DOM CASMURRO
MACHADO DE ASSIS
O
tema central de Dom Casmurro é o ciúme e a tragédia conjugal de Bentinho. A começar
pela citação dos imperadores César, Augusto, Nero e Massinissa, que mataram
suas esposas acusadas de adultério, até a citação do mouro Otelo que matou sua
mulher pelo mesmo motivo. Seu primeiro traço de ciúmes surge no cap. LXII
quando pergunta a José Dias, agregado da casa de sua mãe, quando este vai
visitá-lo no seminário, "Capitu como vai?", ao que o outro responde:
"Tem andado alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo enquanto não pegar
um peralta da vizinhança que se case com ela…"Para Bentinho a resposta foi
um baque, já que escreve: "A minha memória ouve ainda agora as pancadas do
coração naquele instante".
De acordo com Roberto Schwarz, em Dom Casmurro
"a instância mais dramática está no ciúme, que havia sido um entre os
vários destemperos imaginativos do menino, e agora, associado à autoridade do
proprietário e marido, se torna uma força de devastação."
Contudo, aqui há uma inovação no tema do ciúme presente em outras literaturas: em Dom Casmurro ele é apresentado do ponto de vista de um marido que se suspeita traído, sem dar margem à versão das outras personagens.
Contudo, aqui há uma inovação no tema do ciúme presente em outras literaturas: em Dom Casmurro ele é apresentado do ponto de vista de um marido que se suspeita traído, sem dar margem à versão das outras personagens.
O
Rio de Janeiro em 1889.
Outro
tema bastante explícito do livro refere-se à sua ambientação: Rio de Janeiro do
Segundo Império, na casa de um homem da elite.
Críticos escrevem que até a época de sua publicação foi o livro que "fez a exploração psicológica mais intensa do caráter da sociedade do Rio de Janeiro".
Críticos escrevem que até a época de sua publicação foi o livro que "fez a exploração psicológica mais intensa do caráter da sociedade do Rio de Janeiro".
Bento
é proprietário, cursou faculdade e tornou-se advogado, e representa uma classe
diferente da de Capitu que, embora seja inteligente, veio de família mais
pobre.
O
narrador permeia o livro de citações francesas e inglesas, hábito comum entre os
aristocratas do século XIX.
O contraste entre as duas personagens deu
margem à interpretações de que Bentinho destruísse a figura de sua mulher por
ele ser da elite e ela pobre (ver Interpretações).
Em Dom Casmurro, o homem é o resultado de sua própria dualidade e incoerente em si mesmo, enquanto a mulher é dissimulada e encantadora.
Assim, é um livro que representa a política, ideologia e religião do Segundo Reinado.
Em Dom Casmurro, o homem é o resultado de sua própria dualidade e incoerente em si mesmo, enquanto a mulher é dissimulada e encantadora.
Assim, é um livro que representa a política, ideologia e religião do Segundo Reinado.
Típica
cena familiar carioca dos tempos de Dom Casmurro, em 1891 (Cena de Família de
Adolpho Augusto Pinto; artista: Almeida Júnior)
Segundo
Eduardo de Assis Duarte, "o universo da elite branca e senhorial é o
cenário por onde o narrador-personagem destila seu rancor e desconfiança quanto
ao suposto adultério."
Schwarz escreve que o romance apresenta as relações sociais e o comportamento da elite brasileira da época: de um lado, progressista e liberal, de outro, patriarcal e autoritária.
Schwarz escreve que o romance apresenta as relações sociais e o comportamento da elite brasileira da época: de um lado, progressista e liberal, de outro, patriarcal e autoritária.
Outro ponto estudado é que Dom Casmurro é
quase incomunicável com Capitu — daí o fato de somente os gestos e os olhares
(e não palavras) da moça lhe indicarem o possível adultério.
Bento
é um homem calado e metido consigo mesmo. Um de seus amigos um dia lhe enviou
uma carta escrevendo: "Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma
da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns
quinze dias comigo.
"Este isolamento, que se torna um motivo para ele "atar as duas pontas da vida", é também um dos temas do romance.
"Este isolamento, que se torna um motivo para ele "atar as duas pontas da vida", é também um dos temas do romance.
O
crítico Barreto Filho, por exemplo, notava ser "o espírito trágico que
enformaria a obra inteira de Machado, guiando os destinos para a loucura, o
absurdo e, no melhor dos casos, a velhice solitária."
