segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

"INTERNACIONALIZAÇÃO DO JAPÃO E SEUS DESCENDENTES" Histórias contadas pelos japonês ALDRY SUZUKI - CONCURSO LITERÁRIO NO JAPÃO

VII- HISTÓRIAS CONTADAS PELOS JAPONÊS


A)  A BONECA OKIKU DO TEMPLO MANNEJI





Conheça a história da boneca que parece ter vida

Quarenta centímetros de altura, um kimono de estampa vistosa, onde se destaca a faixa vermelha, em que estão bordados dois delicados crisântemos . A boneca, batizada de Okiku(crisântemo), seria como qualquer boneca antiga, não fosse um pequeno detalhe: estar no altar do templo Mannenji, na cidade de Kurisawa, Hokkaido.



HÁ QUASE 70 ANOS...
        Era dia 15 de agosto de 1932 quando Eikichi Suzuki resolveu visitar uma exposição que se realizava na cidade de Sapporo, em Hokkaido. Ao retornar para casa avistou uma boneca, numa loja da cidade, e resolveu compra-la para a sua irmã Kikuko, que andava adoentada.
        O rosto da menina se iluminou assim que viu o presente. A alegria da pequena Kikuko foi tamanha que ela não quis mais se separar da boneca, levando-a consigo para todos os lugares.
Kikuko continuava muito doente e no dia 34 de janeiro do ano seguinte, com apenas 3 anos, veio a falecer. A família, imersa na dor, esqueceu-se de colocar a boneca no caixão e após a cremação do corpo a boneca foi colocada dentro do butsudan (oratório), junto às cinzas de Kikuko.

A TRANSFORMAÇÃO

        Os familhares rezavam, todos os dias, diante do butsudan, até que alguém notou que o cabelo da boneca parecia crescer. Quando a guerra assolou o país na década de 40, as pessoas fugiram para o interior. A família da menina fez o mesmo e pediu para os sacerdotes do templo Mannenji que guardassem a boneca e as cinzas de Kikuko. Finda a guerra, a família retornou a cidade e uma vez no templo, percebeu, com espanto, que o cabelo da boneca não parava de crescer!
        Certo de que estava diante de um fenômeno sobrenatural, Eikichi Suzuki, o irmão, solicitou ao templo que a boneca permanecesse em Manneji.
O fenômeno, alardeado pela imprensa, levou ao templo inúmeros pesquisadores em busca de um explicação cientifica para os acontecimentos, e uma legião de turistas curiosos.
        Apesar das controvérsias, as transformações acontecidas com a boneca nos últimos anos impressionaram. O cabelo que mal chegava nos ombros atingiu a cintura. A boca, antes cerrada, esta entreaberta e úmida, assim como os olhos, que parecem fitar os visitantes com uma expressão quase humana.

KUYOO, UM RITUAL DE AGRADECIMENTO AOS OBJETOS USADOS

O Japão é um país cheio de tradições, algumas bem esquisitas, digamos de passagem. Este povo que se acostumou a reverenciar deuses para ter alimento, também reverencia objetos. Segundo as crenças, certos objetos são dotados de espírito, então e justo que após cumprirem seus papeis juntos aos homens, eles tenham um descanso apropriado.
        Em rituais chamados “Kuyoo”, objetos como agulhas e bonecos, são levados aos templos em sinal de gratidão para “descansar em paz\”.São famosos os Harikuiyoo(kuyoo das agulhas de costura), os Darumakuyoo (kuyoo de Daruma) e os Ningyoo Kuyoo (kuyoo de bonecas).
O ritual destinado às bonecas, acontece em todo o pais no dia 15 de outubro. Dia das bonecas . Muitos  templos, como o Rennooji, em Toyama-ken, realizaram o kuyoo, queimando bonecas que foram enviadas de todas as partes do japão.





B) “ O cãozinho cuja mortalidade foi a única coisa que terminou com sua lealdade...”


Foto do verdadeiro Hachiko.





HACHIKO ....
 A 4 de outubro de 1932, a raça dos cachorros Akita adquiriu notoridade e fama no mundo inteiro, quando o jornal Asahi Shimbum ( 4 de outubro de 1933) notificou a fidelidade de um cachorro de nome HACHIKO, no artigo “Um velho cão durante 7 anos, aguarda diariamente  na  estação o retorno de seu mestre...”
        O cãozinho HACHIKO nasceu em novembro de 1922 na cidade de Odate na província de Akita.
        Com rotina diária, quando seu dono saía para trabalhar, acompanhava-o todos os dias da casa até a estação de trem e vice-versa. Todavia, em 21 de maio de 1925, seu mestre morreu e portanto nunca mais regressou...






