Autora:Aldry Suzuki
II.4 –
DISTÚRBIOS DA VOZ
Voz é a emissão de sons
manifestada no ser humano em resposta aos estímulos auditivos sócio-culturais,
atuando integradamente num processo articulatório (fala) e simbólico(linguagem)
responsáveis pelo ato de comunicação
humana.
Os distúrbios de voz que possam
alterar qualquer qualidade vocal (sonoridade, projeção, clareza, audibilidade,
ritmo, timbre, colorido e dicção) são chamados de disfonias.
As disfonias são classificadas, de
uma forma geral, em funcionais e orgânicas.
As funcionais são as disfonias
decorrentes de alterações da voz sem que haja alterações estruturais dos órgãos
vocais, enquanto as orgânicas estão associadas a presença destas alterações.
A respeito das disfonias,
abordaremos as que estão relacionadas com a faixa etária do pré-escolar, ou
seja, as disfonias infantis que geralmente estão enquadradas numa classificação
funcional podendo, contudo, apresentar causas orgânicas.
As disfonias funcionais infantis
resultam de um mau uso da emissão vocal, geralmente provocado por uma má
coordenação fono-respiratória é um abuso vocal desencadeado pelos seguintes
fatores:
#distúrbios
emocionais da criança gerando uma necessidade de ser ouvida, refletindo um
quadro de ansiedade e agressividade liberadas na emissão vocal. Esta criança
apresenta freqüentemente,um quadro de hiperatividade resultando numa disfonia
funcional hipercinética,.Esta disfonia hipercinética apresenta um distúrbio anatômico provocado por um
transtorno da função, que poderá produzir nódulos vocais, ou mais
especificamente o “nódulo do grito” (típico da criança), que com o passar do
tempo poderá tornar-se um nódulo duro, que não mais desaparecerá.
Por outro lado, podemos encontrar a
criança com uma disfonia funcional hipocinética que e a apresentada pela
criança hipoativa e introjeitada.
Em ambos os casos e importante o papel da família perante esta
criança, assim como o seu perfil psicológico, pois é fundamental a sua
participação no processo terapêutico, através de conduta modificada a partir de
uma orientação harmoniosa do psicólogo e do fonoaudiólogo.
# Condições ambientais devido a uma possível convivência com ruídos
excessivos (poluição sonora) e contatos freqüentes com portadores de
deficiência auditiva.
# Respiração bucal proveniente de obstrução das vias respiratórias
acarretando uma diminuição da resistência da laringe.
É importante deixar bem claro que a criança submetida a uma cirurgia de extirpação de nódulo vocal, seja submetida
a um tratamento fonoaudioógico, para não haver
recidivas.
As disfonias orgânicas podem ser
conseqüentes a disfonias funcionais que não foram tratadas e evoluíram para um
quadro com alteração estrutural dos órgãos vocais. Além desse fator, as
disfonias orgânicas infantis podem ser causadas por:
#anomalias
congênitas tais como: intercordais, laringo-malacia, displasias laringicas,
etc...
#doenças
adquiridas como por exemplo, os papilomas.
Finalmente, devemos considerar que a
criança que grita muito, fala bastante alto e apresenta outras alterações na
qualidade de sua voz, não o faz por exibicionismo, mas sim em resposta a um
meio social que não permite que ela seja ouvida.
A – PROBLEMAS DE FONAÇÃO
A voz é um instrumento que o homem maneja à vontade.
Pequenas mudanças em suas características (cadência, inflexão, intensidade,
timbre ou tom) são suficientes para exprimir desejos, sentimentos e
necessidades.
Em certas circunstâncias, porém,
esse domínio quase absoluto pode ser abalado, afetando todo o mecanismo de
produção de sons e impedindo, portanto, que a expressão verbal se manifeste de forma adequada.
O problema de fonação ou disfonias,
(são considerados os órgãos periféricos). Se houver comprometimento do sistema
nervoso central, o distúrbio será orgânico.
A criança, a disfonia funcional
geralmente é conseqüência de falta de harmonia e segurança no lar (fator
psicológico): as que gritam muito têm a
voz alta e rouca; as que são manhosas e mimadas têm a voz anasalada; é soprosa a voz da criança tímida;
infantilizada a voz da criança que imita o irmão menor ou tem incentivo dos
pais para falar dessa maneira.
A chamada voz em falsete
é um distúrbio de fonação dos mais comuns. Caracteriza-se pelo timbre elevado,
às vezes com um certo tom de choro. Costuma acontecer com os meninos, na época
da adolescência , quando iniciam a mudança de voz.