Um
dos problemas centrais de toda obra machadiana, e também presente neste livro,
é a questão "Em que medida eu só existo por meio dos outros?", uma
vez que Bento Santiago se torna Dom Casmurro influenciado pelos acontecimentos
dos fatos e pelas ações das pessoas que lhe são próximas.
Eugênio Gomes observou que o tema da
semelhança física do filho resultante da "impregnação" da mãe pelos
traços de um homem amado, sem que este gerasse aquele (como acontece entre
Capitu, seu filho Ezequiel e o provável pai Escobar), era um tema em foco na
época de Dom Casmurro .
Antonio
Candido também escreveu que uma das principais temáticas de Dom Casmurro é a tomada
do fato imaginado como real, um elemento também presente nos contos machadianos.
Assim,
o narrador, através de si mesmo, contaria os fatos através de uma determinada
loucura que o faria tomar por realidade suas fantasias, expressas em exageros e
enganos.
Brevemente,
pode-se dizer que a crítica de Dom Casmurro é relativamente recente.
Recebeu aval dos contemporâneos de Machado (ver seção Recepção) e as críticas posteriores à sua morte trataram de analisar o personagem Bento e sua situação psicológica.
Dom Casmurro também foi aproveitada por estudos da sexualidade e da psique humana, e do existencialismo assim que comumente nos tempos recentes atribuiu-se à obra machadiana uma abertura de interpretações.
Recebeu aval dos contemporâneos de Machado (ver seção Recepção) e as críticas posteriores à sua morte trataram de analisar o personagem Bento e sua situação psicológica.
Dom Casmurro também foi aproveitada por estudos da sexualidade e da psique humana, e do existencialismo assim que comumente nos tempos recentes atribuiu-se à obra machadiana uma abertura de interpretações.
No
entanto, o primeiro tratado que revigorou o papel do romance, escrito por Helen
Caldwell na década de 1960, não desfrutou de impactos no Brasil.
Só recentemente, através de Silviano Santiago, em 1969, e principalmente Roberto Schwarz em 1991, o livro de Caldwell foi descoberto e abriu novas propostas para a obra machadiana.
Esta também foi a década que Machado de Assis teve maior relevância crítica na França e o romance recebeu comentários importantes através de tradutores franceses; o livro escrito por Dom Casmurro interessou principalmente as revistas literárias de psicologia e de psiquiatria, que também recomendavam a leitura de L'Aliéniste, "O Alienista", a seus leitores.
Só recentemente, através de Silviano Santiago, em 1969, e principalmente Roberto Schwarz em 1991, o livro de Caldwell foi descoberto e abriu novas propostas para a obra machadiana.
Esta também foi a década que Machado de Assis teve maior relevância crítica na França e o romance recebeu comentários importantes através de tradutores franceses; o livro escrito por Dom Casmurro interessou principalmente as revistas literárias de psicologia e de psiquiatria, que também recomendavam a leitura de L'Aliéniste, "O Alienista", a seus leitores.
A
crítica moderna, muito influenciada pelo histórico de interpretações do
romance, que examinaremos a seguir, identifica nos dias de hoje três leituras
sucessivas de Dom Casmurro, a saber:
1. Romanesca, é a história da formação e
decomposição de um amor, do idílio da adolescência, passando pelo casamento,
até a morte da companheira e do filho duvidoso.
2. Próxima do romance psicanalítico e
policial, é o libelo acusatório do marido-advogado à cata de prenúncios e
evidências do adultério, tido por ele como indubitável.
3.
Deve ser realizada à contracorrente, pela inversão do rumo da desconfiança,
transformando em réu o próprio narrador, em acusado o acusador.
O
histórico das interpretações que se vai ler na próxima seção, destacando a
crítica da década de 1930 e 40 até a década de 1980, mostra a reviravolta que
se tem feito nas diversas interpretações de Dom Casmurro, sustentada não
somente por críticos brasileiros, mas também, e consideravelmente, internacionais.
A maioria das interpretações do romance são influenciadas pela sociologia, feminismo e psicanálise, e a maioria também se refere ao tema do ciúme do narrador, Dom Casmurro; algumas argumentando que não existiu adultério e outras que o autor deixou a questão em aberto para o leitor.
