sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O ANEL DE POLÍCRATES E OUTRAS HISTÓRIAS - ALDRY SUZUKI





O ANEL DE POLÍCRATES E OUTRAS HISTÓRIAS
Heródoto, Machado de Assis, Cícero, Esopo, Fedro, La Fonteine, Juó Bananere, Voltaire, Nelson Ascher, Guy de Maupassant, Oscar wilde.
"O Anel de Polícrates e outras histórias”. Sua introdução é bem didática (e curtinha) e explica a seleção das histórias e suas categorias. 

Nas histórias exemplares temos Heródoto e Cícero. Esopo, Fedro, La Fonteine, Juó Bananere e Nelson Ascher estão na seção das histórias morais. 

O livro traz ainda Voltaire, como exemplo de história filosófica e Guy de Maupassant em Sinopse - O Anel de Polícrates e Outras Histórias
 As histórias selecionadas foram divididas em cinco grupos. 

As primeiras, histórias exemplares, são as que, contando casos singulares, acontecimentos únicos, procuram com eles representar situações típicas ou exemplificar fenômenos gerais. 

Assim, "O Anel de Polícrates", além de relatar um evento particular, constitui um caso exemplar do que seriam as limitações da felicidade humana ou a lógica caprichosa do destino. 

Os relatos de Cícero são exemplos de situações diversas: desapego em relação aos bens materiais e ironia diante das pequenas mentiras da vida cotidiana. Estória anedótica.
 HERÓDOTO:
Este conto relata um evento particular, mas, além, disso, constitui um caso exemplar do que seriam as limitações da felicidade humana ou a lógica caprichosa do destino.
Os relatos de Cícero são exemplos de situações diversas: desapego em relação aos bens materiais e ironia diante das pequenas mentiras da vida cotidiana.
Nesse conto, o autor apropria-se habilmente do mito e a partir do mito elabora um texto que exprime elementos da sua - nossa - própria cultura, oferecendo um novo significado (uma re-significação). Em gera, isso ocorre a serviço da crítica à sociedade de classes.
Polícrates, cujo próprio nome significa “o que tem muitos poderes”, foi um governante extremamente rígido, cruel. Astuto, fortaleceu seu reinado por meio de uma série de alianças. Comandou frotas e ergueu grandes obras, entre elas um aqueduto conhecido em toda a Grécia e um dos mais famosos templos de Hera.
Na vida do tirano nada fracassava. Isso atraiu a atenção de um de seus aliados, Amásis, faraó do Egito. Desconfiado do excesso de sorte, alertou o amigo de que tanta alegria poderia causar inveja aos moradores do Olimpo. 

Para aplacar qualquer possibilidade de retaliação, palpitou, o rei de Samos devia fazer um sacrifício e ofertar aos deuses o bem que mais apreciava.
Polícrates assim fez, lançou seu anel ao mar. No entanto, decorridos alguns dias, a jóia reapareceu diante do soberano durante um banquete. 

Tinha sido engolida por um peixe que, trazido à cozinha real pelos pescadores de Samos, transformou-se na iguaria servida ao rei.
Sentindo-se feliz, imediatamente correu ao faraó para contar-lhe o ocorrido. 

Amásis, porém, interpretou o retorno do anel como um sinal maligno. Desfez imediatamente seu trato com o soberano grego. 

Nenhum homem pode contar com sorte incondicional, muito menos gabar-se dela, pois não é dado aos humanos uma vida sem desespero.
Ao que tudo indica, Amásis estava certo. 

Tempos depois, Polícrates morreu assassinado de forma cruel. 

Foi traído e empalado[ver abaixo a definição de empalamento). Nem seu corpo inerte teve descanso, vítima de crucificação.


Empalamento: Trata-se de uma técnica de tortura ou execução antiga que consistia em espetar uma estaca através do ânus até a boca do condenado, até levá-lo à morte, deixando um carvão em brasa na ponta para mesmo que chegue até a boca do condenado não morresse até algumas horas depois de hemorragia. 

Usava-se também cravar a estaca pelo abdômen (umbigo).


MACHADO DE ASSIS:


A Lá vai o Xavier.

-Conhece o Xavier?

Há que anos! Era um nababo, rico, podre de rico, mas pródigo...

 Que rico? que pródigo?

Rico e pródigo, digo-lhe eu. 

Bebia pérolas diluídas em néctar. Comia línguas de rouxinol. 

