terça-feira, 2 de outubro de 2012

AUTO DA BARCA / GIL VICENTE - SÍNTESE - CANTINHO BRASILEIRO






CANTINHO BRASILEIRO
AUTO DA BARCA DE GIL VICENTE
“O Auto da Barca do Inferno”

Cena Do Fidalgo (Dom Henrique)
Adereços que o caracterizam:
-pajem: desprezo pelos + pobres
-manto: vaidoso
-cadeira: julgava-se importante e poderoso      
Argumentos de Defesa:
-Barca do Inferno é desagradável
-tem alguém na Terra a rezar por ele
-é “fidalgo de solar” e por isso deve entrar na barca do Céu
-é nobre e importante
Pertence:
-à nobreza
Acusações:
-ter levado uma vida de prazeres, sem se importar com ninguém
-ter sido tirano para com o povo
-ser muito vaidoso
-desprezava o povo
Referência ao pai de Dom Henrique por que:
-é uma denuncia social, porque também o pai do Fidalgo já tinha entrado na Barca do Inferno, isto é, toda a classe nobre tinha os mesmos pecados.
A movimentação dele em cena:
-1º foi á barca do Diabo que lhe explica p onde vai a barca e falando sempre em tom d ironia
-depois foi à barca do Paraíso para tentar a sua sorte, mesmo o Anjo acusa-o de tirania e diz-lhe de q maneira nenhuma pode lá entrar
-o Fidalgo volta para a Barca do Inferno e o Diabo explica-lhe todos os seus pecados, fazendo com que ele fique muito triste e arrependido
Momentos psicológicos da personagem:
-ao princípio o Fidalgo está sereno e seguro que irá para o Paraíso
-dirige-se à barca do Anjo, arrogante, e fica irritado porque ele não lhe responde e mostra-se arrependido e desanimado por ter confiado no seu “Estado”
-no fim dirige-se ao Diabo, mais humilde, pedindo-lhe que o deixe regressar à Terra para ir ter com a amante
Crítica de Gil Vicente nesta cena:
-os nobres viviam como queriam (vida de luxúria)
-pensavam que bastava rezar e ir à missa para ir para o Céu
Características dadas às mulheres desse tempo:
-mentirosas
-infiéis
-falsas
-fingidas
-hipócritas
Caracterização do Fidalgo:
-nobre (fidalgo de solar)
-vaidoso
-presunçoso do seu estado social
-o seu longo manto e o criado que carrega a cadeira representam bem a sua vaidade e ostentação
-a forma cm reage perante o Diabo e o Anjo revelam a sua arrogância ( de quem está habituado a mandar e a ter tudo)
-apresenta-se como alguém importante
-despreza a barca do Diabo chamando-lhe “cortiço”
-a sua conversa com o Diabo revela-nos que além da sua mulher tinha uma amante, mas que ambas o enganavam pois a mulher quando ele morreu chorava mas era de felicidade e a amante antes de ele morrer já estava com outro
-o Fidalgo é, pois, uma personagem tipo que representa a nobreza, os seus vícios, tirania, vaidade, arrogância e presunção
Desenlace:
-Inferno
Cena Do Onzeneiro (Usuário)
Símbolos cénicos:
-bolsão: representa o dinheiro
Esta personagem pertence:
-à burguesia
“Oh! Que má-hora venhais,/ onzeneiro, meu parente!”:
-o Diabo revela, c este tratamento, q Onzeneiro tem semelhanças com  ele, é como se fossem membros da mesma família
-o Diabo sempre o ajudou a fazer o mal, a enganar os outros.
-agora os papeis invertem-se: é a vez de o Onzeneiro ajudar o Diabo
Defesas:
-ter morrido sem esperar
-não ter tido tempo de “apanhar” + dinheiro
               À Esta queixa mostra que para esta personagem o dinheiro era importante
-jura ter o bolsão vazio
-precisa de ir à Terra para ir buscar + dinheiro (para comprar o Paraíso)
Acusações:
-Anjo: acusa-o de levar um bolsão cheio de dinheiro e o coração cheio de pecados, cheio de amor pelo dinheiro.
-ser avarento
O Onzeneiro é condenado pelo Anjo ao Inferno por que:
-leva o coração cheio de pecados, cheio de amor pelo dinheiro e o bolsão representa esse dinheiro.