A maioria das interpretações do romance são influenciadas pela sociologia, feminismo e psicanálise, e a maioria também se refere ao tema do ciúme do narrador, Dom Casmurro; algumas argumentando que não existiu adultério e outras que o autor deixou a questão em aberto para o leitor.
Interpretações
Entre
os temas interpretados ao longo dos anos pelos críticos e ensaístas estão o
possível adultério de Capitu, uma análise sócio-psicológica das personagens e o
caráter do narrador-personagem. Os críticos da década de 1930 e 40 escreviam
que Bento Santiago sofria de distimia e relacionaram sua personalidade calada e
solitária com o próprio autor, que deveria sofrer epilepsia.
Seu amigo Escobar deveria sofrer de transtorno
obsessivo-compulsivo e de tiques motores, com possível controle sobre eles.
Essas considerações desempenharam certo
psicologismo em relação à Dom Casmurro e Machado de Assis. A crítica moderna
encara essa interpretação como fruto do psicologismo daquela época, que
exagerava seus sofrimentos e que não dava importância à sua subida de carreira
(como jornalista e trabalhador público).
Psiquiatras como José Leme Lopes notaram as
inibições de desenvolvimento de Bentinho e seu "atraso no desenvolvimento
afetivo e neurose". O Bentinho que Dom Casmurro evoca teria
"sexualidade tardia" e "predomínio da fantasia sobre a
realidade, com angústia."
Para
a interpretação psiquiátrica esse seria um dos motivos de seu ciúme doentio. A
crítica psicanalista considera que Bento "nasceu destituído de poder ter
seus próprios desejos".
O personagem teria nascido para "preencher o lugar de um irmão natimorto", ao que a psicanalista Arminda Aberasture escreve que "sempre chamava a atenção para as dificuldades que terão em seus desenvolvimento psicológico os filhos que vêm predestinados, vêm em lugar de outro."
Dom Casmurro foi um menino que serviu a todos os desejos de sua mãe: entrou em seminário, foi padre, e assim alguns o vêem como um homem inseguro e mimado. Bentinho é encarado como um típico homem brasileiro do século XIX da alta sociedade carioca, sem perspectivas históricas (daí o desejo de escrever História dos Surbúrbios mas depois optar por primeiro relatar as memórias de sua juventude), pessimista e esquivo.
Outros, como Millôr Fernandes, também acreditam que Bentinho tinha tendência à homossexualidade e que apresentava certa afeição amorosa e carinhosa por Escobar.
O personagem teria nascido para "preencher o lugar de um irmão natimorto", ao que a psicanalista Arminda Aberasture escreve que "sempre chamava a atenção para as dificuldades que terão em seus desenvolvimento psicológico os filhos que vêm predestinados, vêm em lugar de outro."
Dom Casmurro foi um menino que serviu a todos os desejos de sua mãe: entrou em seminário, foi padre, e assim alguns o vêem como um homem inseguro e mimado. Bentinho é encarado como um típico homem brasileiro do século XIX da alta sociedade carioca, sem perspectivas históricas (daí o desejo de escrever História dos Surbúrbios mas depois optar por primeiro relatar as memórias de sua juventude), pessimista e esquivo.
Outros, como Millôr Fernandes, também acreditam que Bentinho tinha tendência à homossexualidade e que apresentava certa afeição amorosa e carinhosa por Escobar.
Ao
longo dos anos, Dom Casmurro era visto sob duas óticas principais: uma, a mais
antiga, a de confiar nas palavras escritas por Bento Santiago, sem maiores
questionamentos a respeito (José Veríssimo, Lúcia Miguel Pereira, Afrânio
Coutinho, Erico Verissimo e principalmente os contemporâneos de Machado fazem
parte desse grupo); e outra, mais recente, a de que Machado de Assis deixa ao
leitor a tarefa de tomar suas próprias conclusões sobre os personagens e o
enredo, sendo essa uma das características mais frequentes de sua literatura.
Os argumentadores dessa posição muitas vezes abstem-se das questões do romance
e encaram Dom Casmurro como uma obra aberta.
"A
conclusão à qual Santiago gradualmente leva o leitor é que a traição perpetrada
por sua adorável esposa e seu adorável amigo age sobre ele, transformando o
gentil, amável e ingênuo Bentinho no duro, cruel e cínico Dom Casmurro."
—Helen
Caldwell
A
crítica interpretativa dirigida negativamente ao narrador e à salvação de
Capitu, argumentando que ela não o traiu, só se deu recentemente, a partir do
movimento feminista da década de 1970 pela ensaísta norte-americana Helen Caldwell.