A causa dessa disfonia é a contração exagerada do músculo cricotireóideo
“ ou a diminuição de tensão do músculo tireoaritnóide”, ambos da laringe. Se
for bastante acentuada na adolescência, a voz em falsete gera muita ansiedade.
Quando não é corrigida a tempo, pode perdurar por muitos anos.
Já a afonia é um problema de
voz que em geral acontece com as meninas e
a começar com uma rouquidão e evoluir até chegar o desaparecimento total
da voz, mas a articulação permanece inalterada. Esse distúrbio também se grava
na adolescência e pode manter-se indefinidamente.
Os problemas de fonação podem
apresentar-se acompanhadas de pronúncia defeituosa de alguns sons, como M em
vez de b, n em vez de d. No caso de
haver anomalias no céu da boca, os sons sibilantes sempre são prejudicados.
A chamada voz monótona
é uma disfonia de origem orgânica, causada por doenças no sistema
nervoso central. Caracteriza-se pela incapacidade de reflexão e pode surgir
Junto com um enfraquecimento da capacidade auditiva costuma acontecer também em
crianças que imitam um adulto, por acaso
portador da anomalia.
Na escola, o professor deve lidar
com os problemas de fonação através de métodos simples, que proporcionem à criança oportunidades de
dominar situações, e, dessa forma, adquirir maior segurança em si mesma. Nesses
casos,os jogos recreativos e atividades artísticas são bastante eficientes.
B -
DISTÚRBIOS DE RITMO
Os distúrbios de ritmo (ou
disfluências), segundo Spinelli, “referem-se à fala produzida com repetições de
sílabas, palavras ou conjunto de palavras, prolongamentos de sons, hesitações e
bloqueios – dificuldades para prosseguir a emissão de sons, mantendo-se
contração muscular inicial”. Mas os desvios de assunto em uma conversa e a
desorganização de relatos também podem ser agregados as disfluências.
Os distúrbios de ritmo às vezes são
identificados como gagueira, principalmente por leigos. Na verdade, existem
diversos tipos de alteração de fluência, sendo a gagueira apenas um deles
(alguns gagos, inclusive, não apresentam disfluência).
Muitas crianças, durante o
desenvolvimento da fala, apresentam repetições e hesitações sem que haja consciência
do fato, nem manifestações sugestivas de dificuldades congênitas para a linguagem. Tais casos são considerados
fisiológicos e costumam ocorrer entre 2 e 4 anos.
As disfluências patológicas
acontecem por dificuldades perceptivomotoras ou por falhas lingüísticas,
presentes em casos de disfunção cerebral mínima, paralisia cerebral e
deficiência mental. Aparecem em determinada etapa do desenvolvimento da
linguagem, quando a extensão das emissões se amplia.
As disfluências de origem emocional
estão ligadas a distúrbios de personalidade e a conflitos nas relações
afetivas. As que resultam de fortes traumas ocorrem em crianças e adultos,
enquanto que as de instalação abrupta são quase que exclusivas de faixas
etárias abaixo de 8 anos.
C – GAGUEIRA
A gagueira ou tartamudez é uma
das principais formas de disfluência cujo inicio mais freqüente entre os
estágios da puberdade.
Como quase todos os outros
distúrbios da linguagem, ela atinge mais o sexo masculino que o feminino: para
cada dois meninos gagos, há apenas uma menina afetada pelo distúrbio. Entre os
adultos à proporção é de dez homens para cada duas mulheres.
Na opinião de alguns autores,
deveria haver uma diferenciação entre gaguejar, balbuciar e atropelar palavras;
mas a maioria não faz tal discriminação.
Todos concordam, no entanto, que a
gagueira consiste num distúrbio do fluxo e do ritmo normal da fala que envolve
bloqueios, hesitações, prolongamentos e repetições de sons, sílabas, palavras,
ou frases. Faz-se acompanhar freqüentemente por tensão muscular, rápido piscar
de olhos, irregularidades respiratórias e caretas.
A repetição de sílabas e palavras –
“ ma, mamãe, mamãe” – costuma acontecer na época do início da fala. Sentindo
dificuldade para achar o que vai ser dito, as crianças, principalmente quando
excitadas, acabam repetindo palavras até encontrar uma saída. Mas essa
característica desaparece à medida que sua linguagem evolui e elas se acostumam
à verbalização. Nesse caso, o problema é quase sempre passageiro, considerado
uma ocorrência normal do aprendizado.
A gagueira é patológica, quando se
observam emissões do tipo “m – m – mãe, ma – ma – mãe “, em que há repetição,
prolongamento ou interrupção dos sons que iniciam a palavra.