Nunca usou papel mataborrão, por achá-lo vulgar e mercantil; empregava areia nas cartas, mas uma certa areia feita de pó de diamante.

 E mulheres! Nem toda a pompa de Salomão  pode dar ideia do que era o Xavier.


Dois amigos conversavam quando, ao alcance da vista, pareceram-lhe ver Xavier. 

Este que de acordo com um dos amigos, mais antigo, fora homem de muita letra e riqueza, para o outro que o conhecia a quinze anos nada sabia desta particularidade.
            Tudo tinha e tudo perdera.
            Contava o amigo mais próximo que estando um dia à frente da janela, Xavier viu um homem montado a cavalo. O animal hesitou por um instante, e quase derrubou o taful. Este equilibrou-se e ao usar as esporas com firmeza, em dez minutos retornava o cavalo à mansidão. Foi quando Xavier cunhou a seguinte frase, comparando a vida a um cavalo xucro ou manhoso: “ Quem não for cavaleiro, que o pareça ”. Sentiu-se como um resgate dos tempos de fartura, e flexionou a idéia para si das diversas formas que a sintaxe permitia.
        O amigo continuou falando que Xavier havia-lhe contado a estória do anel de Polícrates: Um rei muito feliz, governava a ilha de Samos, e por tanta felicidade começou a temer alguma reviravolta da sorte, e para acalmar tal sentimento, resolveu fazer um sacrifício, jogar ao mar um anel precioso, que lhe servia de sinete. Porém qual não era sua fortuna: O anel jogado ao mar, por um peixe comido, e pescado, acabando por parar na cozinha do rei, indo diretamente para o prato do soberano, que teve de volta assim seu anel.
        Xavier resolveu reconstituir a idéia de Polícrates, e o anel seria sua frase, que lhe pareceu genial. Lançaria às águas da sociedade, e esperaria seu retorno, se assim o fosse.
        Depois de um introdução acalorada contou a um amigo, sensibilizado então, a sua frase.
        Três semanas depois ao ler o jornal, viu um hibridismo de seu pensamento verbalizado, e pensou: “ Meu pobre anel, eis-te enfim no peixe de Polícrates ”. Mas foi apenas deixar o jornal de lado, esquecera a frase.
        Foi convidado a uma recepção para festejar um título nobiliário. Uma pessoa comparou o recém barão a um cavaleiro emérito, o que pareceu estranho já que o Barão não montava a  cavalo.
        O autor do louvor explicava que a vida não é mais do que um cavalo xucro ou manhoso, sobre o qual ou se há de ser cavaleiro ou parecê-lo, e o barão era-o excelente. Pensou Xavier: “ Entra, meu querido anel, entra no dedo de Polícrates ”. Porém, novamente a idéia não se estabeleceu no espírito de Xavier, não era a mesma.
Depois vários episódios parecidos.
        Um outro dia Xavier leu no jornal: “ O ministério parece ignorar que a política é, como a vida, um cavalo xucro ou manhoso, e, não podendo ser bom cavaleiro, porque nunca o foi, deveria ao menos parecer que o é ”.
        Pensou Xavier que a ideia já não poderia mais fugir-lhe, mas ainda assim o fez. Atônito, desesperado ficou andando até a noite cair. Entrou em um teatro, e o coração acalmou-se. Qual foi a sua surpresa que no segundo ato, cena VIII, estremecendo ouviu: “ D. Eugênia, diz o galã a uma senhora, o cavalo pode ser comparado à vida, que é também um cavalo xucro ou manhoso; quem não for bom cavaleiro, deve cuidar de parecer que o é”. Novamente pensou Xavier, meu querido anel...
        A história fecha-se como um círculo, e acaba alguns dias depois de começada. A primeira pessoa a quem Xavier levou a fala estava a beira da morte, e vendo Xavier perto da cama, reconheceu o amigo, e falou-lhe com a voz trêmula: “ Cá vou, meu Caro Xavier, o cavalo xucro ou manhoso da vida deitou-me ao chão: se fui mau cavaleiro, não sei; mas forcejei por parecê-lo bom ”. Xavier chorava. A frase não se prendeu a sua mente, pousou irônica em cima do cadáver, e com um risinho de escárnio... ainda fixou-se no cérebro de alguns amigos da casa , que recolheram esse legado caridoso do defunto. Adeus.




CÍCERO :                                                  
 - Nasica e Ênio
Nasica foi visitar o poeta Ênio e, perguntando por ele à entrada, uma escrava lhe disse que Ênio não estava em casa; Nasica, porém, percebeu que ela tinha respondido por ordem do seu amo e que este se encontrava em casa.


