domingo, 9 de setembro de 2012

Dificuldades e Distúrbios na Aprendizagem IX INDISCIPLINA EM SALA DE AULA E NA ESCOLA







Autora : Aldry Suzuki

III –          INDISCIPLINA EM SALA DE AULA E NA  ESCOLA


            É um grande desafio que os educadores têm encontrado em relação à indisciplina em sala de aula e na escola, tanto na pública como também na particular, todavia com manifestações diversas.  Sabemos também que não se trata de um problema apenas brasileiro, apesar das pecularidades encontradas aqui; temos relatos por exemplo, de gangues estudantis que têm batido nos professores na França,São Paulo até em Barbosa...  do alto número de mortes públicas (brasileiras e americanas) fruto da violência, das conseqüências nefastas da rígida disciplina japonesa, levando ao suicídio e à falta de criatividade.

Esta questão tem ocupado um espaço cada vez maior do cotidiano escolar no País. É grande também a insatisfação daí decorrente, chegando até a se constituir em causa de abandono do magistério. Houve época em que a reclamação partia de professores da 5ª ou 6ª série; depois começou a vir dos de 3ª e 4ª , sendo que atualmente tem vindo até dos que lecionam na Pré-escola... Gostaríamos de deixar claro que não estamos generalizando, mas procurando apontar uma tendência, que é preocupante e precisa ser revertida.


3.1 - RUMORES DOS PROFESSORES


 A falta de interesse está muito grande. Os alunos estão dispersos, não respeitam mais o professor, estão vivendo em outro mundo. A tecnologia avançou demais e o professor infelizmente não acompanhou, ficou desinteressante para eles. Eles estão acostumados a apertar botão de videogame, de computador, a ver televisão e aí aparece o professor com apagador e giz... O professor não está conseguindo ter domínio, as aulas estão muito no passado, muito antigas. Os meios de comunicação ao invés de ajudar estão atrapalhando: programas muito violentos. Não está existindo liberdade com responsabilidade. As crianças de hoje são mais espertas do que antigamente. A família não tem colaborado; os  alunos vêm sem limites de casa. Geralmente há até conivência dos pais: o professor nunca tem razão. Há muitos problemas familiares. A própria família não sabe o que fazer; a mãe fala: ‘o que eu faço com ele? Vou matar?. A disciplina em sala de aula extrapola totalmente e aí não tem jeito, só se bater e bater não pode. Eu não sei o que fazer com a classe. Tem hora que dá vontade de bater em todo mundo. Ás vezes, o professor é completamente ignorado na sala de aula ; você entra e parece que não entrou ninguém. Por que se dá tanta regalia para os alunos e o professor é tão esfolado em sala de aula ? Como manter uma aula decente se você  não tem material pedagógico, não tem condições de trabalho, não tem nada? Você vai tentar punir o aluno, não pode porque a direção não deixa, o Estado não permite, os pais não permitem... Há também a indisciplina social. Há muita impunidade na sociedade: as pessoas fazem coisas e não acontece nada com elas. Falta perspectiva ao jovem: não sabe para que estudar. Aluno diz:’eu vou ser jogador de futebol, não preciso de estudo’.vai ganhar muito mais do que eu... às vezes, muitos de nós, profissionais da área, ficamos desmotivados pois o professor não ganha tão bem. O professor também se desmotiva: ‘Ah, para que eu vou mudar? Para  que fazer meu planejamento  assim? Ah, uso o do ano passado’. O que fazer quando aluno desrespeita muito o professor e depois diz assim:’não me amole que hoje eu já fumei maconha?’ Como explicar que a classe é disciplinada com determinado professor e não é  com outro? É preciso ver a postura do professor, o método que utiliza. Continuamos com métodos elitistas e arcaicos. O que é para nós disciplina? É a prática  do silêncio ? “

            Podemos perceber alguns focos da queixa: o aluno, seu desinteresse, decorrente da tecnologia a que tem acesso fora da escola; os meios de comunicação, a sua  influência negativa; a família, não cumprindo seu papel; a escola, que não apóia o professor; a sociedade, sua (des) organização; e, depois de um certo tempo, chega-se a colocar em questão a própria relação pedagógica.

