domingo, 28 de outubro de 2012

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA – Lima Barreto/ Cantinho Brasileiro ALDRY SUZUKI


TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA –
Resumo -Lima Barreto
Cantinho Brasileiro - Terceiro Bimestre / Segundo Ano !!
O funcionário público Policarpo Quaresma, nacionalista e patriota extremado, é conhecido por todos como major Quaresma, no Arsenal de Guerra, onde exerce a função de subsecretário. Sem muitos amigos, vive isolado com sua irmã Dona Adelaide, mantendo os mesmos hábitos há trinta anos. Seu fanatismo patriótico se reflete nos autores nacionais de sua vasta biblioteca e no modo de ver o Brasil. Para ele, tudo do país é superior, chegando até mesmo a "amputar alguns quilômetros ao Nilo" apenas para destacar a grandiosidade do Amazonas. Por isso, em casa ou na repartição, é sempre incompreendido.



Esse patriotismo leva-o a valorizar o violão, instrumento marginalizado na época, visto como sinônimo de malandragem. Atribuindo-lhe valores nacionais, decide aprender a tocá-lo com o professor Ricardo Coração dos Outros. 

Em busca de modinhas do folclore brasileiro, para a festa do general Albernaz, seu vizinho, lê tudo sobre o assunto, descobrindo, com grande decepção, que um bom número de nossas tradições e canções vinha do estrangeiro. 

Sem desanimar, decide estudar algo tipicamente nacional: os costumes tupinambás. Alguns dias depois, o compadre, Vicente Coleoni, e a afilhada, Dona Olga, são recebidos no melhor estilo Tupinambá: com choros, berros e descabelamentos. Abandonando o violão, o major volta-se para o maracá e a inúbia, instrumentos indígenas tipicamente nacionais.


Ainda nessa esteira nacionalista, propõe, em documento enviado ao Congresso Nacional, a substituição do português pelo tupi-guarani, a verdadeira língua do Brasil. Por isso, torna-se objeto de ridicularizarão, escárnio e ironia. 

Um ofício em tupi, enviado ao Ministro da Guerra, por engano, levá-o à suspensão e como suas manias sugerem um claro desvio comportamental, é aposentado por invalidez, depois de passar alguns meses no hospício.


Após recuperar-se da insanidade, Quaresma deixa a casa de saúde e compra o Sossego, um sítio no interior do Rio de Janeiro; está decidido a trabalhar na terra. Com Adelaide e o preto Anastácio, muda-se para o campo.

 A idéia de tirar da fértil terra brasileira seu sustento e felicidade anima-o. Adquire vários instrumentos e livros sobre agricultura e logo aprende a manejar a enxada. Orgulhoso da terra brasileira que, de tão boa, dispensa adubos, recebe a visita de Ricardo Coração dos Outros e da afilhada Olga, que não vê todo o progresso no campo, alardeado pelo padrinho. Nota, sim, muita pobreza e desânimo naquela gente simples.


Depois de algum tempo, o projeto agrícola de Quaresma cai por terra, derrotado por três inimigos terríveis. Primeiro, o clientelismo hipócrita dos políticos. Como Policarpo não quis compactuar com uma fraude da política local, passa a ser multado indevidamente.O segundo, foi a deficiente estrutura agrária brasileira que lhe impede de vender uma boa safra, sem tomar prejuízo. 

O terceiro, foi a voracidade dos imbatíveis exércitos de saúvas, que, ferozmente, devoravam sua lavoura e reservas de milho e feijão. Desanimado, estende sua dor à pobre população rural, lamentando o abandono de terras improdutivas e a falta de solidariedade do governo, protetor dos grandes latifundiários do café. Para ele, era necessária uma nova administração.


A Revolta da Armada - insurreição dos marinheiros da esquadra contra o continuísmo florianista - faz com que Quaresma abandone a batalha campestre e, como bom patriota, siga para o Rio de Janeiro. Alistando-se na frente de combate em defesa do Marechal Floriano, torna-se comandante de um destacamento, onde estuda artilharia, balística, mecânica.