Poucos dias depois, Ênio foi à casa de Nasica e, perguntando por ele à porta, Nasica exclamou que não estava em casa.

Diz Ênio:
-O quê? Então não conheço a tua voz?

Responde Nasica:
-Tu és um sem-vergonha. 

Quando eu te procurei, acreditei no que disse tua escrava - que não estavas em casa -, e tu não acreditas no que eu mesmo digo!
- Diógenes e Alexandre
Diógenes, o cínico, assim respondeu a Alexandre, quando este lhe perguntou se precisava de alguma coisa:        

       
-Afaste um pouco do sol.                                         
Alexandre estava  fazendo sombra para Diógenes, que estava tomando sol.


ESOPO :
OS LOBOS E OS CORDEIROS
Alguns lobos queriam atacar um rebanho de cordeiros. Como não eram capazes de vencer os cordeiros, por causa dos cães que guardavam o rebanho, os lobos concluíram que seria preciso fazê-lo por meio de um ardil. 

Assim, enviaram embaixadores aos cordeiros para lhes pedir que entregassem os cães, dizendo que eram esses animais, na verdade, os responsáveis pela inimizade que existia entre eles, e que, se os cordeiros, não  provendo o que iria ocorrer a seguir, entregaram-lhes os cães.

 E assim os lobos venceram facilmente os cordeiros e destruíram todo o rebanho, uma vez que ele ficara indefeso.


 Assim também ocorre com as cidades que, entregando facilmente seus lideres, esquecem-se de que também elas estarão, rapidamente, nas mãos de seus inimigos.


O MACACO E O GOLFINHO  
É costume, para os que viajam pelo mar, levar consigo macacos e cachorrinhos de Malta, a fim de ter diversão durante a viagem. 

Assim, um homem que navegava trazia consigo um macaco. 

Quando chegaram ao cabo Súnio, o promontório da Ática, sobreveio uma violenta tempestade. 

O navio se revirou, todos tentavam salvar-se a nado, e o macaco também tentava nadar. 

Um golfinho, avistando-o e pensando que se tratasse de um homem, veio pôr-se sob o macaco e o susteve, transportando-o até a terra firme. 

Chegando ao Pireu, entreposto marítimo de Atenas, perguntou ao macaco se ele era de uma família ateniense. 

Como o macaco respondesse que sim, afirmando descender de antepassados ilustres da cidade, o golfinho perguntou-lhe então se ele conhecia o Pireu. 

O macaco, supondo que o golfinho se referisse a um homem, disse que se tratava de alguém que lhe era de fato muito querido, e com quem ele muito se dava. 

E o golfinho, revoltando-se com uma tal mentira, mergulhou o macaco na água e o afogou.


Esta estória se aplica aos homens que, desconhecendo a verdade, têm o costume de enganar os outros.
ZEUS E APOLO
Zeus: deus maior da mitologia grega, senhor dos céus e do Olimpo.


Apolo: um dos principais deuses da mitologia grega, filho de Zeus e Leto. Apolo é, entre outras coisas, o deus da luz, da profecia e da música, especialmente da lira; como deus guerreiro, tem o arco e a flecha como um de seus principais atributos.
Zeus e Apolo faziam uma disputa no tiro de arco e flecha. Apolo, retesando ao máximo a corda de seu arco, lançou sua flecha, e Zeus, num passo, avançou a perna tão longe quanto a flecha lançada por Apolo.
Eis o que ocorre àquele que luta contra adversários mais fortes: além de não atingi-los, ainda se expõe ao riso dos outros.


A TARTARUGA E A LEBRE

Uma tartaruga e uma lebre competiam para saber qual das duas era mais rápida. 

E assim, determinaram um dia e um local como baliza, e se separaram. 

A lebre, confiando na ligeireza que lhe é natural, não se preocupou com a corrida: deitou-se à beira do caminho e adormeceu. 

Já a tartaruga, consciente de sua lerdeza, não deixou de se apressar e, correndo à frente da lebre adormecida, chegou ao termo final e conquistou o prêmio da vitória.


Esta fábula demonstra que o esforço vence, muitas vezes, a natureza indolente.


A RAPOSA E O CACHO DE UVAS
Uma raposa faminta, vendo alguns cachos de uvas penderem de uma parreira, foi tomada pelo desejo de apanhá-los, mas não conseguiu atingi-los. Enquanto se afastava, ela disse para si mesma: “São apenas uvas verdes.”


