adjetivos (último, penúltimo, antepenúltimo, anterior, posterior); os numerais ordinais (primeiro, segundo etc.).


Segundo Celso Cunha, certas palavras têm classificação à parte, por isso convém “dizer apenas palavras ou locução denotativa” de:


a)inclusão: até, inclusive, mesmo, também, etc;

b)exlusão: apenas , exceto, salvo, senão, só, somente etc;

c)designação: eis;

d)realce: cá, lá, é que, só, etc.

e)retificação: aliás, ou antes, isto é, ou melhor etc;

f)situação: afinal, agora, então, mas
etc.



Bons estudo meus amores, com muita paz e luz, com carinho de sua eterna Prof Dr Master Reikiana Aldry Suzuki amo vocês!! 


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