            Só por este breve levantamento, podemos ver como o problema da disciplina está ligado a uma série de outras questões; não dá para falar de disciplina de uma forma isolada em relação à realidade maior.


3.2 -DIFICULDADE


            A questão da disciplina pede, para seu enfrentamento, a ajuda de um conjunto de áreas do conhecimento, como a Sociologia, Antropologia, Psicanálise, Ética, Política, Psicologia, Economia, História, Tecnologia, Comunicação Social, além dos próprios saberes  pedagógicos. Outro fato  as ser considerado é que a disciplina é apenas um aspecto do processo de educação escolar, que por sua vez também é extremamente complexo e exigente, uma vez que se trata de participar da formação, ao mesmo tempo, de trinta, quarenta ou mais sujeitos. Que outra atividade humana apresenta tal nível de dificuldade?

            O “único” problema do professor é que lê é um sujeito concreto – não é anjo, um ser abstrato -, que  trabalha com alunos também concretos, numa realidade concreta; se não fosse isto, tirando a concretude do real, seria superfácil ser professor, mas aí também não haveria necessidade de sua existência...

            Temos uma clareza: ser “mediador” de aula, “uma tia” que toma conta de aluno é fácil, mas ser professor, no seu sentido radical, não é fácil não. Por isto o professor precisaria ser muito bem formado (como os alunos do curso CND – IESDE)  e muito valorizado.




3.3 - PAUSA PARA REFLEXÃO (Limites e Possibilidades)


             De certa forma, o professor “já sabe” o que deve fazer: em algum momento de sua vida já ouviu falar ou vislumbrou uma possibilidade de como deveria agir. No entanto, muitas vezes, não o faz. Por quê?

a)      Não acredita mais profundamente, não está convencido:

Da proposta em si – não tem segurança de que seja o caminho certo;

Da eficácia da proposta – acha que talvez seja muito pouco em relação ao tamanho do problema, que não vai resolver.


b)      Não sabe como fazer; uma coisa é ter ouvido falar, outra é ter competência para colocar aquilo em prática.


c)      Não vê condições de fazer:

Seja efetivas (fruto de uma análise mais criteriosa da realidade);

Seja fruto de sua percepção, sem muita base no real.


            O fazer do sujeito depende do querer e do poder, que se relacionam dialeticamente, já que, por exemplo, o não ver possibilidade acaba diminuindo o desejo de fazer. O poder, por sua vez, tem uma base objetiva, que são as condições mínimas para a ação; e uma base subjetiva, que é o saber fazer. Há também aqui uma relação entre estas dimensões, uma vez que a base objetiva pode ser alterada justamente pela ação consciente do homem, portanto orientada pela base subjetiva.


            Qual seria, então, o papel da reflexão?

Procurar resgatar o professor como sujeito, seu desejo, projeto, sentido, querer;

Desmontar alguns mitos que funcionam como obstáculos epistemológicos;

Apontar alguns caminhos, alternativas, que estejam ao seu alcance (não algo “estratosférico”), em termos tanto de  processo, quanto de propostas de ação.

            O problema da indisciplina esta angustiando cada dia mais os educadores em geral e os professores em particular. A grande pergunta que está na cabeça de todos é: o que fazer? Embora esta questão seja da maior importância e deva ser respondida, entendemos que, outras duas devem ser enfrentadas: o que está acontecendo? É comum ouvirmos o seguinte: “já sabemos em qual é o problema, até porque o sofremos na pele. Queremos é solução”. No entanto, o que temos observado é que padecemos, mas não compreendemos o problema; no trabalho científico costuma-se afirmar que definir bem o problema é já ter 50% da solução...


3.4  - SINOPSE DA REALIDADE


            O que está acontecendo? Como entender a questão da indisciplina escolar? O que está por trás da manifestação do problema ?


3.4.1  - Tentar compreender o que está acontecendo

            Antes de mais nada, é preciso compreender que houve profundas mudanças na escola, na sociedade e nas suas relações. Parece difícil aos educadores darem-se conta disto. O saudosismo ou o espírito de acusação estão muito fortes no cotidiano da escola. Agredidos, procuram inconscientemente algum alvo onde possam descarregar suas mágoas, suas incompreensões...