Assim também ocorre com alguns homens que, graças à sua fraqueza, não sendo capazes de chegar ao fim de seus atos, acusam as circunstâncias que encontraram.


A RAPOSA E A MÁSCARA
Uma raposa entrou na casa de um ator, vasculhou cada um de seus utensílios e encontrou, entre outros objetos, uma cabeça de espantalho, perfeitamente modelada. 

Apanhando-a nas mãos, ela disse: “Oh, que cabeça! Mas não tem miolos.”

Esta fábula se aplica aos homens que são formidáveis de corpo, porém desprovidos de espírito.

FEDRO :
O LOBO E O CORDEIRO  
O lobo e o cordeiro tinham ido ao mesmo riacho, levados pela sede. 

O lobo estava mais acima e o cordeiro bem abaixo. 
Então o bandido, estimulado por sua goela insaciável, introduziu um motivo de briga:
— Por que — disse ele — sujaste a água que estou bebendo? Responde o lanígero: — Como posso, pergunto, fazer aquilo de que reclamas, lobo?

A água corre de ti para os meus goles.

O lobo, repelido pela força da verdade, diz: — Seis meses atrás tu falaste mal de mim. O cordeiro respondeu: — Mas eu ainda não tinha nascido.
— Por Hércules — diz o lobo —, o teu pai falou mal de mim. E assim, agarrando o cordeiro, o dilacera, num cruel assassinato.


Esta história foi escrita por causa daqueles homens que oprimem os inocentes com razões falsas.


O CÃO E O PEDAÇO DE CARNE
Quem cobiça o alheio, perde merecidamente o que é seu. 

Um cão, nadando pelo rio e levando um pedaço de carne, viu a sua imagem no espelho das águas. 

Julgando que fosse outra presa levada por outro cão, desejou agarrá-la. 
Mas a avidez enganada soltou o alimento que segurava na boca e nem ao menos pôde tocar naquele que cobiçava.


 A RAPOSA E A MÁSCARA TRÁGICA
A raposa vira, por acaso, uma máscara de tragédia .

“Ó quanta beleza”, disse, “não tem cérebro!”
Isto foi dito para aqueles aos quais a sorte (a fortuna) atribuiu honra e glória, (entretanto) tirou o senso (a razão) comum.”

Esta magnífica fábula nos propõe pelo menos dois aspectos da nossa realidade. 

O primeiro está relacionado à beleza. 

Geralmente, os homens querem uma namorada ou esposa, porém, esta tem de ser bela, de olhos azuis ou verdes de preferência. 

Entrementes, quando a conhecemos melhor, descobrimos alguns defeitos que prejudicam o relacionamento. 

Assistimos, assim, a muitos namoros ou casamentos se dissiparem com graves consequências para a vida dos dois. 

Por que, então, valorizamos a beleza exterior, enquanto deixamos de lado a interior? Quantas vezes não amamos uma mulher porque é feia de aparência ou pobre? No entanto, devemos, sobretudo, valorizar a pessoa no mais profundo do seu ser, bastando para isto ver com os olhos da alma, do coração e, não, com os da razão.

 Na verdade, o que importa é a essência, enquanto a aparência deve ser desprezada.

A raposa, que simboliza o ser humano, se depara com a máscara e sua beleza virtual e diz: O quanta Especies (“Ó quanta graça”), porém, observamos que somente existia o rosto deste objeto sem vida, o restante estava vazio, já que não havia cérebro: cerebrum non habet!. 

Poderíamos cotejar a máscara como se fosse aquela mulher belíssima de semblante que, no seu interior, só possui pobreza de espírito .


À lição de moral:  Isto foi dito para aqueles aos quais a sorte atribuiu honra e glória, porém tirou a razão comum.


O fabulista crítica os homens de seu tempo que possuem bens materiais e, por isto, adquiriram “honra” e “glória”, porém perderam a razão e vivem de aparências, mentiras e falcatruas, sendo que todos estes vícios são representados pela máscara à qual nos referimos. Estes homens são elementos que só pensam no poder e se esquecem dos outros como muitos políticos que conhecemos, atualmente. Para eles “a fortuna” tirou o “senso comum”  que é a virtude; e transformou-os em exímios demagogos.
A RAPOSA E A UVA

Coagida (impelida) pela fome, a raposa cobiçava o cacho de uva na alta parreira, pulando com todas as forças; como não pôde tocá-la, disse, afastando-se:
“Ainda não está madura: não quero apanhá(-la) verde (azeda)”


Moral: Os que diminuem com palavras, as coisas que não podem fazer, deverão aplicar para si este exemplo.