        O proprietário de HACHIKO era o Dr. Eisaburo Ueno, professor da Universidade Imperial ( hoje Universidade de Tóquio) do Departamento de Agricultura, O professor Ueno mimava o cachorrinho levando-o passear e considerando-o como um membro da família. No entanto, o professor Ueno faleceu vítima de um ataque cardíaco, quando o Hachiko contava apenas um ano e meio.
        Neste dia, o Akita leal, esperou pelo seu mestre, como de costume desde ás 3 e  meia da tarde até a madrugada. Repetiu o mesmo no dia seguinte e, assim por 10 anos. Como num pacto silencioso, Hachiko continuou indo para a estação de trem de shibuya de tarde até o  anoitecer, para esperar pelo seu dono que havia falecido.
        Nada e ninguém desencorajava Hachiko de fazer a sua vigília. Parentes do professor, funcionários da estação e outras pessoas comovidos cuidavam dele, servindo-lhe alimento.
        Hachinko  morreu em 8 de março  de 1935 e foi quando ele passou a fazer parte da história do Japão, simbolizando  a fidelidade da raça akita!
        A sua mortalidade foi realmente a única coisa que terminou com sua lealdade! Um dia nacional de luto foi declarado em sua homenagem. Foi sepultado próximo do professor Ueno no cemineterio de Aoyama em tóquio.
        Uma estatua de Hachinko foi construída pelo famoso artista japonês ANDO TERU e erigida em 21 de abril de 1934 próximo à entrada da estação.
        Hachiko pode ter morrido mas ele jamais será esquecido!  A sua singela história, através da estátua, perpetua no tempo e continua encantando os corações da população local e seus visitantes...

Em homenagem ao Hachinko um mosaiko colorido de akitas cobre a parede perto da estação.



Hoje a estátua de Hachinko, o akita presta uma silenciosa homenagem à fidelidade  e lealdade desta raça!

Curisiodades

·       Durante a 2ª Guerra Mundial, a estátua de Hachinko foi removida pelo governo , para aproveitamento do bronze para a confecção de armamentos. Todavia, uma nova foi colocada em 1948 no mesmo local, esculpida pelo filho de Ando Teru, o escultor que fez a original.
·       Todos os anos, no dia 7 de março, há uma cerimônia solene em Shibuya de Tóquio (Chiken Hachiko Matsuri), onde centenas de pessoas prestam homenagem á lealdade e devoção de Hachiko.
·       Em 1988 foi construída  uma outra estatua de Hachiko também em Odate.
·       A lenda de Hachinko é ensinada ás crianças de escolas japonesas, como lição de lealdade que devem ter ao seu governo e respeito para com os anciões.
·       A vida de Hachinko foi retratada em um livro e em filme chamado “ A história de Hachinko”.
·       Turistas que passam pela estação de Hachinko podem comprar presentes e recordações do seu cão favorito na loja localizada no Memorial de Hachinko chamado “Shibuya no Shippo” ou “Tail of Shibuya
·       Revista Ano 1 nº 5 maio de 2001




C) O SIMBOLO DO ESTUDANTE JAPONÊS...
NINOMIYA SONTOKU KINJIRO






Muitos que vêem a estátua  de NINOMIYA SONTOKU na cidade que ganha o seu nome ( inomiya-mati), em Tochigi-ken, desconhecem a história do garoto que se transformou no modelo do estudante japonês. Filho de lavradores pobres, Sontoku nasceu em 1787 na antiga província de Sagami, atual Kanagawa-ken.




Ninomiya Kinjiro, seu nome verdadeiro, seus pais morreram numa inundação  e sozinho, foi forçado  a morar com seu tio. Como desde criança gostava de ler enquanto trabalhava, catando lenha na floresta carregando consigo um livro, esta imagem do menino Kinjiro estudando passou para a posteridade. É por este motivo que em quase todas as escolas de ensino primário e secundário do Japão, existe uma estátua de Sontoku como símbolo do estudante japonês e exemplo de dedicação!

Depois de muito esforço e estudos, o jovem conseguiu um emprego como técnico de Agricultura no clã dos Odagawa .

