autora: Aldry Suzuki
3.4.18 –
Resgate das Exigências
Não aprofundaremos aqui estes desdobramentos
operacionais, tendo em vista o fato de isto já ter sido feito em outro estudo
como o profº Celso dos S. Vasconcelos,
(1996). Comentaremos a seguir apenas alguns aspectos.
3.4.19 –
Questão do Respeito
Muitos problemas de indisciplina têm
origem na questão do desrespeito. Com freqüência, a indisciplina é uma manifestação de
coeficientes de poder não adequadamente equacionados; só que nossos alunos não
vão, evidentemente, levantar a mão e argumentar: ‘Professor, gostaria de pôr em
questão nossa relação, tendo em vista a percepção de que entramos num processo
de reificação, onde minhas potencialidades ontológicas e epistemológicas estão
sendo subestimadas”... Eles não conseguem verbalizar isto de uma maneira clara,
mas vão manifestar de alguma forma que as coisas não vão bem, como por exemplo:
querer sair a todo o momento da sala de aula, ficar conversando fora do
assunto, não fazer as lições, agredir o colega ou a professora, etc.
Diante da queixa da violência do
aluno, precisaríamos refletir: quer violência maior do que a negação da
esperança, a negação de um futuro melhor a que o aluno, especialmente das escolas públicas,
está submetido? Se quisermos enfrentar a questão da violência do aluno, com
certeza o caminho não é usar outra violência ou ser conivente com ela.
Enquanto o desrespeito do aluno,
normalmente, é explícito, o desrespeito do professor é camuflado, é sutil. E
esse desrespeito tem várias facetas. Uma delas
é o preconceito de classe. Na Escola pública, às vezes, no fundo o professor
não acredita naquele aluno simplesmente por sua condição social. Paulo Freire
diz que uma das coisas mais cruéis que o sistema nos ensina é de estar o cheiro do pobre. Aprende-se a
desconfiar do pobre, a detestar o pobre. Isso é muito complicado. Na escola
particular, este preconceito pode ocorrer de forma diferente, porque os alunos
pertencem a uma camada de maior poder
aquisitivo, sendo comum, inclusive, a tendência a tratar os professores como mais um empregado de casa: “Eu estou
pagando”. É necessário tentar superar, não deixar que o preconceito vicie a
relação. Ao contrário, temos de ganhar esses alunos, seja o menino da camada
popular, seja o menino da escola particular, já que estamos engajados num
projeto de transformação.
Relacionado ao preconceito anterior,
aparece o preconceito quanto às
possibilidades do aluno; o professor olha para o aluno e pensa: “Ah,
este acho que não vai”. É impressionante como isto está presente no cotidiano
da escola. Pesquisa feita por COLLARES e MOYSÉS (1996), na 1ª série do 1º Grau,
revela que os professores “acertaram” a previsão de reprovação dos alunos,
feita logo no início das aulas, em 80% dos casos. A pergunta que fica é :será
que “acertaram” ou condenaram os alunos logo no começo do ano? O
professor acertou ou os alunos foram “acertados” pela previsão dele?? Outras
pesquisas já mostraram isto: a expectativa do professor em
relação a seus alunos é decisiva em termos do sucesso ou fracasso que venham a
obter. Ora, esta descrença é uma profunda falta de respeito.
Outra falta de respeito: as faltas constantes do professor ou a falta de
tolerância para com os erros dos alunos. Sabemos que tudo isto é muito
complicado porque é preciso considerar a situação concreta do professor. É
necessário criar um clima de respeito também em relação a ele. Se o professor
vem de uma seqüência de desrespeito, fica difícil manter um relacionamento de
respeito para com os alunos. Lembrando aquele velho chavão “o professor
deve vestir a camisa da escola”, poderíamos completar insistindo que a
escola/mantenedores devem “vestir a pele
do professor”. Deve-se, portanto, criar um clima de respeito em
toda a escola.
3.4.20 –
Postura do Professor: Dialética da Interação Pedagógica
O que queremos??
Para onde queremos ir??
Com que tipo de disciplina sonhamos??
Diante do quadro caótico, corremos o risco de começar a despejar uma
disciplina passiva “como antigamente”. Seria esta a saída??
No pólo oposto, podemos abrir mão de qualquer preocupação, procurando nos
acostumar com o que está aí, numa postura de “liberou geral”.
Evidentemente, entendemos que o
encaminhamento adequado não seria este.
O primeiro, por
se constituir numa onda nostálgica, a história, e os segundo, por significar uma autêntica demissão pedagógica.
Do ponto de vista das tendências pedagógicas, o primeiro posicionamento estaria
relacionado à chamada educação tradicional, e o outro, à
educação nova.
O que é relativamente difícil de
entender aqui é que cada uma destas tendências tem sua parcela de razão, tem um
núcleo de bom senso, só que, por não abarcar a totalidade do fenômeno
educativo, acaba distorcendo-o.
Uma das maiores dificuldades que
temos observado na busca de superação destas concepções de disciplina é a forma
de pensar linear, dicotômica, de cunho metafísico, em contraposição a uma forma
de pensar ligada ao movimento, à contradição, à totalidade, de cunho dialético.