Fedro é, deveras, mavioso, extraordinário, admirável! 

Ele urde aspectos inerentes ao ser vivo, em suas fábulas, sobretudo, narrando as fraquezas humanas e suas questões mais vis.


Temos em  uma raposa, metáfora da pessoa maliciosa e astuta, enquanto a seria o escopo a ser alcançado por ela. 

Como podemos observar na tradução, este animal quando percebe que não conseguirá pegar aos saltos as uvas daquela alta parreira, automaticamente, retira-se com suas desculpas:  ( “Ainda não está madura; não quero apanhá(-la) verde”).  

Quantas pessoas, quando não atingem os seus objetivos, usam o mesmo artifício da raposa a fim de justificar a si próprio e aos outros um fato ocorrido? O nosso “querido” animal astuto se persuade com as suas palavras maliciosas e vai embora. 

Até hoje, depois de quase 20 séculos, Fedro continua atualíssimo, pois trata dos aspectos do ser humano que são perenes, fazendo-nos filosofar, discutir e questionar sobre assuntos do nosso cotidiano brasileiro e universal.
LA FONTAINE: 
O Lobo e o Cordeiro
Um cordeiro estava bebendo água num riacho. O terreno era inclinado e por isso havia uma correnteza forte. 

Quando ele levantou a cabeça, avistou um lobo, também bebendo da água.


- Como é que você tem a coragem de sujar a água que eu bebo - disse o lobo, que estava alguns dias sem comer e procurava algum animal apetitoso para matar a fome.

- Senhor - respondeu o cordeiro - não precisa ficar com raiva porque eu não estou sujando nada. 

Bebo aqui, uns vinte passos mais abaixo, é impossível acontecer o que o senhor está falando.


- Você agita a água - continuou o lobo ameaçador - e sei que você andou falando mal de mim no ano passado.


- Não pode - respondeu o cordeiro - no ano passado eu ainda não tinha nascido.

O lobo pensou um pouco e disse:
- se não foi você foi seu irmão, o que dá no mesmo.

- Eu não tenho irmão - disse o cordeiro - sou filho único.

- Alguém que você conhece, algum outro cordeiro, um pastor ou um dos cães que cuidam do rebanho, e é preciso que eu me vingue. 

Então ali, dentro do riacho, no fundo da floresta, o lobo saltou sobre o cordeiro,a garrou-o com os dentes e o levou para comer num lugar mais sossegado.


MORAL: A razão do mais forte é sempre a melhor

JUÓ BANINERE:
 O LOBO E O CORDEIRO
— Giuro, ó inlustre amigo,
Che isto tambê é invençó!
Perché é verdade o che digo,
Che nunca tive un ermô.


— Pois se non fui tuo ermó,
Cabemos con ista mixida;
Fui di certo tuo avó
Che mexê c'oa migna vida.
I avendo acussi parlato,
Apigó nu gorderigno,
Carregó illo p'ru matto
I comeu illo interigno.
MORAL: O que vale nesta vida é o muque!( A FORÇA COM VIOLÊNCIA)
 NELSON ASCHER :
Fábula
Nesta versão os lobos são os Nazistas.
Os cordeiros são os Judeus.


Segundo o cordeiro  quem matou cristo foi a loba romana, ou  seja, as autoridades romanas.

O  autor fez referência a fuga  do cordeiro , ao fato de que a maior parte dos países ocupados pelos nazistas ou seus aliados não terem agido para impedir a ação dos nazistas contra os judeus.



HISTÓRIA FILÓSOFICA :
 VOLTAIRE
– MÊNON OU A SABEDORIA HUMANA
O fragmento de Mênon ou Sabedoria Humana -
“Essa bela pessoa lhe contou , com o ar mais ingênuo e mais tocante, todo o mal que lhe causava um tio que ela não tinha: contou com que artifícios ele lhe tinha roubado um bem que ela nunca havia possuído”.


E na expressão “chega o tio do modo como se pode bem imaginar: ele estava armado da cabeça aos pés.” – o narrador sugere que a chegada do “tio” era inteiramente previsível e que fazia parte , na verdade , de uma estratégia de engano e coação criada por um casal de malandros ( a sobrinha e seu tio) para prejudicar Mênon.