Em seu The Brazilian Othello of Machado de Assis (1970), argui que a personagem
Capitu não traiu Bentinho, mudando até então a visão que se tinha do romance, e
que ela é vítima de um cínico Dom Casmurro que na verdade induz o leitor em
suas palavras que não condizem com a verdade.
A principal prova que Caldwell apresenta é a
intertextualidade nítida e frequente que o autor faz do Otelo de Shakespeare,
cujo protagonista mata a esposa pensando erroneamente que ela o traiu. A autora
escreve sua tese sob a perspectiva principal de que o narrador machadiano é
autônomo o suficiente para dar sua própria e única versão dos fatos.
Para a crítica, Bentinho não o faz de
propósito, mas por loucura, já que ele é, segundo as palavras dela, o
"Iago de si mesmo".
Caldwell também revalidou o papel de Capitu,
que deveria ser mais bonita e ter melhores sonhos que seu esposo.
Outros críticos estrangeiros, como John
Gledson, a partir da década de 1980 levantaram a hipótese de interesses sociais
relacionados à organização e à crise da ordem patriarcal durante o Segundo
Reinado. Para o universo carrança, bolorento e recalcado de Dona Glória, com
seus viúvos, agregados e escravos, a energia e a liberdade de opinião da
mocinha moderna e pobre, atrevida e irreverente, lúcida e atuante, tornaria-se
intoleráveis.
Uma das provas do argumento de Gledson
encontra-se no Capítulo 3, que ele considera ser a "base do romance",
na motivação de José Dias ao falar da família de Capitu e lembrar a D. Glória a
promessa que ela fez de botar Bentinho no Seminário, ou seja, tratando a
"gente do Pádua" como inferior e sua filha como uma menina
dissimulada e pobre que pode corromper o garoto.
Assim,
os ciúmes de Bentinho, menino rico, de família decadente, do bacharel típico do
Segundo Reinado, condensariam uma problemática social ampla, por trás daquele
"novo Otelo que difama e destrói a amada."
Essa interpretação sociológica ainda se
conserva nos dias de hoje, como lemos nas palavras do ensaísta português Helder
Macedo que afirmou, em relação ao tema do ciúme: "Na destruição de Capitu,
na neutralização do desafio ao modo de ser alternativo que ela representa,
reside o propósito fundamental da restauração procurada por Bento Santiago
através da escrita do seu memorial. [...] Ela era uma estranha, uma intrusa,
uma ameaça ao status quo, um indesejável traço de união com uma classe social
mais baixa, representando assim também, implicitamente, a emergência potencial
de uma nova ordem política que ameaçasse o poder estabelecido.
[...] Classe e sexo são assim fundidos na mesma ameaça representada pela moralidade supostamente dúbia de Capitu".
[...] Classe e sexo são assim fundidos na mesma ameaça representada pela moralidade supostamente dúbia de Capitu".
Sob tal perspectiva, o narrador, ferramenta
esteriotipada usada pelo autor para criticar determinada classe social de sua
época, é capaz de utilizar os preconceitos do brasileiro para induzi-lo em
sua argumentação contra Capitu.
Entre
estes preconceitos temos a semelhança física e os trejeitos que um filho herda
do pai verdadeiro, pré-concepção que seria comum à cultura brasileira, e que
Bento utiliza ao falar como Ezequiel era a cara de Escobar.
Visando
o enjoo que o debate crítico da temática do ciúme desencadeou a partir de
então, autores como, por exemplo, José Aderaldo Castello, afirmavam que Dom
Casmurro não é o romance do ciúme, mas da dúvida: "é por excelência o
romance que exprime o conflito atroz e insolúvel entre a verdade subjetiva e as
insunuações de alto poder de infiltração, geradas por coincidências, aparências
e equívocos, imediata ou tardiamente alimentados por intuições." Não se
desconsidera, portanto, as já citadas hipótese de que Bento Santiago esteja
realmente falando a verdade e Capitu o traiu e a de que Machado quis deixar a
verdade nas mãos do leitor.
A escritora Lygia Fagundes Telles, que estudou o romance para escrever o roteiro do filme Capitu (1968), como leitora que chegou a condenar Capitu e depois a condenar Bentinho, disse numa entrevista recente, concluindo: "Eu já não sei mais.
