domingo, 9 de setembro de 2012

Dificuldades e Distúrbios na Aprendizagem XII RESGATE DAS EXIGÊNCIAS





autora: Aldry Suzuki

3.4.18 – Resgate das Exigências


Construir coletiva das normas da escola e da sala de aula.

Resgate do autêntico diálogo, que não é nem o “sermãozinho” particular, nem o  “passar a mão na cabeça” como se nada tivesse acontecido.

Trabalhar com sanções por reciprocidade, superando a punição autoritária, bem como o clima de impunidade.

Educadores (pais, professores etc.): estabelecer e cumprir limites.

Superar as normas equivocadas ou ultrapassadas.

Desenvolver uma metodologia participativa em sala de aula.

Entender o estudo como trabalho.

Valorizar e incentivar as organizações estudantis.

Compromisso do professor (dar o melhor de si, não faltar, etc.)

Criar clima de respeito na escola.

Conquistar e ocupar bem o espaço de trabalho coletivo constante na escola.

Aluno assumir a responsabilidade coletiva pela aprendizagem.

Aluno participar ativamente das aulas, expressar suas necessidades.

  Conquistar melhores condições de trabalho (salário digno, número de alunos adequado em sala de aula, diminuição da burocracia, material didático, instalação etc.)

  Família resolver os eventuais conflitos diretamente com a escola e não através do filho.

  Buscar para superação do clima de impunidade na sociedade.


            Não aprofundaremos aqui estes desdobramentos operacionais, tendo em vista o fato de isto já ter sido feito em outro estudo como o  profº Celso dos S. Vasconcelos, (1996). Comentaremos a seguir apenas alguns aspectos.


3.4.19 – Questão do Respeito


            Muitos problemas de indisciplina têm origem na questão do desrespeito. Com freqüência, a  indisciplina é uma manifestação de coeficientes de poder não adequadamente equacionados; só que nossos alunos não vão, evidentemente, levantar a mão e argumentar: ‘Professor, gostaria de pôr em questão nossa relação, tendo em vista a percepção de que entramos num processo de reificação, onde minhas potencialidades ontológicas e epistemológicas estão sendo subestimadas”... Eles não conseguem verbalizar isto de uma maneira clara, mas vão manifestar de alguma forma que as coisas não vão bem, como por exemplo: querer sair a todo o momento da sala de aula, ficar conversando fora do assunto, não fazer as lições, agredir o colega ou a professora, etc.

            Diante da queixa da violência do aluno, precisaríamos refletir: quer violência maior do que a negação da esperança, a negação de um futuro melhor a que o  aluno, especialmente das escolas públicas, está submetido? Se quisermos enfrentar a questão da violência do aluno, com certeza o caminho não é usar outra violência ou ser conivente com ela.

            Enquanto o desrespeito do aluno, normalmente, é explícito, o desrespeito do professor é camuflado, é sutil. E esse desrespeito tem várias facetas. Uma delas  é o preconceito de classe. Na Escola pública, às vezes, no fundo o professor não acredita naquele aluno simplesmente por sua condição social. Paulo Freire diz que uma das coisas mais cruéis que o sistema nos ensina é  de estar o cheiro do pobre. Aprende-se a desconfiar do pobre, a detestar o pobre. Isso é muito complicado. Na escola particular, este preconceito pode ocorrer de forma diferente, porque os alunos pertencem a uma camada  de maior poder aquisitivo, sendo comum, inclusive, a tendência a tratar os professores  como mais um empregado de casa: “Eu estou pagando”. É necessário tentar superar, não deixar que o preconceito vicie a relação. Ao contrário, temos de ganhar esses alunos, seja o menino da camada popular, seja o menino da escola particular, já que estamos engajados num projeto de transformação.