Tendo em vista o seguinte comentário do gênio protetor: “é verdade que você será sempre caolho, mas, pondo-se isso de lado, você será bastante feliz, desde que não faça jamais o projeto tonto de ser perfeitamente sábio”
“Há se eu acreditarei nisso” – tudo está bem – “quando eu não for mais caolho”


Nesta fala final de Mênon faz uma afirmação irônica, cujo sentido é, na verdade, “eu jamais vou acreditar nisso” – na visão de que tudo está bem no universo.

HISTÓRIA  SENTIMENTAL:
 OSCAR WILDE
- O GIGANTE EGOÍSTA
A presença das crianças no jardim do Gigante permite que venha a primavera e brotem flores. 

Assim como as flores são o rebento das plantas, as crianças são o rebento da humanidade: um jardim pleno de flores é belo, assim como um mundo cheio de crianças felizes.


No final do conto nos induz a pensar que o menino que vem buscar o Gigante é Jesus.


“... essas são as feridas do  Amor” e “hoje você virá comigo ao meu Jardim , que é o Paraíso”.
Moral da história do gigante egoísta: é que as pessoas egoístas ficam sozinhas.
HISTÓRIA ANEDÓTICA:
 GUY MAUPASSANT
- O PRÍNCIPE FELIZ
O conto mostra que as crianças são mais imaginativas, sonhadoras  e, por isso , mais sensíveis à beleza e à bondade. 

Os adultos, mais preocupados com as evidências objetivas, perderam a capacidade de sonhar, de ver além da realidade observável.


O príncipe feliz tem a virtude da caridade.  Porque dá de si mesmo para o bem alheio. 

São exemplos de virtude os seus pedidos para que a Andorinha arranque-lhe as pedras preciosas e o revestimento de ouro para levar às pessoas necessitadas.


No início , a Andorinha deixa-se atrair por um amor, é precipitada e inconstante. 

Após conhecer o Príncipe, torna-se sua mensageira e, por consequência, converte-se também em personagem virtuosa que abdica até mesmo de sua vida em prol do bem-estar alheio.

Moral: É que as pessoas caridosas são desprezadas pelos gananciosos, mas acabam recompensadas pela justiça divina.


- DOIS AMIGOS
Sr Sauvage e Morissot  , são homens que desenvolvem uma forte amizade a partir de alguns gostos e comportamentos que têm em comum.

Pois se entendiam admiravelmente sem dizer coisa alguma, tendo gostos semelhantes e sensações idênticas. 

Pescando e curtindo a primavera onde isso lhes bastava para que se compreendessem e se estimassem.


Um final infeliz para os amigos, em poucos instantes , eles eram capturados, conduzidos , lançados num barco e transportados à ilha.
Nesse momento um soldado depositou aos pés do oficial a rede cheia de peixes, que ele tivera o cuidado de trazer.


O prussiano sorriu: ah! Ah! Vejo que a pescaria não ia nada mal. 

Mas se trata de uma outra coisa. Escutem-me e não fiquem perturbados. 

Para mim, os senhores são dois espiões enviados para me investigar.  Eu vou prendê-los e fuzilá-los.
“O oficial gritou: ‘fogo!’
Os doze tiros foram comum um só.

Sr Sauvage caiu em bloco sobre seu nariz.
Morissot , mais alto, balançou , girou sobre si e desabou atravessado em cima de seu camarada, com o rosto voltado para o céu, enquanto jorros de sangue irrompiam de sua túnica crivada no peito.”

“Dois soldados pegaram Morissot pela cabeça e pelas pernas; dois outros pegaram o Sr Sauvage do mesmo modo. 

Os corpos balançados com a força um instante, foram atirados longe , descreveram uma curva, e então afundaram, a prumo, no rio, as pedras arrastando consigo primeiramente os pés.  

A água espirrou , borbulhou, estremeceu, e então se acalmou, enquanto as pequeninas ondas que se produziram chegavam até as margens . um pouco de sangue flutuava.”


O oficial afirma: “Agora é a vez dos peixes!”
“faça-me imediatamente uma fritada com esses bichinhos, enquanto eles ainda estão vivos. Vai ser uma delícia”


O narrador procura sugerir , que a morte de seres humanos, é muitas vezes vista como uma simples banalidade entre adversários em guerra.


Boa leitura e interação com o mundo das letras.. se apaixone, viva intensamente .
  Com carinho Prof Dr Aldry Suzuki bjs

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