O Onzeneiro interpreta a recusa do Anjo cm:
-q por n ter dinheiro não pode entrar no Paraíso
-ele pensa q com o dinheiro pode comprar tudo e resolver tudo
A vida do Onzeneiro:
-avareza (só pensa em dinheiro)
Gil Vicente dá esta pobre caracterização à vida da personagem por que:
-todas as personagens são personagens tipo
-não podem representar características pessoais
Desenlace:
-Inferno
Cena Do Parvo (Joanne)
No passado o Parvo representava:
-uma pessoa pobre de espírito (pertencia ao povo)
Não tem referência ao passado por que:
-não agiu com maldade
-não tem pecados 
Símbolos cénicos:
-não traz porque os símbolos cénicos estão relacionados com a vida Terrena e os pecados cometidos
-o Parvo não tem qualquer tipo de pecados
Defesas:
-Anjo: tudo o que fez foi sem maldade e é simples
O Parvo não usa qualquer tipo de argumento para convencer o Anjo a deixá-lo entrar no Paraíso por que:
-não teve tempo de dizer nada, a sua entrada naquela barca foi autorizada de imediato
-o Anjo deixa-o entrar porque tudo o que fez foi sem maldade
“Quem és tu? / Samica alguém”:
-revela a sua simplicidade
-a resposta está relacionada com o seu destino que é o Paraíso
Caracterização desta personagem:
-não traz símbolos cénicos com ele porque não tem qualquer tipo de pecados
-com simplicidade, ingenuidade e graça, auto- caracteriza-se ao Diabo como “tolo”
-queixa-se de ter morrido
-as suas atitudes ao longo da cena são descontraídas, o que irrita o Diabo que o quer na sua barca
-o Diabo é insultado por ele
-esses insultos revelam a sua pobreza de espírito
-apresenta-se ao Anjo com “Samica alguém” e este diz-lhe que entrará na sua barca, porque tudo  o que fez foi sem maldade
A minha opinião sobre esta cena:
-tem uma intenção lúdica: fazendo divertir quem está a assistir a esta peça
-também tem uma intenção de crítica: dizendo q os parvos são pessoas pobres de espírito e não tem intenção de fazer mal
-ajuda muito na crítica e faz os cómicos
Desfecho:
-fica no caís e entra com os Quatro Cavaleiros
Cena Do Sapateiro (Joanatão)
Símbolos Cénicos:
-avental: simboliza a profissão
-carregado se formas de sapatos: simbolizam a sua profissão e vem carregado pelos seus pecados
Esta personagem representa:
-o povo
Acusações:
-roubava
-enganava
-religião mal praticada
Defesas: (práticas religiosas)
-rezava e ia à missa ao fidalgo usou a mesma defesa
-fazia ofertas à igreja
-confessava-se
-fez todas as práticas religiosas
Crítica feita por Gil Vicente a todas as rezas:
-forma superficial de como os católicos praticavam a religião
-julgavam que as rezas, missas, comunhões, tinham mais valor que praticar o bem
Desfecho:
-Inferno
Cena Do Frade
Símbolos cénicos:
-habito de frade
-escudo
-capacete   - equipamento de esgrima
-espada
-moça (Florença)
Críticas com esses símbolos:
-desajuste entre a vida religiosa e a vida que ele levava ( vida mundana)
-os símbolos representavam a vida de prazeres que ele levava, o que o afastava do seu dever à crítica religiosa.
Pertencia:
-ao clero (mundano)
Argumentos de Acusação:
-era mundano
-n respeitou os votos de castidade e de pobreza
O Frade não nega as acusações feitas, pois:
-pensa que o fato de ser Frade e o seu hábito o vão salvar dos seus pecados
Argumentos de Defesa:
-ser Frade
-rezou muito
Apresenta-se com cortesão:
-o que revela que ele frequentava a corte e os seus prazeres, era um frade mundano
“Gentil padre mundanal”:
-contradição: encontra-se na palavra “mundanal” e “gentil”
-o Frade deveria ser uma pessoa dedicada à alma, ao espírito, mesmo é mundanal, vive os prazeres do mundo, por isso existe aqui uma contradição
“Diabo-(...) E n os punham lá grosa / no vosso convento santo?