Minha última versão é essa, não sei. Acho que enfim suspendi o juízo.
No começo, ela era uma santa; na segunda, um monstro.
Agora, na velhice, eu não sei. Acho Dom Casmurro mais importante que Madame Bovary.
Nele há a dúvida, enquanto a Bovary tem escrito na testa que é adúltera."
A escritora Lygia Fagundes Telles, que estudou o romance para escrever o roteiro do filme Capitu (1968), como leitora que chegou a condenar Capitu e depois a condenar Bentinho, disse numa entrevista recente, concluindo: "Eu já não sei mais.
Minha última versão é essa, não sei. Acho que enfim suspendi o juízo.
No começo, ela era uma santa; na segunda, um monstro.
Agora, na velhice, eu não sei. Acho Dom Casmurro mais importante que Madame Bovary.
Nele há a dúvida, enquanto a Bovary tem escrito na testa que é adúltera."
Recepção
À
época de sua publicação, Dom Casmurro foi elogiado pelos amigos próximos do
autor.
Medeiros e Albuquerque, por exemplo, dizia ser este "o nosso Otelo".
Medeiros e Albuquerque, por exemplo, dizia ser este "o nosso Otelo".
Seu amigo Graça Aranha comentou sobre Capitu:
"casada, teve por amante o maior amigo do marido."
Sua primeira recepção parece ter acreditado
nas palavras do narrador e relacionou o livro com O Primo Basílio (1878) de Eça
de Queiroz e com Madame Bovary de Flaubert, isto é, romances de adultério.
José
Veríssimo, por sua vez, escreveu que "Dom Casmurro trata de um homem
inteligente, sem dúvida, mas simples, que desde rapazinho se deixa iludir pela
moça que ainda menina amara, que o enfeitiçara com a sua faceirice calculada,
com a sua profunda ciência congênita de dissimulação, a quem ele se dera com
todo ardor compatível com o seu temperamento pacato.
" Veríssimo também fez uma analogia entre Dom Casmurro e o narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas: "Dom Casmurro é o irmão gêmeo, posto que com grandes diferenças de feições, se não de índole, de Brás Cubas."
" Veríssimo também fez uma analogia entre Dom Casmurro e o narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas: "Dom Casmurro é o irmão gêmeo, posto que com grandes diferenças de feições, se não de índole, de Brás Cubas."
Machado
de Assis, c. 1896.
Silvio
Romero já há tempo não aceitava o rompimento de Machado com a linearidade
narrativa e com a natureza do enredo tradicional e depreciava sua prosa.
Como se sabe, no entanto, a Livraria Garnier publicava os volumes de Machado tanto no Brasil como em Paris e, com este novo livro, a crítica internacional já passava a colocar em dúvida se Eça de Queiroz ainda seria o melhor romancista da língua portuguesa.
Artur de Azevedo elogiou a obra duas vezes e numa delas escreveu: "Dom Casmurro é um desses livros impossíveis de resumir, porque é na vida interior de Bento Santiago que reside todo o seu encanto, toda a sua força", e concluiu que "O que é tudo, porém, neste livro sombrio e triste, onde há páginas escritas com lágrimas e sangue, é a fina psicologia das duas figuras capitais e o nobre e soberbo estilo da narrativa."
Como se sabe, no entanto, a Livraria Garnier publicava os volumes de Machado tanto no Brasil como em Paris e, com este novo livro, a crítica internacional já passava a colocar em dúvida se Eça de Queiroz ainda seria o melhor romancista da língua portuguesa.
Artur de Azevedo elogiou a obra duas vezes e numa delas escreveu: "Dom Casmurro é um desses livros impossíveis de resumir, porque é na vida interior de Bento Santiago que reside todo o seu encanto, toda a sua força", e concluiu que "O que é tudo, porém, neste livro sombrio e triste, onde há páginas escritas com lágrimas e sangue, é a fina psicologia das duas figuras capitais e o nobre e soberbo estilo da narrativa."
Machado
de Assis comunicou-se em cartas com amigos e recebia outras, satisfeito com os
comentários que eram publicados a respeito de seu livro.
Dom Casmurro continuou recebendo inúmeras
outras críticas e interpretações com o tempo (ver Interpretações) e nos dias
atuais é visto como uma das maiores contribuições ao romance impressionista e é
tratado por alguns como sendo um dos maiores expoentes do realismo brasileiro.
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