No momento em que se dá a pronúncia,
ocorrem contrações no aparelho fonador e na musculatura de diversos setores do
corpo. Em conseqüência, o rosto se contrai, os lábios ficam esticados e, ao
tentar se expressar, a criança repete os sons. Em alguns casos, ela intercala
entre uma palavra e outra expressões curtas – “é, ah” – que não têm significado
algum na frase, mas ajudam a ganhar tempo.
A gagueira pode ser contínua ou
surgir apenas em determinadas situações que sensibilizam bastante a criança.
Muitos gagos falam com fluência quando estão sozinhos ou quando cantam. Outros
também ficam livres do distúrbio ao adotar determinada postura, fazendo até um
verdadeiro ritual: colocam a mão no bolso, apertam alguma parte do corpo
(orelha, cabeça), esfregam as mãos ou inclinam a cabeça.
Os erros típicos da gagueira são
freqüentemente acompanhados por sintomas secundários, tais como: caretas,
sapateado, arquejo, pesadelos e outras atitudes estranhas que nada têm a ver
com a produção da fala. Esses sintomas aparecem à medida que aumenta a
gravidade do distúrbio. De acordo
com as pesquisas, isto nada mais é que o medo de gaguejar. Assim, o
gaguejar é reforçado por si mesmo.
Existem diferentes maneiras de
classificarmos a gagueira:
#Quanto aos movimentos:
# Quanto à pronúncia:
# Quanto ao aparecimento:
# Quando a emoção:
D - ORIGEM
DA GAGUEIRA
Esse distúrbio de ritmo não apresenta
uma origem bem definida. Há
várias teorias a respeito, cada uma tentando isolar um ou alguns fatores
como causas.
As concepções mais antigas salientavam os fatores orgânicos, como a hereditariedade e a falta de preponderância
de um hemisfério cerebral; mas atualmente, o distúrbio já é definido como uma
anomalia de causas múltiplas, que predispõem, determinam, desencadeiam ou
agravam o quadro clínico.
Os tipos de prova apresentadas em apoio à etiologia orgânica da gagueira
são:
- A incidência do distúrbio em família de gagos é
muito maior do que nas famílias de não gagos, sugerindo uma acessível base
genética.
- A gagueira é mais freqüente entre pessoas que usam
a mão esquerda e entre pessoas também canhotas mas que mudaram sua
preferência original ( prova usada para apoiar a concepção da ausência de
hemisfério cerebral dominante como causa da gagueira).
- Tem numerosos componentes ou concomitantes
fisiológicos.
- Está associada a nascimentos múltiplos
(gêmeos) e a prematuridade.
- Entre os gagos há uma incidência maior de
distúrbios do sistema nervoso central.
Ainda no aspecto orgânico, várias
teorias afirmam que a gagueira é causada por perturbações locais do aparelho
fonador. As mais recentes supõem que o freio da língua muito curto ou muito
longo seja o responsável pelo distúrbio.
As teorias neurológicas
destacam, como possíveis causadores da gagueira, os traumas de nascimento
(acidentes de fórceps), as infecções por ancefalites ou moléstias infecciosas,
como a meningite, e as epilepsias.
A teoria glandular salienta
que o distúrbio provém do aumento ou diminuição da função das glândulas sexuais
e da supra-renal.
Mas a gagueira também pode ser
atribuída a causas funcionais. Dentre elas destacamos:
O problema varia
em função de fatores situacionais, como a perda de um ente querido, um acidente
ou quando a pessoa é severamente repreendida.
A gagueira tem
profundos componentes emocionais.
Na maioria das vezes,
desenvolve-se nos períodos em que a criança sofre considerável pressão social
(quando aprende a falar, quando entra na escola, na adolescência).
Os pais de
pessoas gagas em geral manifestam um padrão característico:
Perfeccionismo e
altos níveis de aspirações para seus filhos.
As teorias psicológicas
afirmam que, em quase todos os casos , o elemento desencadeador seria um
distúrbio emocional, quer como um conflito atual (stress ou crise), quer como
ansiedade em evolução, causada por conflitos progressivos.
E – FASES DA GAGUEIRA
Costuma-se distinguir duas fases
da gagueira: a primária e a secundária.
Na fase
primária, a criança ainda não está cônscia
de suas dificuldades de fala, apesar de manifestar bloqueios, hesitações
e repetições de sons ou palavras. Ocorre, na maioria das vezes, com crianças de
2 a 4 anos de idade, pois todas elas experimentam um certo grau de
não-fluência, já que estão aprendendo a falar. Elas gaguejam mas não sentem os
sintomas secundários de crescente tensão muscular, medo e esforço, que
caracterizam a fase secundária da gagueira.