Frade- E eles faziam outro tanto!” revela que:
-havia uma quebra de votos de castidade à hábito comum entre eles
-esta afirmação alarga a crítica a toda a classe social, pois o Frade é uma personagem tipo, representando toda uma classe social.
Uso do facto de ser Frade naquele tempo:
-pretende mostrar que o clero se mostrava superior
-poderia fazer o q quisesse sem ser condenado
-mal-estar na sociedade por serem cd vez + frequentes os Frades ricos e poderosos
O Anjo recusa-se a Florença com o Frade por que:
-tem vergonha do seu réu
-não tinha coragem de Florença com alguém do clero com tantos pecados (repugnante)
Frade aceita a sentença por que:
-viu que o Anjo não quis Florença com ele
-por que não cumpriu as regras que deveria ter cumprido
-se o Anjo se recusa a Florença com ele é por que todos os seus pecados foram graves
Caracterização do Frade:
-auto-caracteriza-se “cortesão” (frequentava a corte) o que entra em contradição com a sua classe
-sabe dançar tordilhão e esgrimir à qualidades típicas de um nobre
-é alegre pois chega ao cais a cantar e a dançar
-tal cm os outros Frades não cumpriu o voto de castidade nem de pobreza, com se comprovava com as suas palavras
-está convencido que por ser membro da Igreja tem entrada direta no Paraíso
-personagem tipo através da qual se critica o clero
Cena Da Alcoviteira (Brízida Vaz)
Símbolos Cénicos:
-seiscentos virgos postiços
-três arcas de feitiços
-três armários de mentir
-jóias de vestir
-guarda-roupa
-casa movediça
-estrado de cortiça
-dois coxins
(todos estes símbolos representavam a sua atividade de alcoviteira ligada à prostituição)
Tipo:
-alcoviteira
Quando o Diabo sabe que é Brízida Vaz que está no cais ele fica:
-contente: sabe que ela tem muitos pecados é por isso mais passageira para a sua barca
-surpreso / admirado : não esperava por ela tão cedo
-surpreendido
Com o campo semântico da mentira ela revela que:
-é hipócrita
-tenta fazer-se de vítima perante o Diabo para convencê-lo do que lhe interessa
-hábil mentirosa
Quando o Diabo a convida a entrar ela:
-diz, com alguma arrogância, que não  entra sem o Fidalgo
Perante o Anjo, Brízida Vaz usa outras tácticas:
-a sedução: muda o seu tom de voz tentando seduzir o Anjo
-usa vocabulário de cariz religioso: para o Anjo ter pena dela
Quando fala com o Anjo, ela usa um vocabulário de cariz religioso para:
-ele ter pena dela
-a deixar entrar na sua Barca
-a achar uma boa pessoa
Argumentos de Acusação:
-viveu uma má vida (prostituição)
Argumentos de defesa:
-diz que já sofreu muito
-que arranjou muitas “meninas” para elementos do clero
Caracterização de Brízida Vaz:
-chegando ao cais na barca do Inferno, recusa-se a entrar sem o Fidalgo, provavelmente eram conhecidos
-diz que não é a barca do Diabo que procura
-leva vários elementos cénicos relacionados com a sua profissão de alcoviteira
-está sempre confiante de q vai entrar na barca do Anjo
-defende-se dizendo q sofreu muito, com ninguém, que arranjou muitas “meninas” para elementos do clero e que está orgulhosa por ter arranjado “dono” para todas as suas “meninas”
-quando vai à barca do Anjo muda completamente a sua atitude, usando mais o vocabulário de cariz religioso e tentando seduzir o Anjo e fazer-se de boa pessoa
Desenlace:
-Inferno
Cena Do Judeu (Semah Fará)
Símbolos Cénicos:
-bode: representa a sua religião
Tipo:
-Judeu
Logo que chega ao cais o Judeu dirige-se p a barca do Inferno por que:
-sabe que não será aceite na barca do Anjo, já que em vida nunca foi aceito nos lugares dos Cristãos
-os Judeus eram muito mal vistos na época e nem poderia admitir a hipótese de entrar na barca do Anjo
Para entrar na Barca do Inferno ele usa:
-o dinheiro
Ele usa o dinheiro por que:
-era uma forma de mostrar q os Judeus tinham grande poder econômico, estavam ligados ao dinheiro
O Judeu não quer deixar o bode em terra por que:
-quer ser reconhecido com Judeu
-não recusa a sua religião
O Parvo acusa-o de:
-roubar a cabra
-ter cometido várias ofensas à religião cristã à profanar a igreja, comer carne no dia de jejum...