            Relacionado ao preconceito anterior, aparece o preconceito quanto às  possibilidades do aluno; o professor olha para o aluno e pensa: “Ah, este acho que não vai”. É impressionante como isto está presente no cotidiano da escola. Pesquisa feita por COLLARES e MOYSÉS (1996), na 1ª série do 1º Grau, revela que os professores “acertaram” a previsão de reprovação dos alunos, feita logo no início das aulas, em 80% dos casos. A pergunta que fica é :será que “acertaram” ou condenaram os alunos logo no começo do ano? O professor acertou ou os alunos foram “acertados” pela previsão dele?? Outras pesquisas já mostraram isto: a expectativa do professor em relação a seus alunos é decisiva em termos do sucesso ou fracasso que venham a obter. Ora, esta descrença é uma profunda falta de respeito. Outra falta de respeito: as faltas constantes do professor ou a falta de tolerância para com os erros dos alunos. Sabemos que tudo isto é muito complicado porque é preciso considerar a situação concreta do professor. É necessário criar um clima de respeito também em relação a ele. Se o professor vem de uma seqüência de desrespeito, fica difícil manter um relacionamento de respeito para com os alunos. Lembrando aquele velho chavão o professor deve vestir a camisa da escola”, poderíamos completar insistindo que a escola/mantenedores devem “vestir a pele  do professor”. Deve-se, portanto, criar um clima de respeito em toda a escola.


3.4.20 – Postura do Professor: Dialética da Interação Pedagógica


            O que queremos??

 Para onde queremos ir??

Com que tipo de disciplina sonhamos??

Diante do quadro caótico, corremos o risco de começar a despejar uma disciplina passiva “como antigamente”. Seria esta a saída??

No pólo oposto, podemos abrir mão de qualquer preocupação, procurando nos acostumar com o que está aí, numa postura de “liberou geral”.

            Evidentemente, entendemos que o encaminhamento adequado não seria este.

O primeiro, por se constituir numa onda nostálgica, a história, e os segundo, por  significar uma autêntica demissão pedagógica. Do ponto de vista das tendências pedagógicas, o primeiro posicionamento estaria relacionado à chamada educação tradicional, e o outro, à educação nova.

 O que é relativamente difícil de entender aqui é que cada uma destas tendências tem sua parcela de razão, tem um núcleo de bom senso, só que, por não abarcar a totalidade do fenômeno educativo, acaba distorcendo-o.

            Uma das maiores dificuldades que temos observado na busca de superação destas concepções de disciplina é a forma de pensar linear, dicotômica, de cunho metafísico, em contraposição a uma forma de pensar ligada ao movimento, à contradição, à totalidade, de cunho dialético.

            Diante do fato de se apontar a necessidade de direção por parte do professor (contribuição da concepção tradicional0 e de participação ativa por parte do aluno (contribuição da concepção moderna), encontramos as seguintes posturas, na perspectivas dicotômica:

  Optar por uma das partes em detrimento da outra: ou fica no pólo da direção do professor ou (exclusivo) da espontaneidade do aluno.

  Optar pelas duas partes fazendo uma espécie de “revezamento”: usa um pouco uma, um pouco outra, numa autêntica justaposição de posturas; vai de um pólo a outro por uma espécie de compensação(“curvatura da vara”): como foi muito duro com o aluno, agora vai ser bem liberal para “equilibrar”.

  Optar pelas partes, buscando fazer uma “média” entre elas: nem tanto a direção do professor, nem tanto a iniciativa do aluno.

  Ficar em crise e não saber o que fazer: imobilizar-se diante da constatação da existência das duas forças contraditórias na Educação.


            Ora, numa perspectiva dialética, o que se propõe não é nem optar por uma das dimensões em detrimento da outra, nem fazer uma média ou revezamento, mas manter a tensão dialética entre as duas, resolvendo esta tensão em cada situação concreta, tendo em vista os objetivos da proposta pedagógica e a realidade  concreta dos alunos. Poderíamos aqui questionar o senso comum: a virtude está no meio ou na mediação??

            O drama metafísico é o drama shakespeariano: ser ou não ser, eis a questão. O drama dialético é o seguinte: ser e não ser, eis a questão. A metafísica trabalha com exclusão, enquanto a dialética trabalha com superação. A metafísica dicotomiza, separa as coisas, enquanto a dialética percebe os opostos se exigindo mutuamente. A nossa formação é muito metafísica. Ou é ou não é. Nós podemos perceber como a realidade é e não é ao mesmo tempo. Ou seja, a realidade é contraditória; nós somos contraditórios; o nosso aluno é contraditório; o meu colega, o pai do meu aluno, a direção, a sociedade são contraditórios e assim por diante.