            Sempre que pensamos em disciplina, logo nos vêm à mente as idéias de limites (restrição, frustração, interdição, proibição, etc.) e de objetivos (finalidades, sentido para o limite colocado). A nosso ver, a crise da disciplina escolar hoje está associada justamente à crise da disciplina escolar hoje está associada justamente à crise de objetivos e de limites que estamos vivenciando.


3.4.2 – Alteração de sentidos

            Do ponto de vista dos objetivos, há uma alteração geral de projetos, de sentidos para as coisas, em nível tanto mundial quanto nacional, tanto institucional quanto pessoal, tanto ideológico quanto sociopolítico-cultural. Há um sentimento generalizado de “geléia geral”, que se manifesta na desconfiança em relação à razão, no “fim da história” e das utopias, no “salve-se quem puder”, no “procure curtir ao máximo a sua vida já” etc...

            Na escola, esta crise se manifesta de muitas formas, mas com certeza uma das mais difíceis de enfrentar é a absoluta falta de sentido para o estudo por parte dos alunos. A pergunta “estudar para quê”, nos parece, nunca esteve tão forte na cabeça dos alunos como agora. A famosa resposta dada por séculos, “estudar para ser alguém na vida”, chega a provocar risos nos alunos, ante a clara constatação de inúmeras pessoas formadas, porém desempregadas ou muito mal remuneradas. Estamos vivendo a queda do mito da ascensão social através da escola !! Como entender isto ?? O esquema a seguir procura sintetizar  a mudança que ocorreu nos últimos anos:


CRESCIMENTO DOS DIPLOMADOS
   Aumento efetivo do número de vagas no 1º e 2º graus na Escola Pública
   Aumento efetivo do número de vagas no 3º grau na Escola Particular
MAIS ALUNOS FORMADOS
RESULTADO: Mais alunos com diploma na mão e desempregados!!!
QUEDA DA NECESSIDADE DE MÃO DE OBRA QUALIFICADA
   Concentração de renda
   Recessão
   Importação de tecnologia
   Robótica na indústria
   Informática nos serviços       
MENOS EMPREGOS


            Este sentido extrínseco ao processo pedagógico foi a tábua de salvação de muitos professores: os alunos não viam sentido no que estavam fazendo, mas tinham em mente a perspectiva de uma recompensa mais tarde. Este era o “projeto educativo” de milhares de educadores. Hoje, os alunos continuam não vendo sentido nas práticas de sala de aula, e não vislumbram mais um futuro promissor pela via do diploma. O professor que baseava sua autoridade neste mito está perdido. E, o que é pior, não tem conseguido articular outro sentido para o conhecimento, a escola, o estudo.

            A escola ficou protegida de suas contradições internas por muito tempo em função de sua relação de “parceria” com o mercado de trabalho. Esta motivação extrínseca – já que não estava ancorada na própria relação pedagógica – encobria e tornava “suportável” o que lá acontecia, tendo em vista o prêmio posterior (“Sofro agora, mas depois terei um bom emprego, serei alguém na vida”). Estamos diante do autêntico problema, que não é absolutamente novo, mas que agora – finalmente, nos parece – tem de ser enfrentado...

            Esta situação em que vemos muitos professores alienados, fazendo o que lhes mandam (“tenho de cumprir o programa”, “Tenho de dar tarefa, senão os pais reclamam” etc), não deveria nos surpreender, pois é justamente isto que a escola vai ensinando desde cedo aos seus alunos: obedecer sem questionar !! (e o professor foi aluno por muito tempo e para ter “sucesso” provavelmente teve de se submeter às regras do jogo). No atual momento, quando os alunos passam a se rebelar, alguns professores parecem meio indignados, traídos: “Ué, podia fazer isto?? Por que não fizemos no nosso tempo?? Por que obedecemos passivamente?? Por que engolimos os “sapos” ??”. Parece haver uma sutil inveja do professor em relação ao seu aluno, que agora contesta, questiona, busca o sentido das coisas...

            Este “estouro” do problema disciplinar na escola é, com certeza, um sinal, que precisa ser decodificado, entendido.


Prof Dr Master Reikiana Aldry Suzuki

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