Durante a visita de Floriano Peixoto ao quartel, que já o conhecia do arsenal, Policarpo fica sabendo que o marechal havia lido seu "projeto agrícola" para a nação. Diante do entusiasmo e observações oníricas do comandante, o Presidente simplesmente responde: "Você Quaresma é um visionário".


Após quatro meses de revolta, a Armada ainda resiste bravamente. Diante da indiferença de Floriano para com seu "projeto", Quaresma questiona-se se vale a pena deixar o sossego de casa e se arriscar, ou até morrer nas trincheiras por esse homem. 

Mas continua lutando e acaba ferido. Enquanto isso, sozinha, a irmã Adelaide pouco pode fazer pelo sítio do Sossego, que já demonstra sinais de completo abandono. Em uma carta à Adelaide, descreve-lhe as batalhas e fala de seu ferimento. Contudo, Quaresma se restabelece e, ao fim da revolta, que dura sete meses, é designado carcereiro da Ilha das Enxadas, prisão dos marinheiros insurgentes.


Uma madrugada é visitado por um emissário do governo que, aleatoriamente, escolhe doze prisioneiros que são levados pela escolta para fuzilamento. 

Indignado, escreve a Floriano, denunciando esse tipo de atrocidade cometida pelo governo. 

Acaba sendo preso como traidor e conduzido à Ilha das Cobras. Apesar de tanto empenho e fidelidade, Quaresma é condenado à morte. 

Preocupado com sua situação, Ricardo busca auxílio nas repartições e com amigos do próprio Quaresma, que nada fazem, pois temem por seus empregos. 

Mesmo contrariando a vontade e ambição do marido, sua afilhada, Olga, tenta ajudá-lo, buscando o apoio de Floriano, mas nada consegue. 

A morte será o triste fim de Policarpo Quaresma.



Policarpo Quaresma



A história de Policarpo Quaresma, como personagem central da obra, é a história de um erro. 

E este erro é, fundamentalmente, a incapacidade do protagonista em detectar as estruturas de poder. 

Na verdade, ele percebe as consequências destas estruturas mas não chega a descobrir como as mesmas funcionam. 

Seu nacionalismo, seu desejo de transformar a agricultura e seu projeto de reorganizar o próprio país partem de uma adequada análise da realidade mas não levam em conta os mecanismos geradores desta realidade.

Assim, Quaresma aparece como frágil e solitário porque sua confiança nas instituições políticas não é mais do que um equívoco, pois se baseia no falso pressuposto de que os homens que as representam possuam um idealismo que vá além de seus próprios interesses imediatistas. 

Floriano, encarnando o próprio poder, o define com frieza e completa propriedade: 'Você, Quaresma, é um visionário...' Um visionário não porque seja louco ou porque seus projetos sejam absurdos em si, mas porque o são por não se adequarem e até serem contrários aos interesses dos grupos que detêm o poder.

Ao final, como ao longo de toda a obra, Quaresma, mais uma vez, percebe, os fatos com realismo mas não entende por que sua aventura termina em tragédia. 

Este conflito é a própria essência do personagem. 

Se ele entendesse as leis que regem o mundo permaneceria à margem dos acontecimentos - como o imigrante Coleoni - ou a eles se amoldaria, deles se aproveitando. 

Mas neste caso não seria Policarpo Quaresma nem personagem de Lima Barreto. 

Pertenceria antes à galeria do discretos canalhas que povoam a ficção de Machado de Assis, por exemplo.

Ricardo Coração dos Outros



Ricardo Coração dos Outros, o trovador suburbano, é, no conjunto da obra, um personagem complexo, possuindo uma importância somente inferior à de Policarpo Quaresma e podendo ser analisado a partir de, pelo menos, três pontos de vista bastante distintos, se bem que não exclusivamente entre si.

Como personificação do artista nacional na visão de Policarpo Quaresma, Ricardo Coração dos Outros representa a cultura popular, isto é, as formas de expressão dos grupos sociais inferiores, já que os grupos dirigentes, por definição e sempre na visão de Policarpo Quaresma, possuem formas de expressão artísticas alienígenas, não nacionais. 


Como tal, desconsiderada momentaneamente a idealização de que é objeto por parte do nacionalismo do protagonista, ele pode ser considerado como símbolo da rígida estratificação cultural - produto da estratificação econômica e social - da sociedade brasileira.