            E aqui vem, pois, uma questão muito séria: justamente essa capacidade de articular as duas necessidades básicas do processo educativo. A educação, para ser autêntico, precisa de direção, de orientação. Contudo, ao mesmo tempo, precisa de liberdade e de espontaneidade. O desafio é esse: quando estamos sendo ‘porto seguro’, temos de questionar: “Até que ponto não deveríamos ser ‘mar aberto’, incentivar a participação do grupo??. Quando estamos sendo “mar aberto”, precisamos manter a tensão: “Até  que ponto não teríamos de ser “porto seguro”, amarrar, sistematizar, intervir”??. Manter essa tensão interna é a arte do professor para enfrentar a questão da disciplina. Gostaríamos muito de que houvesse uma receitazinha assim : 50 gramas de tal e qual etc. Mas numa perspectiva dialética, não há. Ser dialético não é ficar em cima do muro, nem é  dar uma “dura” e dar uma “alisada”. Manter sempre essa tensão é o grande desafio de hoje, para que se possa administrar a disciplina na sala de aula.

            A disciplina consciente e interativa, portanto, pode ser entendida como o  processo de construção da auto-regulação do sujeito e/ou grupo, que se dá na  interação social e pela tensão dialética adaptação-transformação, tendo em vista atingir conscientemente um objetivo.(Disciplina )


3.4.21 – Necessidade de Autoridade


            Sem autoridade não se faz educação; o aluno precisa dela, seja para se orientar, seja para opor-se (o conflito com a autoridade é normal, especialmente no  adolescente), no processo de constituição de sua personalidade. O que se critica é ao autoritarismo, que é a negação da verdadeira autoridade, pois se baseia na  coisificação, na domesticação do outro.

            Não existe autoridade “em si”: a autoridade se define sempre em contextos históricos concretos. Entendemos que um primeiro grande desafio para o resgate da autoridade do professor é, como apontamos anteriormente, a necessidade de ressignificar o espaço escolar, ganhar clareza sobre qual é de fato o papel da escola hoje, porque será justamente neste espaço social que o professor deverá  exercer sua autoridade, que obviamente carecerá de sentido se a própria instituição não consegue justificar sua existência. Um segundo desafio é o  professor conseguir se refazer, se reconstruir depois deste turbilhão todo a que foi – e ainda está – submetido.

            Neste processo de resgate, o professor deve buscar a legitimação da autoridade a partir do diálogo e da firmeza de proposta. Ter coragem de questionar seus superiores, as normas e exigências colocadas, exercer sua cidadania. É preciso que o professor supere o medo de exercer a autoridade;muitas vezes, isto ocorre em função do medo de entrar em conflito com os alunos, da eventual falta de apoio da escola diante de algum confronto com os pais ou ainda de ser “problema” para a escola.

            A autoridade pedagógica é uma prática complexa e contraditória, pois a autêntica autoridade leva em si sua negação, qual seja, a construção da autonomia do outro. Podemos compreender aqui autoridade no seu sentido mais radical e transformador, que é “a capacidade de fazer o outro autor”. Em função disto, o professor deve viver esta eterna tensão entre a necessidade de dirigir, orientar, decidir, limitar e a necessidade de abrir, possibilitar, deixar correr, ouvir, acatar. Tal contradição é constante e não pode ser anulada, apenas resolvida em diferentes momentos, tendo em vista os objetivos do trabalho, sendo restabelecida logo em seguida em outro patamar e contexto. O “drama” é  sempre este: ser o “porto seguro e o “mar aberto”.é preciso que fique entendido, no entanto, que não se trata absolutamente de caminhar conforme  “ os ventos sopram”, de acordo com as pressões do ambiente.

Ser dialético não é isto, com muita clareza, os objetivos que se buscam, para ter critérios de orientação para a tomada de decisão.
Prof Dr Master Reikiana
Aldry Suzuki

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