autora: Aldry Suzuki
3.4.11-
Respeito e Exigência
A situação é delicada, pois o
professor precisa ser compreendido, precisa de “colo”, mas ao mesmo tempo deve
ser chamado às suas responsabilidades, ter coragem de se rever, de assumir a
parte que lhe cabe, se quiser superar esta infantilização a que foi submetido.
Um dos critérios para se definir uma profissão é que os sujeitos que a abraçam
possam ser responsabilizados pelo seu exercício.
O contexto está extremamente
difícil, complexo. No entanto, não devemos ver o professor através de uma
representação lamentavelmente muito
enraizada: como um “coitadinho”. Ele é um ser contraditório, como outro
qualquer. Ao levantarmos certas questões sobre a sua prática, corremos o risco
de sermos encarados como inimigos, como se estivéssemos contra ele: sente-se
culpabilizado pelo fracasso do aluno e da escola. É preciso, no entanto, falar
das responsabilidades e, neste campo, com certeza, o professor tem uma parcela,
ainda que absolutamente não exclusiva. É preciso falar de projeto, de
compromisso, de mudança da realidade. E aí, mais uma vez, o professor que ainda
não entregou os pontos tem uma importante contribuição a dar.
3.4.12 –
Responsabilidade
O restabelecimento dos objetivos e
dos limites é tarefa de quem? Podemos ter aqui mais uma grave fonte de desvios:
o famoso jogo do “empurra-empurra”. Quando se chega a este momento de ver o que
fazer, há uma tendência de ficar esperando que o outro resolva o problema. Cada
segmento tem suas queixas e
expectativas; se não forem devidamente explicadas e debatidas, podemos ficar
“patinando”, num desgastante processo de acusa-acusa, em vez de ajuda-ajuda.
Só a título de exemplificação, é
muito comum ouvirmos dos professores a queixa de que os pais não estabelecem
limites, não educam seus filhos com princípios básicos como saber se comportar,
respeitar os outros, saber esperar sua vez etc., no que estão normalmente
repletos de razão, já que muitas famílias não
estão objetivamente cumprindo sua função civilizatória básica . Por
outro lado, vemos também a queixa de pais que estão sendo chamados pela escola
para ouvir coisas do tipo: “Seu filho não está aprendendo; vocês precisam fazer
alguma coisa”..., como se a obrigação de ensinar fosse dos pais. Para termos
melhor idéia do que isto significa, pensemos no caso de a família levar o filho
a um médico e este, depois de examina-lo, chamar os pais e dizer: “Ele está
doente, precisa de alguém que entenda de saúde para poder ajuda-lo”... ora,
quem é o profissional da Saúde, senão o médico? E, de forma análoga, quem é o
profissional do ensino, senão o professor? Sabemos que estas afirmações podem
causar espanto, mas é só para demonstrar o paradoxo a que chegamos: a escola
sendo solicitada a fazer aquilo que seria obrigação dos pais, e os pais sendo
solicitados a fazerem o que seria obrigação da escola... Se alguém tem dúvida
disto, basta ver como estão progredindo as firmas de “aulas de reforço”... É
óbvio que por este caminho de acusa-acusa não iremos muito longe. Mesmo no
interior da escola, este problema também se manifesta na não menos famosa
“síndrome de encaminhamentos do aluno”...
Entendemos que o problema da
disciplina é tarefa de todos: sociedade, família, escola, professor e aluno.
Todavia não podemos ser ingênuos, pois, embora a tarefa seja de todos, nem todos estão
interessados em resolver o problema. O que fazer diante disso? Cruzar os braços
e esperar que o outro faça a parte dele, para fazermos a nossa? Não. Até porque,
se fizermos isso, nem teremos moral para cobrar do outro. Que atitude ter,
então? Uma atitude transformadora, ou seja
começamos tentando fazer a nossa parte, somamos com os aliados da luta e
vamos, ao mesmo tempo, cobrando que o outro faça a parte dele. É assim que
estamos entendendo esse processo de mudança: que cada segmento assuma suas
responsabilidades específicas – que são evidentemente diferentes – e exija que
os outros também assumam suas respectivas, enquanto todos se comprometem simultaneamente com a mudança das
estruturas que estão por trás do problema.
Sentimos necessidade de apontar para
a mudança de enfoque: em vez de culpa, é preciso falar de responsabilidade. A
culpa, por ser de “fora para dentro”, leva ao julgamento e à atitude de defesa,
de transferência, de procurar jogar novamente para fora, buscando outro
culpado; a preocupação maior acaba ficando em achar o culpado e não em resolver
o problema. A responsabilidade, por ser algo mais de “dentro para fora”,chama
para a ação, para o compromisso com a superação.
A sala de aula e a escola não estão
desvinculadas da problemática do resto da comunidade e da sociedade, porém
têm sua autonomia relativa.
De imediato, eu não tenho
condições de mudar as pessoas e/ ou o mundo; entretanto, de imediato, eu posso
mudar a maneira de me relacionar com as pessoas e com o mundo! Isto não é tudo,
mas é um passo importante e de minha responsabilidade!!
3.4.13 –
Perspectivas de Ação
O que fazer?? Voltamos agora à
pergunta inicial, só que melhor
equipados para poder responde-la. Antes, contudo, uma observação sobre a questão do discurso e da
prática.