Diante do fato de se apontar a
necessidade de direção por parte do professor (contribuição da concepção
tradicional0 e de participação ativa por parte do aluno (contribuição da
concepção moderna), encontramos as seguintes posturas, na perspectivas
dicotômica:
Ora, numa perspectiva dialética, o
que se propõe não é nem optar por uma das dimensões em detrimento da outra, nem
fazer uma média ou revezamento, mas manter a tensão dialética entre as duas,
resolvendo esta tensão em cada situação concreta, tendo em vista os objetivos
da proposta pedagógica e a realidade
concreta dos alunos. Poderíamos aqui questionar o senso comum: a
virtude está no meio ou na mediação??
O drama metafísico é o drama
shakespeariano: ser ou não ser, eis a questão. O drama dialético é o
seguinte: ser e não ser, eis a questão. A metafísica trabalha com
exclusão, enquanto a dialética trabalha com superação. A metafísica dicotomiza,
separa as coisas, enquanto a dialética percebe os opostos se exigindo
mutuamente. A nossa formação é muito metafísica. Ou é ou não é. Nós podemos
perceber como a realidade é e não é ao mesmo tempo. Ou seja, a realidade é
contraditória; nós somos contraditórios; o nosso aluno é contraditório; o meu
colega, o pai do meu aluno, a direção, a sociedade são contraditórios e assim
por diante.
E aqui vem, pois, uma questão muito
séria: justamente essa capacidade de articular as duas necessidades básicas do
processo educativo. A educação, para ser autêntico, precisa de direção, de orientação.
Contudo, ao mesmo tempo, precisa de liberdade e de espontaneidade. O
desafio é esse: quando estamos sendo ‘porto seguro’, temos de questionar:
“Até que ponto não deveríamos ser ‘mar aberto’, incentivar a participação do
grupo??. Quando estamos sendo “mar aberto”, precisamos manter a tensão:
“Até que ponto não teríamos de ser
“porto seguro”, amarrar, sistematizar, intervir”??. Manter essa tensão
interna é a arte do professor para enfrentar a questão da disciplina.
Gostaríamos muito de que houvesse uma receitazinha assim : 50 gramas de tal e
qual etc. Mas numa perspectiva dialética, não há. Ser dialético não é ficar
em cima do muro, nem é dar uma “dura” e
dar uma “alisada”. Manter sempre essa tensão é o grande desafio de hoje, para
que se possa administrar a disciplina na sala de aula.
A disciplina consciente e
interativa, portanto, pode ser entendida como o
processo de construção da auto-regulação do sujeito e/ou grupo, que se
dá na interação social e pela tensão
dialética adaptação-transformação, tendo em vista atingir conscientemente um
objetivo.(Disciplina )
3.4.21 –
Necessidade de Autoridade
Sem autoridade não se faz educação; o aluno precisa
dela, seja para se orientar, seja para opor-se (o conflito com a autoridade é
normal, especialmente no adolescente),
no processo de constituição de sua personalidade. O que se critica é
ao autoritarismo, que é a negação da verdadeira autoridade, pois se baseia
na coisificação, na domesticação do
outro.
Não existe autoridade “em si”: a autoridade se define
sempre em contextos históricos concretos. Entendemos que um primeiro grande
desafio para o resgate da autoridade do professor é, como apontamos
anteriormente, a necessidade de ressignificar o espaço escolar, ganhar clareza
sobre qual é de fato o papel da escola hoje, porque será justamente neste
espaço social que o professor deverá
exercer sua autoridade, que obviamente carecerá de sentido se a própria
instituição não consegue justificar sua existência. Um segundo desafio é o professor conseguir se refazer, se
reconstruir depois deste turbilhão todo a que foi – e ainda está – submetido.
Neste processo de resgate, o
professor deve buscar a legitimação da autoridade a partir do diálogo e da
firmeza de proposta. Ter coragem de questionar seus superiores, as normas e
exigências colocadas, exercer sua cidadania. É preciso que o professor
supere o medo de exercer a autoridade;muitas vezes, isto ocorre em
função do medo de entrar em conflito com os alunos, da eventual falta de apoio
da escola diante de algum confronto com os pais ou ainda de ser “problema” para
a escola.
A autoridade pedagógica é uma
prática complexa e contraditória, pois a autêntica autoridade leva em si sua
negação, qual seja, a construção da autonomia do outro. Podemos compreender
aqui autoridade no seu sentido mais radical e transformador, que é “a
capacidade de fazer o outro autor”. Em função disto, o professor deve viver
esta eterna tensão entre a necessidade de dirigir, orientar, decidir, limitar e
a necessidade de abrir, possibilitar, deixar correr, ouvir, acatar. Tal
contradição é constante e não pode ser anulada, apenas resolvida em diferentes
momentos, tendo em vista os objetivos do trabalho, sendo restabelecida logo em
seguida em outro patamar e contexto. O “drama” é sempre este: ser o “porto seguro e o “mar
aberto”.é preciso que fique entendido, no entanto, que não se trata
absolutamente de caminhar conforme “ os
ventos sopram”, de acordo com as pressões do ambiente.
Ser dialético não é isto, com muita clareza, os objetivos que se buscam,
para ter critérios de orientação para a tomada de decisão.
Prof Dr Master ReikianaAldry Suzuki
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