As medidas que devem ser tomadas por
pais, professores e outros adultos, nessa fase da gagueira,devem ser indiretas,
sem manifestar preocupação com o desvio da fala em si. Deve-se procurar manter
a criança em boas condições físicas, proporcionando-lhe uma agradável e
repousante atmosfera familiar, com bons
modelos de fala. É importante também tentar desenvolver nela sentimentos de
adequação e autoconfiança, ressaltando suas aptidões positivas e minimizando as
suas deficiências.
As crianças com não-fluências devem
ser reconhecidas, mas aceitas como normais. Deve-se evitar dar-lhe a impressão
de que as outras pessoas ficam preocupadas ou ansiosas por causa disso. E mais
do que tudo não se pode humilhar, criticar ou castigar a criança quando ela
gagueja. Movimentando perto de cem músculos para pronunciar uma palavra, ela
não toma consciência da origem do erro.
Sendo ridicularizado, fica nervosa e gagueja mais ainda.
Nos primeiros anos, pode-se tentar
corrigir a gagueira obedecendo-se às seguintes normas:
Não criticar a
criança por sua dificuldade em falar.
Conversar mais
baixo e mais devagar com ela.
Matriculá-la
numa escola pré-primária, para que possa jogar, brincar, pintar, etc.
Na fase secundária, o indivíduo já
foi classificado por si mesmo e pelos outros como gago. Sente ansiedade ao
falar certas palavras e teme gaguejar,
temor que aumenta ainda mais a possibilidade de que ele gagueje.
Nesta fase é necessário ensinar ao
gago técnicas de respiração para
controle do ritmo da fala e da articulação de frases
O tratamento destinado a possibilitar
à pessoa que fale sem gaguejar consiste em ensina-la a articular
apropriadamente as sílabas e palavras e a construir gradualmente a sua
fluência. O procedimento corretivo tem a finalidade de desenvolver a tolerância
da gagueira, a dessensibilização emocional, a redução da ansiedade e a fala
controlada.
Acreditamos que a gagueira é mais um problema emocional do que da fala.
Assim sendo, seu tratamento é orientado mais no sentido da descoberta do
conflito que o gerou. Normalmente a criança gaga é sensível, emotiva e
insegura, necessitando de uma orientação especial no seu relacionamento.
Estímulos que
diminuem a gagueira
|
|
Auditivos
(quedas-d’água,
trem em movimento, música)
|
# impedem que a pessoa escute sua própria
boz, reduzindo a ansiedade;
# provocam o aumento de intensidade da voz,
fazendo com que a pessoa altere sua maneira de falar;
# “distraem” a pessoa de sua gagueira;
# fazem com que o gago fale mais devagar.
|
Rítmicos
|
# ajudam a regularizar a respiração;
# absorvem a atenção da pessoa fazendo com
que ela fale sob o efeito da distração ( ela só se preocupa em seguir o
ritmo)
# facilitam a sincronização dos movimentos
da fala, permitindo ao gago programar melhor as seqüências articulatórias.
|
Canto
|
# atenua a vocalização da consoante, foco de
maior dificuldade do gago;
# tem efeito rítmico;
# provoca mudança de tonalidade;
# altera a intensidade da voz;
# tem efeito relaxante.
|
Murmúrio
|
# simplifica e
coordena a respiração e a articulação, o que facilita a fluência pois o
problema do gago é falar e respirar ao mesmo tempo.
|
Mudança de
tonalidade
Baixar a
intensidade
|
# pode fazer com que a pessoa se esqueça da
gagueira porque fica absorvida em manter seu novo tom de voz.
# facilita a fluência e a pessoa pode
aprender a falar em tons sussurrantes
|
F – COMO LIDAR COM UMA CRIANÇA
GAGA
Os métodos de tratamento da gagueira variam desde os
exercícios respiratórios até a psicoterapia e a hipnose. No entanto, o objetivo
de todos é comum: fazer com que a pessoa fale de modo aceitável, em qualquer
situação em que o ato de se comunicar seja necessário.
Para a criança gaga, o papel dos
pais é muito importante, mesmo depois que entra na escola, pois nesse período
ela ainda está fortemente identificada com o lar. Sua ambientação escolar,
porém, dependerá muito da atitude do professor, que servirá de modelo para as
reações de outras crianças às manifestações do distúrbio, tanto na sala de aula
como no recreio.
Na classe, há varias formas de lidar
com um aluno gago:
Aldry Suzuki
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