3.4.14 –
Plasticidade do Discurso X Rigidez da Prática
Assusta muita esta coisa de como a
escola não muda, ou muda muito lentamente. O discurso educacional tem mudado
com uma velocidade incrível, mas prática... Um dia fomos tradicionais, logo
depois modernos e depois tecnicistas, depois libertadores, e
histórico-críticos, crítico-sociais do conteúdo, construtivistas,
socioconstrutivas, pós-construtivistas, co-construtivistas, interdisciplinares,
transdisciplinares, qualidade total, holísticos, etc. A cada dia é uma novidade
que chega. O que poderia representar um ganho, se fosse apropriado dentro de um
quadro de referência maior, com uma visão crítica etc., acaba-se tornando mais
uma moda... Esta incorporação no discurso é um desafio, pois tira o eventual
caráter transformador das idéias, já que não vem acompanhada de uma ética, de
um compromisso com a efetiva mudança da realidade. ?Sabemos que, muitas vezes,
isto pode até funcionar como estratégia de sobrevivência dos professores, ante
as exigências equivocadas das equipes diretivas: a direção ou coordenação sai
para fazer um cursinho de 40 horas e já
volta dizendo que “agora vamos seguir tal linha”...
Precisamos estar atentos a este maldito
formalismo na Educação: “Ah, agora é para fazer avaliação diagnóstica etc.?
Deixa com a gente”. Está tudo resolvido formalmente, contudo a prática continua
como antes...
O questionamento que poderia ser
proposto aqui é: será que precisamos de uma nova relação de idéias sobre
a realidade ou uma nova relação com as idéias e com a realidade? Tomar
algumas idéias, alguns princípios, acreditar, ir fundo , tentar colocar em
prática, refletir sobre os resultados, reformular etc., constituir uma
autêntica práxis pedagógica.
3.4.15 –
Sentido e Exigências
A partir da análise feita
anteriormente, fica patente que a tarefa de construir uma nova disciplina passa
pelo restabelecer o sentido para a escola, para o estudo, bem como pelo
restabelecer os limites. Só que aqui, em lugar de falarmos simplesmente de
limites, vamos falar de exigências, o que inclui os limites, mas também as
possibilidades, com freqüência esquecidas; isto é importante para não cairmos
numa disciplina meramente restritiva, do “não”, “não” e “não”.
Muito sinteticamente, apontamos a
seguir algumas possibilidades de os vários agentes contribuírem para a
construção de uma nova disciplina em
sala de aula e na escola.
3.4.16 –
Resgate do Sentido
3.4.17 –
Sentido para o Estudo
Entendemos que a questão do próprio
sentido do trabalho pedagógico é a contradição nuclear hoje na Educação. Se o
professor não acredita, se não vê o sentido do que faz, se diante daquela
pergunta do aluno: “professor, estudar para quê??”, não consegue dar uma
resposta, se o próprio professor não sabe o que está fazendo ali, todo o resto,
toda a elucubração sobre a necessidade de limites fica comprometida. Porque,
como vimos, o limite só tem sentido se for articulado a um objetivo. Então,
antes de saber para que estudar oração subordinada substantiva, o aluno tem de
saber para que estudar. Esse aspecto é da maior importância. O próprio
professor resgatar o sentido do trabalho. Pensar sobre a sua prática. “o que é
que estou fazendo aqui?? Eu acredito no que faço? E ter coragem de tomar uma
posição. Então, o primeiro ponto é o resgate do sentido da tarefa educativa: compreender
o conhecimento como instrumento de transformação. Resgatar o sentido
do conhecimento. Conhecer para quê? Par
poder compreender o mundo em que vivemos, para poder usufruir dele, mas
sobretudo para poder transforma-lo!! Isto implica o professor tanto se
compreender como sujeito de transformação, quanto ter clareza de que está participando da formação dos novos sujeitos
de transformação. A nosso ver, se não acreditamos na possibilidade de
transformação da realidade, não deveríamos estar no magistério, pois ser
professor é essencialmente acreditar na possibilidade desse vir-a-ser”.
Há o perigo de, diante da falta de
sentido, cairmos no jogo atual da competição: estudar para ser o melhor, para
passar na frente dos outros, para poder garantir o seu lugar. Ao invés de
caminharmos para a superação, reforçamos a lógica de exclusão.
É preciso apontar para a
possibilidade da escola como elemento de mudança das relações sociais, de tal
forma que se possa voltar a ter esperança de um futuro melhor. Ou será que a
escola nada pode diante de um”destino” previamente traçado para o aluno e para
a humanidade? É obvio que não de forma ingênua, como no passado, quando
acreditávamos na escola como “redentora da humanidade”, desvinculada do resto
da sociedade.
Com o avanço assustador das forças
produtivas, através da recente revolução da microeletrônica e d informática,
que permitem automação flexível, estamos
colocados diante de um desafio enorme: simplesmente recriar as formas de
organização do trabalho, as relações humanas, a cultura, uma vez que a as
condições para reprodução material da vida estão dadas potencialmente; todavia,
ao mesmo tempo, estão aprisionadas num modelo ultrapassado de organização
social, gerando uma contradição fundamental. Isto deve-nos remeter a solicitar o melhor de cada um e de
todos nós: usar o conhecimento, a criatividade para encontrar alternativas.
O professor – não o “dador” de aula
– trabalha com a produção do sentido. Hoje, diante do clima de perplexidade do
mundo, as pessoas estão procurando ansiosamente sentido para as coisas. É ,
portanto, o tempo por excelência do
autêntico conhecimento, do verdadeiro mestre e do estudo na sua
perspectiva radical.
Prof Dr Master Reikiana Aldry Suzuki
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