4.1.
Cuidados que contribuem para o êxito da narração
A
melhor arrumação consiste em senta-las em semicírculo, numa posição
descontraída, onde todas possam ver o narrador e o material a ser
apresentado sem forçar o pescoço.
Prefiro que os ouvintes fiquem sentados no chão. Mesmo arrumados, ainda assim
um acotovela o outro, mudam de lugar. Se o narrador fica pedindo silêncio ou
atenção possivelmente a história acaba
antes de começar. Então no começo costumo cantar com eles assim:
Agora
minha gente
Uma
história eu vou contar
Uma história bem bonita
Que
todos vão gostar
Ei
ei ei trá lá lá ei ei ei trá lá lá
Isso
exerce um efeito mágico. Era uma vez... a expectativa de emoção e emoção da
expectativa. A atenção se concentra e se fortifica. A emoção prepara e reforça
o aparelho receptivo. Quanto ao horário, toda hora é boa, menos a que antecede
de imediato, a refeição ou o sono, isto é, se a criança estiver com fome ou
sonolenta, não é recomendável contar-lhe histórias. Com fome é difícil
acompanhar a narrativa.Com muito sono, a criança logo adormece ou se mantém
acordada mediante um esforço, contraria as solicitações de seu organismo
naquele momento.
A
técnica evidencia a vantagem de contar-se na hora em que a criança esteja
bastante esperta para avivar-lhe a imaginação, facilitar a identificação e
dar-lhe o prazer inefável que a história proporciona, no sentido de que não
fique somente a divertir-se, chegue também no pensar e no assimilar.
Em
nenhum caso, o contador interrompe a narrativa. (O cartaz na porta). Se
acontecer um “penetra” adentro, confirma-se com um sorriso, uma palavra, um
gesto de assentimento. Na segunda hipótese, fixa o olhar na direção de que
interrompeu, sorri e com um gesto pede-lhe para aguardar.
Concluída
a narração, imediatamente pergunta-lhe o que estava querendo dizer ou indagar,
dando-lhe oportunidade de expandir-se. As crianças que interrompem com freqüência e mostram sinais de indisciplina são as que
mais necessitam ouvir histórias.
Há
um tipo de interrupção que acontece quando se começa a contar “há esta eu já
sei” é freqüente advertir: “não foi assim” – “eu sei de outra forma”
(chapeuzinho vermelho, por exemplo).
Chapeuzinho
Vermelho é um exemplo típico. Como sei que cada qual ouviu de uma forma,
pergunto-lhes, no início, o que o chapeuzinho levava na cesta
para a vovó: maça, leite, pão, manteiga, doce, biscoito, geléia. Pois
então, prossigo, chapeuzinho levava na cesta para a vovó... e coloco tudo o que
citarem. Desse jeito, não há quem não acompanhe a menina pela estrada afora...
Quando o lobo chega a casa da vovó, interrompe novamente e pergunto-lhes o que
aconteceu na história que ouviram antes:
“a vovó se escondeu debaixo da cama”; “dentro do armário”... “o lobo engoliu a
vovó”... e continuo deixando a vovó onde eles preferem, na maioria das vezes na
barriga do lobo. Chapeuzinho chega encontra o lobo na cama da vovó e os convido
a fazer comigo o célebre diálogo... eu faço a vez de chapeuzinho a eles, a do
lobo:
-
Vovó, para que estes olhos tão grandes?
-
Prá te olhar melhor minha netinha (arregalam bem os
olhos)
-
Prá que estas orelhas tão grandes?
-
Prá te “orelhar” (risadas)
E assim chegamos à ultima pergunta:
-
Pra que esta boca tão grande, vovó?
-
Pra te comer. (cada qual abre uma boca bem grande)
E o final da história, segundo a versão que
conhecem, será como preferirem, desmistificando-se o medo do lobo. É
divertidíssimo!
(Coloca-se a vovó no armário em vez de
engolir; E se engoliu a vovó, depois de tira-la coloca-se pedra dentro da
barriga do lobo e joga-o no rio...)
Esta história do Chapeuzinho tem várias
formas de ser contada, depende de seu público.
A força da história é tamanha que
narrador e ouvintes caminham juntos na trilha do enredo e ocorre uma vibração
recíproca de sensibilidade, a ponto de diluir-se o ambiente real ante a magia
da palavra que comove e enleva. A ação se desenvolve e nós participamos dela,
ficando envolvidos com os personagens, mas sem perder o senso crítico, que é
estimulado pelos enredos.
Por
isso – e ai vai mais um segredo – o narrador deve estar consciente de que
importante é a história, ele apenas conta o que aconteceu, emprestando
vivacidade à narrativa, cuidando de escolher bem o texto e recriando-o na
linguagem oral, sem as limitações impostas pela escrita. A história é que
sugere o melhor recurso de apresentação, sugere inclusive as interferências
feitas por quem a conta.
É gostoso quando contamos a eles dizem:
·
Eu gostei. Pensei que fosse boba.
·
Eu gostei! Fiquei até com pena de acabar.
·
Quando você vai contar outra?
·
Que jóia !!
·
Que história linda!
·
Ela não devia ter ido com o príncipe..
·
Devia sim. Ela ficou mais feliz
Há professores que pensam que não têm jeito para contar uma história. Se
experimentarem, descobrirão qualidades novas em si mesmas, reacendendo a
própria criatividade, o que as incentivará a modificar a prática de ensino,
obtendo resultados positivos. Há quem conte histórias para enfatizar mensagens,
transmitir conhecimentos, disciplinar, até fazer uma espécie de chantagens –
“se ficarem quietos, conto uma história”, “se isso”, “se aquilo” – quando o inverso
é que funciona.
A história aquieta, serena, prende a atenção, informa,
socializa, educa. Quando menor a preocupação em alcançar tais objetivos
explicitamente, maior será a influência do contador de histórias. Compromisso
do narrador é com a história, enquanto fonte de satisfação de necessidades
básicas das crianças. Se elas as escutam desde pequeninas, provavelmente
gostarão dos livros, vindo a descobrir neles histórias como aquelas que lhe eram contadas.
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