-ser Judeu
Em termos de contexto histórico essa acusação:
-revela que os Cristãos odiavam os Judeus
-acusavam-nos de enriquecer à custa de roubos de Natureza diversa
-acusavam-nos de ofender a religião católica, cometendo diversas profunações
Desenlace:
-fica no cais (porque  nega o quer)
Cena Do Corregedor e do Procurador
Símbolos Cénicos:
-Corregedor: vara e processos
-Procurador: livros jurídicos
Pertenciam:
-Corregedor: Juíz
-Procurador:Funcionário da Coroa
O Diabo cumprimenta o Corregedor com “Oh amador de perdiz” por que:
-era uma pessoa corrupta
-a perdiz era um símbolo de corrupção
A forma de como o Corregedor inicia diálogo com o Diabo aproxima-se da forma com o Fidalgo também o fez
O Corregedor usa muito o Latim por que:
-é uma língua muito usada em direito
O Diabo responde-lhe em Latim Macarrónico por que:
-era para ridicularizar a linguagem utilizada na justiça
-para mostrar que essa linguagem não servia de nada
-poderiam saber falar bem Latim mas não sabiam aplicar as leis
O Corregedor pergunta “Há’ qui meirinho do mar?” por que:
-ele estava habituado a ser servido
O Corregedor pergunta se o poder do barqueiro infernal é maior do que o do próprio Rei por que:
-ele na Terra tinha um grande poder
-não admitia que mandassem nele
Acusações do Procurador:
-não tem tempo de confessar
O Diabo acusa o Corregedor de:
-ter aceitado subornos (ser corrupto)
-ter aceitado subornos até de Judeus (muito mal vistos naquele tempo)
-confessou-se mas mentiu
Defesas:
-era a sua mulher que aceitava os subornos
Acho que o argumento usado de defesa do réu foi:
-errado
-o Diabo saberia de tudo
-ele não deveria estar a mentir
-não devia estar a acusar a sua mulher para depois também ela ser condenada
“Irês ao lago dos danados / e verês os escrivães / coma estão tão prosperados” quer dizer que:
-o Corregedor, quando for para o Inferno, vai encontrar os seus colegas (Homens ligados à justiça)
Gil Vicente julgou em simultâneo o Corregedor e o Procurador por que:
-ambos passavam informação
-ambos faziam parte da justiça
(havia cumplicidade entre a justiça e os assuntos do Rei, ambos eram corruptos)
A confissão para eles:
- não era importante: só se confessavam em situações de risco e não diziam a verdade
Quando  o Corregedor e o Procurador se aproximam do Anjo, ele:
-reage mal
-fica irritado
-manda-lhes uma praga: atitude nada normal do Anjo
O Parvo acusa-os de:
-roubar coelhos e perdizes
-profanar nos campanhas: levavam a religião de uma forma superficial
Desenlace:
-Inferno
No Inferno o Corregedor dialoga com Brízida Vaz por que:
-já se conheceriam da vida terrena
Cena Dos Quatro Cavaleiros
Símbolos Cénicos:
-hábito da ordem de Cristo
-espadas
Pertenciam:
-aos cruzados
Defesas:
-dizem q morreram a lutar contra os mouros em nome de Cristo
Quando chegam ao cais chegam a cantar. Essa cantiga mostra:
-aos mortais que esta vida é uma passagem e que terão de passar sempre naquele cais onde serão julgados
Os destinatários desta mensagem são:
-os mortais
-os Homens pecadores
Nessa cantiga está contida a moralidade da peça por que:
-fala da transitoriedade da vida
-fala da inavitabilidade do destino final
-fala do destino final que está de acordo com aquilo que foi feito na vida Terrena
Os cavaleiros não foram acusados pelo Diabo por que:
-merecem entrar na barca do Anjo
-morreram a lutar pela fé cristã, contra os infiéis, o que os livrou de todos os pecados
-esta cena revela a mentalidade medieval da apologia do espírito da cruzada
Maravilhosa leitura, e um bom trabalho, com carinho Prof Dr Master Reikiana Aldry Suzuki

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