Por outro lado, em termos estritamente sociais, Ricardo Coração dos Outros tipifica amplos segmentos da sociedade carioca da época: os moradores dos subúrbios, segundo diz o narrador/comentarista, também divididos, por sua vez, em estratos. 


No contexto desta sociedade, o trovador suburbano utiliza sua habilidade de músico como instrumento de ascensão social, deixando claros tanto sua pretensão de alcançar com sua arte também os bairros ricos quanto um mal disfarçado racismo.


Finalmente, Ricardo Coração dos Outros pode ser tomado ainda como protótipo do artista, mergulhado em seu trabalho criador, afastado das contingências mundanas e das preocupações práticas e dedicado a ser o coração dos outros, isto é, o porta-voz dos sentimentos e emoções dos demais.


Olga


Na ficção brasileira Olga surge como primeiro personagem feminino a dissecar logicamente e a verbalizar claramente sua posição no mundo a partir de uma perspectiva crítica coerente. 

Esta análise não chega a adquirir grande profundidade mas é suficientemente ampla para englobar tanto sua função social especifica como mulher quanto a própria realidade política.

No primeiro caso, rebela-se contra o oportunismo do marido, preocupado exclusivamente com sua própria carreira. 

No segundo, a partir da crise desencadeada pelo trágico destino do padrinho, revolta-se contra as instituições, que determinam o caminho dos indivíduos dentro delas. 

E é somente ao juntar os dois planos, o pessoal e o social, que Olga, abandonando o conformismo a que se entregara por entender que não havia alternativas para ela, manifesta corajosamente sua rebeldia. 

Contudo, também realista como o marido, apenas que com interesses diversos, não tira todas as consequências de sua atitude e entrega ao processo histórico-social o papel de desencadeador das necessárias e inevitáveis mudanças. 

Na verdade, apesar de pertencer a uma geração de mulheres que começam a não aceitar mais um papel submisso e secundário - como o de Maricota, a esposa de Albernaz, ou de Adelaide - é preciso acentuar que Olga, como filha de um abastado imigrante, tem todas as condições econômicas e sociais para comandar seu próprio destino e de fugir ao trágico final de Ismênia.



Floriano


Apesar de aparecer apenas incidentalmente, o personagem do marechal e presidente Floriano Peixoto adquire importância não apenas por ser transportado do mundo real da história para a ficção mas principalmente por representar o poder. 

Alvo de violentas críticas nas intervenções do autor/narrador, que nestas ocasiões o identifica como o próprio Floriano do mundo real da história e não como personagem de ficção, o marechal é visto como um feroz tiranete doméstico, intelectualmente limitado e politicamente despreparado.

Esta imagem, contudo, contradiz sua ação como personagem de ficção em si, pois nesta condição mostra compreender muito bem o poder que possui, os atos que pratica e o papel que desempenha. 

Afinal, é ele que, ao tomar conhecimento dos projetos do major, o define com uma precisão inapelável: 'Você, Quaresma, é um visionário...' Da mesma forma que é ele que o condena, segundo a fria e brutal lógica do poder, de acordo com a qual não havia outra saída. 

Porque, de fato, Quaresma nada entendera.

3. Estrutura narrativa

Composto de três partes, cada uma dividida em cinco capítulos, Triste fim de Policarpo Quaresma narra a história do Major quaresma, um nacionalista bem intencionado mas ingênuo que pretende reformar o país, principalmente o setor agrícola. 

Ao longo da narração, organizada segundo o esquema de um narrador onisciente em terceira pessoa, este às vezes assume a posição de autor/comentarista, apontando e selecionando ideias e fato relevantes, principalmente quando se trata de fornecer elementos que possibilitem ema análise política do período histórico no contexto do qual se desenrola a história do protagonista. 

A ação tem por palco o Rio de Janeiro e suas imediações nos anos imediatamente seguintes à proclamação da República, mais especificamente durante o governo do mal. 

Floriano Peixoto, que aparece na obra como personagem.


Bom estudo meus lindos , com carinho Prof Dr Master Reikiana
Aldry Suzuki bjs


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