O método que utilizava para irrigação e fertilização do solo fez aumentar a colheita de arroz e passou a chamar atenção. Mais tarde foi contratado para participar do projeto de drenagem de Imbanuma, na antiga província de Shimosa. Atual Chiba-ken. Em 30 anos de atividade, visitou mais de 600 propriedades agrícolas, onde ensinou a melhor técnica de explorar a terra.

Para que os agricultores conseguissem um bom aproveitamento da terra, Ninomiya sistematizou um método que denominou hootoku ( a recompensa pela virtude). Seguindo esse sistema só haveria tranqüilidade para o homem, quando  a sociedade se juntasse a própria virtude. E isso só poderia ser alcançado através da sinceridade, poupança e muito trabalho. Esses princípios Ninomiya aprendeu lendo o filósofo chinês Confúcio.

Ninomiya morreu em 1856 aos 69 anos. Na época, havia recebido a tarefa de administrar e desenvolver 89 cidades, dentre as quais NIKKO (nesta cidade existe um aqueduto que funciona até os nossos dias).

A recompensa  pela virtude foi adotada pela restauração da Era Meiji (1868) doze anos mais tarde, como base da Reforma Agrária japonesa.
* estátua de Ninomiya – escola primaria de Chiba-ken.( março de 2001-nº 3 ano 1)


D) YOTSUYA KAIDAN



A triste história de Oiwa

O verão se aproxima e com ele a estação quente da contemplação do Hanabi, do Matsuri e do Bom-Odori vestido de yukata (quimono de verão)...

Tudo isso é refrescante, mas o que é mais refrescante nesta época, fazendo com que as pessoas, literalmente, “suem frio” são as histórias verídicas arrepiantes que datam da era Edo.

A mais famosa é o Yotsuya Kaidan que conta  a história de Oiwa, uma bela mulher que vivia com o seu marido Lemon no bairro hoje conhecido como Yotsuya em Tóquio. Um dia, Oiwa adoeceu e Lemon, impaciente, começou a destrata-la, chegando inclusive a usar de violência. Oiwa aguentava calada, pois tinha a esperança  de que um dia Lemon viria  a vingar a morte do seu pai, morto em circunstancias misteriosas. O que Oiwa não sabia é que fora o próprio Lemon, o causador da morte do sogro.

Um dia, Oume, filha de um rico comerciante local apaixona-se por Lemon e este, cheio de interesse, começa a corresponder. Oume, apesar de bonita e rica, era maquiavélica e vendo, que Oiwa seria um empecilho para a relação de ambos, entrega  a Lemon uma droga potente para dar a Oiwa.

Tomando a droga, o rosto de Oiwa começa a deformar e o cabelo a cair, fazendo a outrora bela Oiwa adquirir uma aparência terrível.

Enquanto isso, afim de ter uma desculpa para se separar de Oiwa, Lemon ameaça um jovem para que este seduza Oiwa porém, ao ver Oiwa o jovem fica amendrontado e acaba confessando toda a trama de Lemon.

Denorteada, Oiwa põe fim à própria vida cortando a garganta.
Chegando em casa e ao tomar conhecimento da situação, Lemon, enraivecido, mata o jovem e, jogando os 2 cadáveres no rio, revela ao povo que os 2 eram amantes.

Na noite de núpcias de Lemon e Oume, entretanto, aparece o espírito de Oiwa e enlouquecido de medo, Lemon acaba por degolar Oume e matar os seus familiares.

O povo, compadecido pelo triste destino de Oiwa, resolve enterrar o seu corpo no terreno próximo à sua casa e posteriormente um templo é erigido para a veneração do seu espírito.
·       túmulo onde se encontra os restos mortais de Oiwa.

TÚMULO DE OIWA



Hoje, o túmulo de Oiwa encontra-se no interior do templo Myookooji, próximo a estação Sugamo do Metrô Mita Line. O templo ficava originalmente em Yotshuya, mas em 1909 mudou-se para o atual bairro. O túmulo de Oiwa fica aos pés de uma árvore e é local de peregrinção de artistas que representam a personagem em peças teatrais como é o caso de Kabuki de verão e de cinemas.


Em Yotsuya fica ainda o templo Iwainari onde é venerado o espírito de Oiwa, porem corre uma lenda segundo a qual as pessoas que o visitam apenas por curiosidade ou descrentes, gradativamente tem os seus rostos deformados...


 “Tokaido Yosuya Kaidan” ( “the ghost of Yotsuya “ 1959), filme clássico de horror japones, dirigido por Nobuo Nakagawa ( considerado o Hitchcock japonês) ano 1 nº 6 junho 2001

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